quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Rm 1 Cuidado! Antes de Ler a Carta aos Romanos


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Introdução 

Se você deseja estudar a Carta de Paulo aos Romanos, é bom se prevenir. Mais do que qualquer outro texto das Escrituras Sagradas, seu conteúdo transformou a vida de muitos homens na história da igreja, trazendo grande impacto e profunda transformação nas gerações seguintes.
Se você deseja continuar, faça-o! Mas lembre-se, seu conteúdo é “perigosamente maravilhoso!”
Muitos líderes da igreja influentes, em diferentes séculos, dão testemunho do impacto produzido pela Epístola aos Romanos em suas vidas, tendo sido ela, em diversos casos, o instrumento para sua conversão.

Agostinho de Hipona (354-430)

No verão do ano 386, Santo Agostinho, então professor de retórica em Milão, ainda não convertido, Ali adquiriu o costume de ouvir, as pregações do Bispo Ambrósio. A mensagem atingia cada vez mais o seu coração. Começou a  apreciar a Bíblia e a entender que todo o Antigo Testamento é um caminho rumo a Jesus Cristo. Começou, então, a ler a Bíblia e sobretudo as Cartas de São Paulo e narra que, no tormento das suas reflexões, tendo-se retirado num jardim, ouviu uma voz infantil repetindo uma cantiga que nunca tinha ouvido: tolle, lege, tolle, lege, "toma e lê, toma e lê" (Confissões VIII, 12).
Ao tomar o manuscrito que estava ao lado do amigo, seus olhos caíram nestas palavras de Paulo: “A noite é passada, e o dia é chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz. Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo, e não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” (Rm 13.13,14).
Entendeu que esta palavra se dirigia a ele, e assim ele registra:

“Não li mais nada, e não precisei de coisa alguma. Instantaneamente, ao terminar a sentença uma clara luz inundou meu coração e todas as trevas da dúvida se desvaneceram” (Confissões VIII.29). Sentiu assim dissipar-se as trevas da dúvida e encontrou-se enfim livre para se doar totalmente a Cristo: "Tinhas convertido a ti o meu ser" (Confissões, VIII, 12).


Martinho Lutero (1483-1546)

Em Novembro de 1515, este monge agostiniano e professor de teologia, começou a expor a Epístola de Paulo aos romanos aos seus alunos, até setembro de 1516. Conforme preparava as lições, apreciava cada vez mais a doutrina da justificação pela fé: “Ansiava muito por compreender a Epístola de Paulo aos Romanos, e nada me impedia o caminho, senão a expressão: ‘a justiça de Deus’, por que a entendia como se referindo àquela justiça pela qual Deus é justo e age com justiça quando pune os injustos... Noite e dia refleti até que... captei a verdade de que a justiça de Deus é aquela justiça pela qual, mediante a graça e a pura misericórdia, Ele nos justifica pela fé. Daí por diante, senti-me renascer e atravessar os portais abertos do paraíso. Toda a Escritura ganhou novo significado e, ao passo que antes ‘a justiça de Deus’ me enchia de ódio, agora se me tornava indizivelmente bela e me enchia de maior amor. Esta passagem veio a ser para mim uma porta para o céu.” (Luther’s Work, edição de Weimar, vol. 54)

Esta Epístola é o mais importante documento do Novo Testamento, o evangelho na sua expressão mais pura”. Aos olhos de numerosos historiadores, o comentário à Epístola aos Romanos por Lutero, em 1516, foi o verdadeiro ponto de partida da Reforma. O momento decisivo na vida de Lutero foi a descoberta que a justiça de Deus, não como julgamento e exigências, mas dada por Deus através de sua graça. A justiça de Deus revelada em Cristo. As consequências desta nova compreensão tiveram grande repercussão na história.

Philip Melanchthon (1497-1560).

Foi um dos maiores colaboradores de Lutero e redigiu a “Confissão de Augsburgo” (1530). Em 1521 concluiu sua famosa obra Loci Communes (“Tópicos comuns” da Teologia), que é de fato uma explicação da Epístola aos Romanos que na sua visão fornecia o sumário da doutrina cristã. A dogmática luterana primitiva confundiu-se, na realidade, com uma dogmática da Epístola aos Romanos. Melanchton converteu-se no principal líder do luteranismo após a morte de Lutero e é considerado o primeiro sistemático da Reforma.

William Tyndale (1484-1536)

Este pastor protestante e acadêmico inglês, mestre em Artes na Universidade de Oxford foi profundamente influenciado pela carta de Paulo ao Romanos. Traduziu a Bíblia para uma versão inicial do moderno inglês. Seu objetivo era fazer o Novo Testamento um livro tal que "todo menino de arado" pudesse lê-lo e se tornasse mais conhecedor das Escrituras que o próprio clero. Apesar de numerosas traduções para inglês, parciais ou completas, terem sido feitas a partir do século VII, a Bíblia de Tyndale foi a primeira a beneficiar da imprensa, o que permitiu uma ampla distribuição.
Tyndale estudou as escrituras e começou a defender as teses da Reforma Protestante, muitas das quais eram consideradas heréticas, primeiro pela Igreja Católica que o perseguira e depois pela Igreja Anglicana. As traduções de Tyndale foram banidas pelas autoridades e o próprio Tyndale foi queimado na fogueira em 1536 em Vilvoorde (10Km a nordeste de Bruxelas), na atual Bélgica, sob a instigação de agentes de Henrique VIII e a Igreja Anglicana. Suas últimas palavras foram, "Senhor, abre os olhos ao rei da Inglaterra", o que de fato aconteceu anos depois.
Ele fez a seguinte declaração sobre Romanos:

“Visto que esta epístola é a principal e a mais excelente parte do Novo Testamento, e o mais puro Euangelion, quer dizer, boas novas e aquilo que chamamos de Evangelho, como também luz e caminho, que penetra o conjunto da Escritura, creio que convém que todo cristão não somente a conheça de cor, mas também se exercite nela sempre e sem cessar, como se fosse o pão cotidiano da alma. Na verdade, ninguém pode lê-la demasiadas vezes nem estudá-la suficientemente bem. Sim, pois, quanto mais é estudada, mais fácil fica; quanto mais é meditada, mais agradável se torna, e quanto mais profundamente é pesquisada, mais coisas preciosas se encontram nela, tão grande é o tesouro de bens espirituais que nela jaz oculto”.

