quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

18 razões para o Cristão não ser Vegano.




O Veganismo é um conjunto de práticas focadas nos direitos dos animais que, 

por consequência, adota uma dieta baseada em vegetais, livre de todos os alimentos de origem animal, como: carne, laticínios, ovos e mel, bem como produtos como o couro e qualquer produto  testado em animais. O vegano não deve usar artigos de peles, couro, lã, seda, camurça ou outros materiais de origem animal (como adornos de pérolas, plumas, penas, ossos, pelos, marfim etc.), pois implicam a morte ou  exploração dos animais que lhes deram origem. Sendo assim, um vegano se veste de tecidos de origem vegetal (algodão, linho, etc) ou sintéticos (poliéster, etc).  Veganos fazem uso da dieta vegetariana estrita, ou seja,  excluem, da sua alimentação, carnes e embutidos (enchidos), banha, vísceras, músculos, gelatina, peles, cartilagens, lacticínios, ovos e ovas, insetos, mel e derivados, frutos do mar e quaisquer alimentos de origem animal. Consomem basicamente cereais, frutas, legumes, vegetais, hortaliças, algas, cogumelos e qualquer produto, inclusive industrializados, que não contenha ingredientes  que dependam de uso animal em sua produção. Circos com animais, rodeios, vaquejadas, touradas,  zoológicos ou qualquer coisa que explore os animais de algum modo, também são boicotados pelos  veganos  pois estas práticas implicam escravidão, posse, deslocamento do animal de seu habitat natural, privação de seus costumes e comunidades, adestramento forçoso e sofrimento. Veganos não caçam, não promovem nenhum tipo de pesca, e boicotam qualquer "desporto" que envolva animais. Diante de tantas proibições, a pergunta a ser feita é: Pode o cristão se submeter  a estas exigências?  Deus exige isso de seus filhos? A resposta é não por, pelo menos, 18 motivos.

1. Deus autorizou seu povo a comer carne (Gn 9.3; At 11.5-9);

2. O povo de Deus, no Antigo Testamento, sempre comeu carne de boi, ovelha, 
cabra e outros animais (Jz 6.20; 1Sm 28.24,25; 1Re 4.23; Am 6.4);


3. O povo de Deus, no Novo Testamento, também comia carne bovina (Mt 22.4; 

Lc 15.30);

4. O povo de Deus comia carne de peixe (Nm 11.5; Ec 9.12; Ez 47.10; Mt 4.18; 
Lc 11.11);

5. Jesus alimentou a multidão com pão e carne de peixe (Mt 15.37; Mc 6.42);

6. Gafanhotos eram comidos (Lv 11.21,22; Mt 3.4; Mc 1.6);

7. Aves eram parte da alimentação (Êx 16.12,13; Nm 11.18-20,32,33; 1Re 4.23; 
1Sm 26.20);

8. O povo de Deus bebia leite (Dt 32.14; Jó 20.17; Jó 21.24; Pv 27.27; Ct 4.11);

9. O povo de Deus bebia mel (1Sm 14.27; 2Sm 17.29; Ct 4.11; Sl 19.10; Pv 16.24; 
Mt 3.4; Mc 1.6);

10. As descrições bíblicas de uma terra prometida são de “terra que mana leite e mel” (Ex 3.8,17; 13.5; 33.3; Lv 20.24; Nm 13.27);


11. Deus usou e ordenou o uso de peles de animais (Gn 3.21; Ex 25.5; Nm 31.20; Hb 11.37);


12. Homens de Deus como Elias e João batista usavam couro (2Re 1.8; Mt 3.4; Mc 1.6);

13. A seda também é permitida por Deus nas Escrituras (Ez 16.10; Ez 16.13; Ap 18.12);

14. A descrição da nova Jerusalém é de portas feitas de pérola (Ap 21.21);

15. Tanto a caça quanto a pesca são atividades permitidas por Deus (Gn 25.28; 27.3,5; 
Pv 12.27; Ez 47.10; Mt 4.18; Mt 13.48; Lc 5.4-6);



16. Animais eram usados tanto nos sacrifícios, quanto na agricultura, 

quanto nas guerras (2Re 6.17, Lc 9.62);


17. Os anjos, em corpos humanos, se alimentaram de coalhada, leite e carne bovina 
(Gn 18.8);

18. Jesus se alimentava de carne de peixe (Lc 24.42,43), mel (Lc 24.43); pão (Mt 26.26); carne de cordeiro (Êx 12.3) e, muito provavelmente, como todo judeu, de queijo de cabra, ovos, azeitonas, trigo, cevada, lentilhas, tâmaras, melõe, pepinos, romãs, e uvas passas.