João Calvino (1509-1564)

Teólogo francês, influenciou profundamente a Reforma Protestante. Foi inicialmente um humanista, e depois do seu afastamento da Igreja Católica, começou a ser visto, como uma das vozes mais influentes do movimento protestante. Vítima das perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça. Para muitos historiadores, ele foi para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã.
Calvino também foi profundamente influenciado pela Carta de Paulo aos Romanos, em 1539 escreveu:

“Se... conseguirmos atingir uma genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto uma amplissíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros das Escrituras”.

Foi explicando a Epístola aos Romanos, seu primeiro comentário bíblico (publicado somente em 1540), que Calvino preparou a segunda edição das Institutas da religião cristã (1539), formulando as principais teses da doutrina calvinista”.

John Wesley (1703-1791)

O coração de Wesley foi tomado por um fogo ao ouvir um estudo sobre a Carta aos Romanos. No dia 24 Maio de 1738, Wesley visitou a sociedade moraviana perto da Rua Aldersgate.  Ali experimentou a sua conversão, que ele descreveu no seu diário:

“Ao entardecer eu fui sem grande vontade a uma sociedade na Rua de Aldersgate, onde alguém estava a ler o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos. Cerca de um quarto para as nove, enquanto ele estava a descrever a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, eu senti o meu coração estranhamente aquecido. Eu senti que confiava em Cristo, somente em Cristo para a salvação; e uma certeza foi-me dada que Ele havia retirado os meus pecados, mesmo os meus, e me havia salva da lei do pecado e da morte.” (Works [1872], vol. 1)

Este momento crítico da vida de João Wesley, para muitos historiadores, foi o acontecimento que mais que todos os outros, deu início ao Avivamento Evangélico do Século XVIII.

Karl Barth – (1886-1968)

Teólogo reformado suíço considerado por alguns como o maior teólogo protestante do século 20. Sua influência expandiu-se muito além do domínio acadêmico, chegando a incorporar a cultura,  o que levou a Barth ser apresentado na capa da revista TIME em 20 de abril de 1962.
Barth rejeitou sua formação na teologia liberal predominante típica do protestantismo europeu do século XIX, bem como as tendências mais conservadoras do cristianismo, assumindo  a teologia dialética chamada posteriormente de neo-ortodoxia - um termo que rejeitou enfaticamente.
Barth enfatizou a soberania de Deus, particularmente através da reinterpretação da doutrina calvinista das eleições, do pecado da humanidade e da "distinção qualitativa infinita entre Deus e a humanidade". Suas obras mais famosas são a sua Epístola aos Romanos, que marcou um recorte claro de seu pensamento anterior, e seu enorme trabalho de treze volumes, a Igreja Dogmática, uma das maiores obras de teologia sistemática já escritas. O Papa Pio XII disse que Karl Barth foi “o melhor teólogo desde Tomás de Aquino”.
Em Agosto de 1918, publicou sua exposição da Epístola aos Romanos, e logo no prefácio escreveu:

“O leitor perceberá por si mesmo que este comentário foi escrito comum jubiloso sentimento de descoberta. A poderosa voz de Paulo era nova para mim e se o era para mim, certamente o será para muitos. Entretanto, agora que terminei minha obra, vejo que resta muita coisa que ainda ouvi”.

Alguém teceu a seguinte comentário: “Sua análise caiu como uma granada no pátio de recreio dos teólogos”.

Charles E. B. Cranfield (1915-2015)

Considerados um dos maiores professores de NT em todo mundo, serviu como Capelão do exército na Segunda Guerra Mundial, como pastor para prisioneiros de guerra antes de ensinar por 30 anos como professor emérito de teologia da Universidade de Durham, no Reino Unido.
É autor do famoso Comentário de Romanos “A Critical and Exegetical Commentary on the Epistle to the Romans”, e “On Romans and Other New Testament Essays” cujos dois volumes integram a impressionante série mundialmente conhecida como International Critical Commentary (Icc, com 52 volumes), da qual é um dos editores.
Em 1985 fez a seguinte declaração:

“Tendo-me empenhado muito seriamente com a epístola aos Romanos durante mais de um quarto de século, ainda a encontro sempre nova e não posso lê-la sem prazer. Minha mais séria esperança é que cada vez mais pessoas se comprometam seriamente com ela, e, ouvindo o que ela tem a dizer, encontrem no Deus fiel, compassivo e Todo-Poderoso, como que ela se preocupa, alegria e esperança, bem como força até nestes sombrios, ameaçadores e – para muitos – dias carregados de angustia, através dos quais temos que viver”.


John R. W. Stott (1921-2011)

Pastor e teólogo anglicano britânico, conhecido como um dos grandes nomes mundiais evangélicos. Foi um dos principais autores do pacto de Lausanne, em 1974. Em 2005, a revista Time o colocou entre as 100 pessoas mais influentes do mundo.
Durante muitos anos foi reitor da Igreja anglicana de All Souls, em Londres. Em  1994 escreveu um dos seus grandes trabalhos acadêmicos que foi o comentário da  Carta de Paulo aos Romanos. Ele afirma o seguinte sobre esta carta: “Ela é a mais completa, a mais pura e a mais grandiosa declaração do evangelho encontrada no Novo Testamento”.

Conclusão:
F. F. Bruce afirmou:

“Não é possível predizer o que pode acontecer quando as pessoas começam a estudar a Epístola aos Romanos. O que sucedeu com Agostinho, Lutero, Wesley e Barth acionou grandes movimentos espirituais que deixaram sua marca na história do mundo. Mas coisas parecidas com essas aconteceram muito mais vezes com pessoas bem comuns, quando as palavras desta epístola penetraram nelas com poder. Assim, aqueles que a lerem até esse ponto, estejam preparados para as consequências de prosseguirem na leitura. O leitor está avisado!”

Do ponto de vista doutrinário, é uma das mais ricas e a mais notavelmente estruturada. Calvino afirma “Esta epístola toda inteira é disposta metodicamente...  entre as muitas e notáveis virtudes, a epístola possui uma em particular, a qual nunca é suficientemente apreciada, a saber: se porventura conseguirmos atingir a genuína compreensão desta epístola, teremos aberto uma amplíssima porta de acesso aos mais profundos tesouros da escritura”.

Historicamente nenhuma carta exerceu igual influência; um teólogo protestante chegou a dizer que a história da Igreja se confundia com a da interpretação desta epístola. Não há como negar que este texto sempre ocupou um lugar privilegiado na história da exegese.

Sua interpretação desempenhou papel decisivo na vida destes grandes homens, conforme descrevemos acima, e particularmente em dois momentos cruciais da história da Igreja: No século V, quando Pelágio criou uma das grandes controvérsias sobre a gratuidade da salvação e no século XVI, quando se redescobriu a doutrina da Justificação pela graça.

O estudo desta carta é vital para a saúde teológica da igreja de Cristo. Todos os reformadores da igreja viam Romanos como sendo a chave divina para o entendimento de toda a Escritura.
Então, caso você decida estudar esta carta, esteja alerta, como nos adverte F. F. Bruce.

Rev Samuel Vieira.

domingo, 27 de outubro de 2019

A Arte do Contentamento

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Contentamento é um estado de  espírito, mais que o resultado de situações
favoráveis.
Nunca a sociedade humana teve tanto conforto, boas condições de
saúde, recursos pessoais e desenvolvimento humano como nesta geração, mas,
apesar disso, os índices de depressão, síndrome de pânico, ansiedade e suicídio
têm se tornado cada vez mais alarmantes. Nas décadas de 80 e 90 nos EUA, cerca
de 400 mil adolescentes suicidaram. Esse fato tornou o suicídio a segunda causa
mortis do País, depois dos acidentes de carro.

De acordo com informação publicada pela Revista Ultimato na edição de
janeiro/fevereiro deste ano, “o número de pessoas ‘doentes de tristeza cresce no
mundo e o Brasil está no topo desse ranking – somos campeões na incidências de
depressão e ansiedade.” Quando lemos algo do tipo ficamos alarmados e
rapidamente nos perguntamos: o que há de errado com a civilização?

Tenho um amigo amazonense, daqueles homens intelectuais de pé no chão,
profundamente ligado à cultura da terra e aos hábitos simples da população
ribeirinha. Certo dia ele fez a afirmação chocante de que nunca tinha visto doentes
mentais entre os moradores das palafitas. E segundo o meu amigo a explicação
seria simples: doenças mentais são um fenômeno urbano. 

Perdemos o contentamento! Perdemos o estado da alma que sente
satisfação, paz e serenidade. Não há terreno fértil para o contentamento diante da
competição social e do egoísmo humano e muito menos diante da nossa natureza
desgostosa, gananciosa. O ambiente que nos cerca propicia insatisfação, levando-
nos a desejar mais do que realmente precisamos.  “Compramos coisas que não
precisamos, com o dinheiro que não temos, para impressionar pessoas das quais
não gostamos”. A alma humana, insaciável, nunca diz basta. Os olhos nunca se
contentam. Apesar de ter muito, a alma continua vazia porque falta o essencial:
sentido e propósito profundo na existência.

 Contentamento não tem a ver com bens, nem com circunstâncias porque é
um estado da alma. Muitos se satisfazem com pouco, em um ambiente de singeleza
e alegria. Concomitantemente, outros se perdem no muito, com a alma inquieta e
desassossegada.

 Jesus percebeu a inquietação dos seus discípulos quando lhes perguntou:
“Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua
vida?”. Os evangelhos dizem que ele olhou para a multidão que o seguia, cansada,
como ovelhas sem pastor e os convidou: “Vinde a mim todos vós, que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós a minha canga, e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para
as vossas almas”. O verdadeiro contentamento é enraizado em Deus.

Rev Samuel Vieira

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O Olho da Fé


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"Ouvi falar de ti pela audição do ouvido - mas agora meus olhos te vêem !" Jó 42: 5