O que está na base do Veganismo é a ideia de que o sofrimento animal não é permitido sob hipótese alguma. A vida animal é sagrada. Em um mundo vegano ideal, os animais morreriam de velhice. Conquanto cristãos tenham o dever de cuidar da criação de Deus (Gn 1.28), Deus colocou os animais abaixo dos seres humanos. O que o paganismo fez, no passado, foi inverter esta ordem “adorando e servindo a criatura em lugar do Criador” (Rm 1.25). O que a Ecologia (e agora o Veganismo) estão fazendo é ressuscitar o paganismo colocando a natureza como o próprio Deus e divinizando os animais. Assim, cristãos devem perceber que não se trata apenas de uma inocente dieta para cuidado da saúde, mas de uma filosofia que inverte os ensinos da  Palavra de Deus e que produz a idolatria da criação.“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão.” (Gl 5.1) “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens?” (Cl 2.20-22). Foge destes que “exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de  graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; pois tudo que Deus criou é bom,  e,  recebido com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado.” (1Tm 4.3-5) “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (1Co 10.31)


Rev. Ageu Magalhães



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Autoconfiança – Por João Calvino.

Resultado de imagem para perigo da autoconfiança


Por esse motivo, aquele que pensa estar de pé, preste atenção para que não venha a cair (1Co 10:12).
- Paulo conclui, à luz do precedente, que não devemos ensoberbecer-nos de como começamos, ou de nosso progresso, de modo a nos tornarmos complacentes e indolentes. Pois os coríntios se sentiam tão vangloriosos de sua própria situação que se esqueceram de quão fracos eram, e caíram em muitas práticas vergonhosas e nocivas. Mergulharam numa injustificada autoconfiança, semelhante à que os profetas estavam sempre a condenar no povo de Israel. Porém, visto que os papistas torcem este versículo com o fim de estabelecer seu ímpio dogma de que devemos viver sempre num estado de incerteza no tocante à fé, notemos bem que existem dois gêneros de confiança.
Um repousa nas promessas divinas, de modo que o crente é convencido, em seu coração, de que Deus jamais o deixa, e, escudado nesta invencível convicção, ele enfrenta a Satanás e ao pecado, alegre e destemidamente. Ao mesmo tempo, contudo, rememorando suas próprias fraquezas, ele se abandona em Deus, em temor e humildade, e, em sua angústia, se confia a ele de boa vontade. Este tipo de confiança é algo santo e saudável, e não pode ser alienado da fé, como é evidente de muitas passagens da Escritura, especialmente Romanos 8.33. O outro tipo de confiança tem suas raízes na indiferença, quando os homens ardem de orgulho em virtude dos dons que possuem, e vivem completamente despreocupados sobre sua própria situação, senão que, ao contrário, aquiescem nela como se estivessem fora do alcance de qualquer perigo; com o danoso resultado de se verem expostos a todos os ataques de Satanás. E este tipo de confiança que Paulo deseja que os coríntios renunciem, porquanto ele percebia que sua presunção repousava numa crença irracional. Não lhes diz, porém, que vivessem num estado de ansiedade e in certeza quanto à vontade de Deus, ou que alimentassem medo de que a sua salvação não fosse algo definido e definitivo, segundo imaginam os papistas. Sumariando, lembremo-nos de que Paulo está falando a homens que viviam convencidos em razão de uma equivocada confiança no ser humano, e ele está procurando pôr fim a tal fraqueza, a qual teve sua origem na dependência humana e não na divina. Pois, após louvar os colossenses por sua solidez ou 'firmeza na fé' (Cl 2.5), convida-os a permanecerem firmes, radicados em Cristo, e a serem "edificados nele e estabelecidos na fé" (Cl 2.7).

Carta de João Calvino a Lutero por João Calvino.