O que Jó quis dizer com essa expressão? Obviamente, suas palavras não devem ser entendidas literalmente. Não, empregando uma figura comum do discurso, ele quis dizer que as névoas da incredulidade (ocasionadas pela justiça própria) haviam sido dissipadas, e a fé percebia o ser de Deus como uma realidade gloriosa e viva. ("Meus olhos estão sempre voltados para o Senhor" Salmo 25:15), pelo que significa que sua fé estava constantemente em exercício. De Moisés, diz-se que "ele perseverou em ver aquele que é invisível" (Hebreus 11:27); isto é, seu coração foi sustentado pela fé sendo ocupada com o poderoso Deus.
A fé é frequentemente representada nas Escrituras sob a metáfora da visão corporal . Nosso Senhor disse sobre o grande patriarca: "Abraão, seu pai, se alegrou ao ver o meu dia - e ele o viu e se alegrou" (João 8:56), o que significa que sua fé aguardava o dia da humilhação e exaltação de Cristo. Paulo foi comissionado aos gentios para "abrir os olhos , para transformá-los das trevas em luz e do poder de Satanás em Deus" (At 26:18); ou, em outras palavras, ser o instrumento divino de sua conversão através da pregação a eles da Palavra de Fé. Para alguns de seus filhos errantes, ele escreveu: "Ó tolo Gálatas, que te enfeitiçou, para que você não obedeça a verdade, diante de quemolhos que Jesus Cristo foi claramente exposto, como crucificado entre vós "(Gálatas 3: 1).
Agora, o que desejamos destacar neste artigo é que, quando as Escrituras falam de fé sob a noção de visão corporal, seus escritores estavam fazendo algo mais do que se valer de uma figura de linguagem pertinente e adequada. O Autor das Escrituras é Aquele que formou o olho pela primeira vez, aquele órgão maravilhoso da visão e sem sombra de dúvida Ele o formou de modo a surpreendentemente adumbrar no visível o que agora desempenha um papel tão proeminente nas relações do cristão com o invisível . Tudo no mundo material reflete uma grande realidade no reino espiritual, como deveríamos perceber se tivéssemos apenas sabedoria suficiente para discernir o fato. Um amplo campo é aberto aqui para observação e meditação, mas agora nos limitaremos a um único exemplo, a saber, oolho do corpo - como simboliza a fé do coração .
1. O olho é um órgão passivo . O olho não emite uma luz por si mesmo, nem dá nada aos objetos que contempla. O que o olho pode se comunicar com o sol, a lua e as estrelas quando olha para eles! Não, o olho apenas recebe a impressão ou imagem deles na mente, sem acrescentar nada a eles.
O mesmo acontece com a fé - nada  a Deus, nem ao que vê na Palavra de Sua graça. Simplesmente os recebe ou os leva ao coração quando eles são apresentados à visão da alma à luz da revelação Divina. O que os israelitas mordidos comunicaram à serpente de bronze quando a olharam e foram curados? Tão pouco que nós adicionar a Cristo, quando nós "olhar" a Ele e são salvos (Isaías 45:22).
2. O olho é um órgão diretor . O homem que tem a luz do dia e os olhos abertos - pode ver o caminho e não é tão provável que tropeça em valas ou caia em um precipício como um cego ou que anda à noite.
Assim é com fé: "O caminho dos ímpios é como a escuridão, eles não sabem com o que tropeçam", mas "o caminho dos justos é como a luz brilhante, que brilha cada vez mais até o dia perfeito" (Provérbios 4:19, 18). Dos cristãos, diz-se que "andamos pela fé, não pela vista" (2 Coríntios 5: 7). Ao "olhar para Jesus" (a fé vê o nosso exemplo), estamos habilitados a correr a corrida que está diante de nós.
3. O olho é um órgão muito rápido , absorvendo as coisas a uma grande distância. Dentro de uma fração de momento, posso desviar meu olhar das coisas caídas no chão e focalizá-lo nas montanhas que estão a muitos quilômetros de distância; mais ainda, posso desviar o olhar das coisas da terra e subir entre as estrelas, e em um momento ver toda a extensão dos céus! Que maravilha é essa!
Igualmente maravilhoso é o poder da fé. É de fato uma graça míope, ocupando as coisas a grande distância, como fez a fé dos patriarcas, que viram as coisas prometidas "de longe" (Hebreus 11:13). Da mesma forma, em um momento a fé pode olhar para trás para um passado eterno - e ver as fontes eternas de eleger o amor, ativas em seu nome antes que os fundamentos da terra fossem lançados. E então, no mesmo fôlego, pode se voltar para uma eternidade ainda por vir, e ter uma visão das glórias ocultas do mundo celestial!
4. O olho, apesar de pequeno, é um órgão muito amplo . O homem que está de olhos abertos pode ver tudo o que vem com o alcance de sua visão. Ele pode olhar em volta e ver as coisas por trás, avançar e ver as coisas adiante, descendo sobre as águas em um poço ou um riacho no fundo de uma ravina profunda, para cima e contemplando corpos celestes nos céus distantes.
O mesmo acontece com a fé - ela se estende a tudo o que está dentro da vasta bússola da Palavra de Deus. É preciso conhecimento das coisas no passado distante, também apreende coisas que ainda estão por vir; olha para o inferno e penetra no céu . É capaz de discernir a vaidade do mundo ao nosso redor.
É verdade que pode haver uma fé genuína, que absorve pouco da luz da revelação divina a princípio. No entanto, aqui novamente os fatos terrestres sombreiam com precisão essa verdade espiritual. O olho de uma criança absorve a luz e percebe objetos externos - mas com uma grande dose de fraqueza e confusão, até que à medida que cresce, sua visão se estende cada vez mais. O mesmo acontece com os olhos da fé. A princípio, a luz do conhecimento espiritual é apenas fraca - o bebê em Cristo é incapaz de ver de longe. Mas, à medida que a fé se aprofunda cada vez mais nos mistérios divinos, até que ela chegue a ser absorvida pela visão aberta (João 17:24).
5. O olho é uma faculdade muito segura Dos cinco sentidos corporais, este é o mais convincente. Do que temos mais certeza do que aquilo que vemos com nossos olhos! Alguns tolos podem tentar se convencer de que a matéria é uma ilusão mental - mas ninguém em sã consciência irá acreditar neles. Se um homem vê o sol brilhando nos céus, ele sabe que é dia.
Do mesmo modo, a fé é uma graça que carrega em sua própria natureza uma grande dose de certeza: "Agora, a fé é ter certeza do que esperamos e certo do que não vemos" (Hebreus 11: 1).
Os céticos podem negar a inspiração divina das Escrituras - mas quando os olhos da fé contemplam suas belezas sobrenaturais, a questão é resolvida de uma vez por todas. Outros podem considerar Jesus um mito piedoso - mas, uma vez que o santo realmente tenha visto o Cordeiro de Deus , pode dizer "Eu sei que meu Redentor vive".
6. O olho é um órgão que impressiona . O que vemos deixa uma impressão em nossas mentes. É por isso que precisamos orar com frequência: "Afaste os olhos de contemplar a vaidade" (Salmo 119: 37). É por isso que o profeta declarou: "O que vejo traz tristeza à minha alma" (Lamentações 3:51). Se um homem olha firmemente para o sol por alguns instantes, uma impressão do sol é deixada em seus olhos, mesmo que ele desvie os olhos dele ou os feche.
Do mesmo modo, a verdadeira fé deixa no coração uma impressão do Sol de justiça: "Aqueles que olham para Ele radiam de alegria" (Salmo 34: 5).
Ainda mais definitivo é 2 Coríntios 3:18: "Mas todos nós, com o rosto aberto vendo como num copo a glória do Senhor, somos transformados na mesma imagem de glória em glória, como pelo Espírito do Senhor". Como o poderoso poder de Cristo, nos próximos dias, transformará os corpos de Seu povo da mortalidade para a vida, e da desonra para a glória - o mesmo também faz agora com que o Espírito Santo exerça um poder de transformação moral sobre o caráter daqueles que são Seus. , e que ao colocar a fé em exercício, cuja atividade conforma cada vez mais a alma à imagem do Filho de Deus.
7. O olho é um órgão maravilhoso . Aqueles que são competentes para expressar uma opinião afirmam que o olho é o mais maravilhoso e notável de qualquer parte do corpo humano. Há muita sabedoria e poder do Criador a serem descobertos na formação e operação do olho!
Assim, a fé é uma graça que é maravilhosa e maravilhosamente forjada na alma. Há mais da sabedoria e poder do Divino Obreiro descoberto na formação da graça da fé - do que em qualquer outra parte da nova criatura. Assim, lemos sobre a "obra da fé com poder" (2 Tessalonicenses 1:11). Sim, que o mesmo poder excessivamente grande e poderoso que foi posto por Deus na ressurreição de Cristo dentre os mortos - é exercido sobre e dentro daqueles que crêem! (Efésios 1:19).
8. O olho é uma coisa muito delicada - logo é machucado e facilmente danificado. Um pequeno grão de poeira causará dor e fará com que chore. É muito impressionante notar que esse é o caminho para a recuperação - ela libera a poeira que entra nela.
Assim, a fé é uma graça mais delicada , prosperando melhor em uma consciência pura. Por isso, o apóstolo fala de "manter o mistério da fé em pura consciência" (1 Timóteo 3: 9). Os atos vivos da fé logo são prejudicados pelo pó do pecado ou pelas vaidades do mundo que entram no coração onde estão assentados. E onde quer que esteja a verdadeira fé - se é ferida pelo pecado - ela se exala de uma maneira de tristeza divina.

de Arthur Pink

NB: Para a maioria dos itens acima, somos gratos a um sermão pregado por Ebenezer Erskine em 1740.

As aflições dos piedosos


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Nos últimos anos, nos esforçamos para ajudar alguns dos filhos não estabelecidos de Deus dedicando um artigo anualmente (sob este título) ao fim específico de resolver sua incerteza. Para que eles possam reconhecer seu retrato espiritual , procuramos descrever uma ou outra daquelas características do regenerado que o Espírito Santo desenhou nas Escrituras. Longe de desprezar aqueles que estão profundamente exercitados quanto ao seu estado real, recusando-se a "se beneficiar da dúvida", admiramos sua cautela.
Deus exortou Seu povo a "garantir sua vocação e eleição" (2 Pedro 1:10), e uma das maneiras pelas quais podemos começar a fazê-lo é comparar em espírito de oração e humildade nossos corações e vidas - com essas marcas de graça, ou frutos do Espírito, que são delineados na Bíblia. A Palavra de Deus é comparada a um "espelho" no qual podemos contemplar a nós mesmos (Tiago 1: 23-24) e perceber o que somos por natureza - e o que fomos feitos pela graça. Que cada um de nós tenha olhos para se ver como o Espelho divino nos representa.
"Antes de ser afligido, eu me perdi - mas agora guardei sua palavra."
"É bom para mim ter sido afligido; para aprender seus estatutos."
"Eu sei, ó Senhor, que seus juízos são corretos e que você, fielmente, me afligiu." (Salmo 119: 67, 71, 75).
Ligamos esses três versículos porque eles tratam do mesmo assunto, a saber, a atitude do coração de alguém que foi afligido por Deus . Cada um deles respira a linguagem de uma alma graciosa , e não a de um homem natural . Cada um deles reconhece os efeitos benéficos das provações santificadas. Cada um deles evidencia um coração humilde, pois, longe de murmurar as dispensações de Deus - por mais desagradáveis ​​que sejam para a carne e o sangue -, há um reconhecimento agradecido de seu desígnio benevolente . Cada um deles é uma confissão feita não enquanto se dobra sob a vara - mas depois de ter feito o trabalho designado.
Se nossos leitores puderem, com sinceridade, tornar essa linguagem própria, eles terão boas razões para concluir que estão vinculados ao mesmo "pacote de vida" (1Sa 25:29) que Davi.
 
"Antes de ser afligido, eu me perdi - mas agora guardei sua palavra." Esta é a expressão de umcoração honesto , pois possui livremente que, antes da aflição, ele "se perdera". Como a "carne" ainda permanece no coração do cristão, ele é muito propenso a se afastar de Deus; sim, a menos que seja diligente em observar e orar contra a tentação e mortificar diariamente suas concupiscências - ele certamente o fará. Essa tendência do mal é muito estimulada pelo sucesso temporal, pois então estamos muito mais aptos a saciar a carne - do que negar isto. "Mas Jeshurun ​​encerou gordura e chutou: você é gordura encerada, cresceu e ficou coberto de gordura; então ele abandonou a Deus" (Deu 32:15). "Falei com você em sua prosperidade; mas você disse que não ouvirei" (Jeremias 22:21). Com esse retrocesso, derrubamos sobre nós a vara de Deus - para coibir mais excessos de carnalidade e nos levar de volta aos caminhos da justiça. Deus freqüentemente envia um verme para ferir a cabaça do conforto de nossa criatura (Jonas 4: 7); e prosperidade é seguida por adversidade ; mas se essa aflição é abençoada para nós - então mantemos a Palavra como não o fizemos anteriormente (Lucas 2:19).
 
"É bom para mim ter sido afligido; para aprender seus estatutos." Esta é a respiração de umcoração agradecido . Muito diferente é o sentimento do homem natural. As escrituras declaram: "Eis que feliz é o homem a quem Deus corrige" (Jó 5:17) - mas o mundo imagina que feliz é aquele que está isento de provações e angústias. Com o que você concorda, meu leitor? Contudo, uma coisa é dar um consentimento geral à declaração inspirada: "Bem-aventurado o homem a quem você castiga, ó Senhor, e ensina de acordo com a sua lei" (Salmo 94:12) - mas é outra coisa diferente aprender com a experiência. , os benefícios da aflição. Ser humildemente reconciliado com nossas tribulações é uma grande misericórdia - mas ter uma prova pessoal de que, embora o medicamento seja desagradável, seus efeitos são benéficos , é ainda melhor.
Esse é o resultado daqueles que são "exercitados" sob a mão castigadora de seu Pai (Hebreus 12:11). "Os filisteus não conseguiam entender o enigma de Sansão - como 'do comedor veio algo para comer - e do forte veio algo doce' (Juízes 14:14). Tão pouco o mundo pode compreender a fecundidade das provações do cristão: como seu gracioso Senhor adoça as águas 'amargas' de Mara (Êx 15:23) "- Charles Bridges (1794-1869).
"É bom para mim ter sido afligido" (Salmo 119: 71). Deus tem muitas maneiras de afligir. No contexto, Davi menciona aqueles que o opuseram e o criticaram. Na época - ele pode ter sentido muito - mas depois - ele percebeu que era uma piedade. É bom para nós - quando temos razões sólidas para fazer esse reconhecimento.
Qual é o nosso chefe "bom"? Não é o gozo de Deus? Então, quão agradecidos devemos ser por qualquer coisa que nos aproxime dele! "Senhor, na angústia eles te visitaram, eles fizeram uma oração quando o castigo estava sobre eles" (Isaías 26:16). Deus é então procurado com mais fervor e persistência. Quando decididas , nossas devoções tendem a se tornar formais e mecânicas - mas quando nosso ninho é perturbado, "fazemos uma oração" ou um "discurso secreto" (margem) - são os gemidos do coração. Aflições santificadas:
afastam-nos da criatura,
tornam a consciência mais terna,
exercitam nossas graças,

Se pudermos descobrir esses efeitos benéficos, não devemos exclamar: "É bom para mim que eu tenha sofrido!"
"Eu sei, ó Senhor, que seus juízos são corretos e que você, fielmente, me afligiu." Esta é a linguagem do discernimento . "Julgamentos" aqui não se referem (como frequentemente nos Salmos) às leis eqüitativas de Deus - mas às Suas relações governamentais - na punição dos iníquos - ou na correção de Seu povo. Davi também não estava falando do conhecimento da razão carnal - mas daquilo que a fé e uma experiência espiritual fornecem. Ele se condenou, reconhecendo que sua desobediência pedira a vara .
Quando o professor vazio está gravemente aflito, ele diz: "O que eu fiz para merecer isso?" Outros menos rebeldes - mas igualmente hipócritas, perguntam: "Por que devo ser apontado como um sinal de adversidade?" Muito diferentes são os sentimentos dos piedosos: eles reivindicam o Senhor. Longe de se considerarem tratados injustamente, ou mesmo severamente, eles exoneram a mão que os fere .
Os iníquos não reconhecem Aquele que está lidando com eles, procurando nada além de causas secundárias ou instrumentos humanos . Mas os olhos da fé contemplam Aquele que é invisível: não apenas como provedor e consolador - mas também como castigador e aflitivo ; e isso, não apenas no amor - mas na justiça: "Seus julgamentos são corretos".
"Você com fidelidade me afligiu." Numerosos sermões foram pregados sobre a fidelidade de Deus e muitas peças escritas sobre essa perfeição divina, mas poucas preservaram o equilíbrio. É preciso mostrar que Deus não é apenas fiel à Sua Palavra ao cumprir Suas promessas - mas também ao cumprir Suas ameaças ; fiéis não apenas em prover Seu povo - mas também em lidar com suas loucuras . Frequentemente ouvimos falar da fidelidade à aliança de Deus - mas nem sempre somos lembrados de que o castigoé um dos artigos em Sua aliança. "Se os filhos dele abandonarem a minha lei, e não andarem nos meus juízos ... Então visitarei a sua transgressão com a vara, e a sua iniqüidade com açoites ... O meu pacto não quebrarei, nem alterarei o que se foi. dos meus lábios "(Salmo 89: 30-34).
"Nosso Pai não é Eli - Ele não permitirá que Seus filhos pecem sem repreensão" - Charles H. Spurgeon (1834-1892).
Portanto, é seu dever possuir a integridade dEle, enquanto persevera em sua disciplina fiel . Foi o que Davi fez aqui: ele reconheceu que Deus estava cumprindo o compromisso de sua aliança, e fez essa promessa não de mau humor - mas felizmente; sim, ele fez isso com adoração, pois sabia que Deus também tinha seu bem-estar em vista.
Agora, meu leitor, meça pelo que foi apontado acima. Você diz: "Sofrerei a indignação do Senhor, porque pequei contra ele" (Mq 7: 9)? Você aprendeu por experiência que a aflição é feita uma escola para o povo de Deus , na qual eles aprendem muitas lições valiosas - sobre si mesmos e sobre Deus, e sobre seus deveres e privilégios? Você já descobriu por conhecimento em primeira mão que o castigo é um remédio benéfico para subjugar o orgulho, a purgação da carnalidade e curar desvios? A vara o recuperou de suas andanças? Você pode dizer de coração: "É bompor mim que fui afligido; para que eu possa aprender [experimentalmente] seus estatutos "(Salmo 119: 71)? Você possui livremente que os tratos providenciais de Deus com você - Seus" julgamentos "- estão certos: isto é, justos e equitativos? Sim, você sente que Deus lidou com muito mais clareza do que as suas "iniqüidades merecem" (Esdras 9:13)? Você acha que Deus é fiel, não apenas em si mesmo - mas em feri- lo? Então você tem fundamento bíblico para concluir que um milagre da graça foi forjado em sua alma.

Arthur Pink
março de 1948


quinta-feira, 3 de outubro de 2019

JESUS DÁ RESPOSTA A TRÊS PERGUNTAS

João 14.1-31 - 


O Evangelho de João é o livro que foi escrito por João para apresentar a vida de Jesus de tal modo que os incrédulos possam ir a ele pela fé e os cristãos possam desenvolver sua fé em Cristo como o Messias e o Filho de Deus que desceu do céu. Assim, testemunhar de Jesus é o tema central desse Evangelho, tanto por parte de um homem especial como João Batista, do Pai, do Espírito Santo e de seus discípulos e fieis em toda parte do mundo. Estamos vendo o capítulo 14, da parte III.
Breve síntese do capítulo 14
Em João 14, Jesus responde a uma pergunta de um de seus discípulos, Tomé, quando este não sabendo para onde ia Jesus, disse que não conhecia o caminho e Jesus lhe dá a resposta: EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA E NINGUÉM VEM AO PAI SE NÃO POR MIM.
Jesus disse que estava indo para algum lugar. Tomé, francamente, diz que não sabia para onde ele estava indo e, portanto não saberia o caminho. Jesus, então, ao invés de apontar caminhos ou um caminho que era o que se esperava, anula tudo e faz uma afirmação, uma declaração poderosa de que ele era o próprio caminho e não somente isso, mas a verdade e a vida!
Óbvio que o discurso de Jesus era sobre o Pai e sua morada nos céus e ele estava preparando os discípulos para o que iria acontecer em breve com ele quando morreria e depois ressuscitaria.
Quem começa o discurso do capítulo 14 é Jesus e quase todo ele é a fala de Jesus em resposta a três questões.
(1)   Primeira: a pergunta de Tomé sobre o caminho.
(2)   Segunda: a solicitação de Filipe para Jesus mostrar o Pai e isto bastar.
(3)   Terceira: a pergunta de Judas, não o Iscariotes, sobre que Jesus estaria para manifestar-te a eles e não ao mundo.
Vejamos o presente capítulo com mais detalhes, conforme ajuda da BEG:
III. O MINISTÉRIO DE JESUS AOS SEUS DISCÍPULOS (13.1-17.26) - continuação.
Como já falamos, em seus últimos dias, Jesus concentrou-se em ministrar a seus discípulos para prepará-los para a sua partida; ele os serviu, os confortou e orou por eles.
Assim, dividimos essa terceira parte em três seções: A. A cerimônia do lava-pés e a profecia da traição (13.1-38) – já vimos; B. O discurso de despedida (14.1-16.33) – começaremos a ver agora; e, C. A oração intercessória (17.1-26).
B. O discurso de despedida (14.1-16.33).
O discurso de despedida ocupa os capítulos 14 a 16. João registra as várias maneiras pelas quais Jesus confortou os seus discípulos enquanto eles enfrentavam a iminência de sua morte e quanto às provações que viriam nos anos seguintes.
Esse material está dividido em cinco seções: a. A morada (14.1-4) – veremos agora; b. O caminho (14.5-14) – veremos agora; c. O Espírito Santo (14.15-31) – veremos agora; d. A videira e os ramos (15.1-17); e, e. O consolo durante a perseguição (15.18-16.33).
a. A morada (14.1-4).
Ele começa dizendo para não deixarmos turbar os nossos corações. Essa passagem de consolo supremo foi oferecida por Jesus num momento de muito sofrimento por causa da iminente traição de Judas e da deserção de Pedro.
Além do que foi dada somente algumas horas antes da agonia do Getsêmani e do tormento da cruz (13.21). No entanto, suas afirmações estão impregnadas de um tom de paz sublime, cuja intenção era ministrar ao coração temeroso dos discípulos, e não focalizar nas dificuldades de Jesus.
Ele os confortava dizendo que na casa de seu Pai havia muitas moradas. A ênfase está mais na amplidão do que nos compartimentos. Embora o caminho seja apertado e a porta estreita (Mt 7.14), é também verdade que o número dos filhos de Abraão é semelhante à areia do mar ou às estrelas do céu (Gn 22.17), uma "grande multidão que ninguém podia enumerar" (Ap 7.9).
Cristo está preparando um lugar nos céus para os que lhe pertencem, e o Espírito Santo está preparando os eleitos aqui na Terra para habitarem no céu.
Jesus se referiu a si mesmo como aquele que serve de escada entre o céu e a terra (1.51), e será ele quem levará o seu povo para o céu.
Por isso que ele pode dizer que eles já sabiam e conheciam o caminho. Possivelmente essa frase teve a intenção de induzir a pergunta receosa de Tomé e assim dar oportunidade para Jesus dar a sua resposta sublime.
b. O caminho (14.5-14).
Diante da pergunta de Tomé ele pode responder:
ü  Que era a verdade - não apenas aquilo que está de acordo com a realidade, mas também o que é completo e perfeito, em contraste com as coisas que começam e ficam incompletas.
ü  Que era a vida - não apenas a existência, que, aliás, é eterna para todas as pessoas, mas uma plenitude de vida em perfeita realização com o propósito de Deus (1.4).
ü  Que era o caminho - ninguém vem ao Pai senão por ele. Uma afirmação poderosa do caráter exclusivo de Cristo como o caminho para a salvação. Propor e afirmar outros caminhos é iludir as pessoas e desfazer a necessidade da encarnação e redenção de Jesus (At 4.12; Rm 10.14-15; l Jo 5.12).
Todas as bênçãos nomeadas anteriormente são resumidas no conhecimento de Deus, que é muito mais do que uma percepção intelectual, pois envolve um compromisso de coração.
Felipe não resistiu e foi muito objetivo. Ele queria ver o Pai e isso bastava a ele e aos demais, assim entendia. O pedido de Filipe revela o seu equívoco, porém fornece a oportunidade para o comentário que vem em seguida.
Jesus lhe responde que quem o vê, vê o Pai. Essa afirmação não é uma negação da distinção das pessoas da Trindade, mas sim uma recusa ao pedido de Filipe para fornecer revelações adicionais do Pai. Jesus é a revelação mais completa do Pai que o mundo já viu, ou precisa ver.
Ele continua a dizer e a explicar que ele estava no Pai, e o Pai, nele. É uma união reciproca em 10.38 (veja o vs. 20; 17.21).
Há três uniões magnificas proclamadas pela Escritura:
ü  A união das três pessoas da Trindade  num único Deus.
ü  A união da natureza divina e humana na pessoa de Jesus Cristo.
ü  A união de Cristo com o seu povo na realização da redenção.
O Pai e o Filho trabalham em perfeita harmonia; portanto, os milagres que Jesus realizou são evidências dessa cooperação perfeita entre Pai e Filho.
A História tem demonstrado que aqui, Jesus não está afirmando – vs. 12 - que cada cristão fará milagres maiores do que ele fez.
Essas obras "maiores” podem se referir a viver no poder do Espírito Santo que ele derramaria sobre os seus depois que fosse para o Pai. Também é possível que Jesus estivesse se referindo ao trabalho ministerial feito no poder do Espírito Santo, que seria "maior" do que o de Jesus em relação ao seu alcance geográfico e numérico.
Jesus para consolá-los faz uma promessa poderosa a eles e a todos nós no vs. 13, pois tudo quanto pedirmos em meu nome, ele nos concederá a fim de que seu Pai seja glorificado.
Não é uma garantia de que Deus nos dará, automaticamente, qualquer coisa que pedirmos em oração simplesmente por acrescentarmos ao final "em nome de Cristo", como se fosse uma fórmula mágica.
Orar no nome de Jesus é orar corno o seu representante, especialmente aqueles nomeados para exercer a sua autoridade e, portanto, de acordo com a sua vontade. Jesus estava, principalmente, assegurando aos seus apóstolos, seus representantes com autoridade dada por ele, que Deus atenderia   às suas orações no decurso de seus respectivos ministérios.
Essa garantia também se aplica, em menor grau, à igreja, que também representa Cristo na terra (veja 1 Co 5.4), embora com menos autoridade do que os apóstolos. Veja também 15.7,16.
Tudo isso a fim de que o Pai fosse glorificado no Filho. O relacionamento íntimo entre as pessoas da Trindade é manifestado na doutrina da oração.
Aqui, o Filho é apresentado como fazendo o que é pedido; em outras passagens, é o Pai quem concede (15.16: 16.23).
Aqui, o Pai é glorificado no Filho pela eficácia na resposta da oração. O Espírito Santo nos ajuda em nossas orações e intercede por nós (Rm 8.26-27), e Jesus Cristo também intercede por nós (Rm 8.34; Hb 7.25). Essas declarações são todas verdadeiras e elas não são contraditórias; elas se complementam.
c. O Espírito Santo (14.15-31).
O que eles pedissem em oração, Jesus atenderia para a glória do Pai – vs. 14 –, mas tinha uma condição importante que provaria que eles o amavam: eles deveriam guardar os seus mandamentos.
A verdadeira prova de amor não é uma expressão oral, mas um modo de vida em obediência. A desobediência persistente e teimosa fornece boas razões para duvidarmos da realidade do amor, ainda que seja confessado (vs. 21,23-24).
Assim sendo, ele rogaria ao Pai, e ele daria a eles outro Conselheiro. Tanto o Pai como o Filho estão envolvidos no envio do Espirito Santo, que é chamado de:
ü  O Espírito de Deus (Gn 1 2; Rm 8.9).
ü  O Espirito do Senhor (Is 11.22).
ü  O Espirito de vosso Pai (Mt 10.20).
ü  O Espírito de seu filho (Gl 4.6).
ü  O Espírito de Jesus (Fp 1.19).
ü  O Espírito de Cristo (1Pe 1.11).
Ele é que é o outro Consolador, o Espírito Santo, que no Pentecoste iniciaria um relacionamento profundo com os cristãos. Algo que ninguém ainda havia experimentado, é enfatizado aqui. O discurso de despedida de Jesus diz respeito, compreensivelmente, a essa verdade gloriosa (vs. 26; 15.26; 16.7-15).
O termo "Consolador” ("Paracleto”) era utilizado na linguagem jurídica para indicar o advogado de defesa (I Jo 2.1); porém, em termos gerais significa alguém que é "chamado para prestar socorro”. Jesus vinha sendo esse auxilio para os seus discípulos, mas após a sua ascensão, o Espírito Santo ocuparia essa função.
Esse termo enfatiza não apenas a personalidade do Espirito Santo como alguém distinto do Pai e do Filho, mas também a sua união perfeita com eles na obra da redenção.
Ele também é chamado de o Espírito da verdade. O Espirito está em associação perfeita com o Pai (Is 65.16) e com o Filho (Jo 14.6).
O mundo - a humanidade pecadora, em contraste com o povo redimido de Deus (15.18-19; 17.9; I Jo 2.15-17; 4.5: 5.4-5,19) – não poderia recebê-lo porque não o viam nem o conheciam, mas os discípulos o conheciam e vivia com eles e estaria com eles – vs. 17. O Espirito habita no coração, na vida, no corpo e na alma de cada cristão (1Co 3.16-17; 6.19; 2Co 6.16; Ef 2.21).
Jesus então diz que não os deixará órfãos, mas voltará para eles. Refere-se, principalmente, à vinda do Espírito Santo no Pentecostes, mas também à esperança da igreja: o glorioso Mediador. Jesus Cristo, voltará para buscar os remidos (vs. 3,18,28).  
A vida se encontra somente em Jesus (1.4; 14.6), por isso pode dizer que ele vivia e, portanto, todos nós também vivemos – vs. 19; 11.25-26. E promete que naquele dia entenderíamos que ele estava no Pai, e ele nos seus discípulos, e os discípulos nele.
Do mesmo modo que há reciprocidade de vivência interior, há também amor mútuo e profundo. Amar implica revelação; a indiferença impede o conhecimento.
Judas entendeu corretamente a afirmação de Jesus, mas suas expectativas a respeito do Messias provavelmente incluíam um triunfo político que seria visível para todos, talvez por causa das imagens apresentadas em Hc 3.3-15 e Zc 9.9-17. Jesus reforçou a necessidade de obediência.
Jesus continua a fortalecer seus discípulos, agora fazendo promessa de neles fazer morada. Na verdade, o Espírito Santo, o Pai e o Filho, todos moram dentro do cristão (Rm 8.9-11; Ap 3.20).
Existe harmonia perfeita entre o ensino do Pai e o ensino do Filho (7.16; 14.10), por isso que quem o amasse, guardaria as suas palavras, pois elas não eram dele, mas do Pai.
Jesus falava e ensinava, mas prometia o Espírito Santo, a quem o Pai enviaria.
Em 15.26 é o Filho quem envia o Espírito. Logo, o Pai e o Filho cooperam para enviá-lo. Ele ensinaria todas as coisas a eles. Ou seja, todas as coisas de que eles precisariam saber para cumprirem a sua missão (16.13). Também haveria de lembrá-los de tudo o que Jesus tinha dito.
O ensino do Espírito Santo está em total harmonia com os ensinos de Jesus, e ele auxiliará a memória humana frágil e assegurará que as palavras de Jesus sejam preservadas para instruir o povo de Deus (Mt 24.35).
Essas promessas aos apóstolos foram cumpridas na pregação apostólica e na inspiração dos escritos do Novo Testamento. Num certo sentido, essas promessas continuam sendo cumpridas à medida que o povo de Deus é relembrado e ensinado por meio da Escritura inspirada.
A igreja cristã é apostólica porque os apóstolos, pelo auxílio especial do Espírito Santo, perpetuaram e esclareceram os ensinos de nosso Senhor.
Finalmente, Jesus deixava a sua paz para eles. Uma frase hebraica comum que é usada tanto para saudar como para se despedir. Jesus usou essa frase num sentido novo e mais profundo: a sua paz é a firmeza e segurança de alguém que estabeleceu a salvação, alguém que está reconciliando com Deus.
Essa paz é algo que o mundo nunca poderá oferecer, e foi comprada com a morte e ressurreição de Jesus (cf. At 10.36; Rm 5.1;14.17; Ef 2.14-17; Fp 4.7; Cl 3.15). Ela é a solução para todos os medos (vs. 1) e o legado que Jesus nos deixou como seus herdeiros.
O retomo de Cristo para o Pai e a sua segunda vinda finalizam a sua obra de mediação (vs. 3). Sua ascensão põe fim ao período de sua humilhação (isto é, sua vida terrena e o seu ministério) e inicia a sua glorificação. Ele irá receber glória muito maior quando retornar para conquistar todos os seus inimigos e santificar definitivamente os cristãos.
Aquele que ama a Cristo deve almejar vê-lo glorificado (cf. Ap 1.5-6).
Essa afirmação “o Pai é maior do que eu” – vs. 28 - deve ser entendida à luz do testemunho desse Evangelho quanto à completa divindade do Alho e sua igualdade e unidade com o Pai (1.1; 10.30; 14.9).
Aqui, o contexto indica a disposição do Filho de se tornar 'menor' ao abdicar voluntariamente de sua glória como Filho divino de Deus, e seguir pelo caminho da humildade e obediência ao Pai por meio de sua encarnação e morte sacrifical (Fp 2.6-11).
O cumprimento da profecia de Jesus confirmaria a origem divina da sua missão reta (Dt 18.22).
Ele então fala do príncipe do mundo que estaria por vir. Refere-se a Satanás (cf. 12.31; 16.11) e ao sofrimento temporário que Jesus experimentou durante sua prisão, julgamento e crucificação.
Dele, Jesus comenta que nada tem em comum. Essa é uma reafirmação da natureza sem pecado de Jesus (vs. 31; 8.29,46; 2Co 5.21; Hb 7.26-27). Ele é o único membro da raça humana de quem se pode fazer essa afirmação. A obediência que Jesus exigiu de seus discípulos foi exemplificada em seu próprio ministério terreno (Rm 5.19; Fp 2.8; Hb 5.8).
Estava chegando a hora! Eles se levantaram para saírem dali. Essa declaração de saírem seria bastante apropriada se Jesus e os discípulos estivessem deixando o cenáculo; porém, parece que os caps. 15-17 ainda se referem a esse lugar. Várias opções são possíveis, conforme a BEG:
(1)   Jesus fez menção de sair, mas transcorreu um período de tempo até que eles deixassem o cenáculo.
(2)   Eles saíram imediatamente, porém Jesus continuou o seu sermão a caminho do Getsêmani. Essa opção faria da oração em Jo 17 um contraste nítido com a agonia experimentada no jardim.
(3)   João organizou o seu material em tópicos, e não em ordem cronológica.
(4)   Essa declaração de Jesus foi um desafio para se encontrar com Satanás, e não uma ordem para deixar o cenáculo (isto é, levantai-vos e vamos encontrar o inimigo).

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...