Resultado de imagem para carta de calvino a lutero


21 de Janeiro de 1545

Ao mui excelente pastor da Igreja Cristã, Dr. M. Lutero, [1] meu tão respeitado pai. Quando disse que meus compatriotas franceses, [2] que muitos deles foram tirados da obscuridade do Papado para a autêntica fé, nada alteraram da sua pública profissão, [3] e que eles continuam a corromper-se com a
sacrílega adoração dos Papistas, como se eles nunca tivessem experimentado o sabor da verdadeira doutrina, fui totalmente incapaz de conter-me de reprovar tão grande preguiça e negligência, no modo que pensei que ela merece. O que de fato está fazendo esta fé que mente sepultando no coração, senão romper com a confissão de fé? Que espécie de religião pode ser esta, que mente submergindo sob semelhante idolatria? Não me comprometo, todavia, de tratar o argumento aqui, pois já o tenho feito de modo mais extenso em dois pequenos tratados, em que, se não te for incomodo olha-los, perceberá o que penso com maior clareza que em ambos, e através da sua leitura encontrará as razões pelas quais tenho me forçado a formar tais opiniões; de fato, muitos de nosso povo, até aqui estavam em profundo sono numa falsa segurança, mas foram despertados, começando a considerar o que eles deveriam fazer. Mas, por isso que é difícil ignorar toda a consideração que eles têm por mim, para expor as suas vidas ao perigo, ou suscitar o desprazer da humanidade para encontrar a ira do mundo, ou abandonando as suas expectativas do lar em sua terra natal, ao entrar numa vida de exílio voluntário, eles são impedidos ou expulsos pelas dificuldades duma residência forçada. Eles têm outros motivos, entretanto, é algo razoável, pelo que se pode perceber que somente buscam encontrar algum tipo de justificativa. Nestas circunstâncias, eles se apegam na incerteza; por isso, eles estão desejosos em ouvir a sua opinião, a qual eles merecem defender com reverência, assim, ela servirá grandemente para confirmar-lhes. Eles têm me requisitado de enviar um mensageiro confiável até você, que pudesse registrar a sua resposta para nós sobre esta questão. Pois, penso que foi de grande conseqüência para eles ter o benefício de sua autoridade, para que não continuem vacilando; e eu mesmo estou convicto desta necessidade, estive relutante de recusar o que eles solicitaram. Agora, entretanto mui respeitado pai, no Senhor, eu suplico a ti, por Cristo, que você não despreze receber a preocupação para sua causa e minha; primeiro, que você pudesse ler atentamente a epístola escrita em seu nome, e meus pequenos livros, calmamente e nas horas livres, ou que pudesse solicitar a alguém que se ocupasse em ler, e repassasse a substância deles a você. Por último, que você escrevesse e nos enviasse de volta a sua opinião em poucas palavras. De fato, estive indisposto em incomodar você em meio de tantos fardos e vários empreendimentos; mas tal é o seu senso de justiça, que você não poderia supor que eu faria isto a menos que compelido pela necessidade do caso; entretanto, confio que você me perdoará. Quão bom seria se eu pudesse voar até você, pudera eu em poucas horas desfrutar da alegria da sua companhia; pois, preferiria, e isto seria muito melhor, conversar pessoalmente com você não somente nesta questão, mas também sobre outras; mas, vejo que isto não é possível nesta terra, mas espero que em breve venha a ser no reino de Deus. Adeus, mui renomado senhor, mui distinto ministro de Cristo, e meu sempre honrado pai. O Senhor te governe até o fim, pelo seu próprio Espírito, que você possa perseverar continuamente até o fim, para o benefício e bem comum de sua própria Igreja.

Extraído de Letters of John Calvin: Select from the Bonnet Edition with an introductory biographical sketch (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980), pp. 71-73.
[1] - Nota do tradutor: O especial interesse por esta carta, pelo que sabemos, é que ela é a única que Calvino escreveu a Lutero.
[2] - Nota do tradutor: Pelo que parece Calvino se refere aos huguenotes que embora haviam assumido o compromisso com uma confissão de fé reformada, mas na prática ainda
preservavam os ídolos, toda a pompa e ritual da missa católica romana. Esta prática evidenciava uma incoerência entre o ato e a convicção de fé.
[3] - Nota do tradutor: Calvino se refere ao culto como uma confissão pública de fé.
Tradução livre:

Rev. Ewerton B.Tokashiki
Pastor da Igreja Presbiteriana de Cerejeiras – RO.
Prof. de Teologia Sistemática no SPBC – extensão Ji-Paraná

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Ap 14 Cenas do céu.


Introdução:

Mais uma vez a cena se dá no céu…João tem uma visão do Cordeiro em pé e 144 mil estão presentes com ele (Ap 14.1). Saímos agora do exame das forças políticas, religiosas e filosóficas representadas pelas duas bestas do capítulo 13, e temos novamente uma visão da glória celestial. A figura se move novamente, saindo do campo da ação do diabo, para os céus. O cenário agora já não é da descrição da besta, mas da presença gloriosa dos remidos diante de Deus. João vê cenas do monte Sião. Na última descrição que tivemos do Cordeiro, ele nos foi mostrado diante do trono, no céu (Ap 7.9). Devemos entender o Monte Sião simbolicamente, como lugar de vitória. O Salmo 2 promete que o ungido de Deus será colocado “...sobre o meu monte santo...” (Sl 2.6). Sião é frequentemente referido como o lugar da vitória escatológica. A Sião antiga  é definida no AT. como sede do governo de Deus e centro de sua vitória final. “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no Monte Sião e em Jerusalém estarão os que forem salvos...”(Jl 2.32). No Novo Testamento Sião se torna a “...a cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial...” (Hb12.22).
Os 144 mil são o mesmo grupo que foi selado em 7.9-17. Representam a totalidade dos remidos. Alguns comentaristas crêem que se trata de um grupo especial de crentes – mártires ou celibatários.
Normalmente não falamos do céu. Os pregadores antigos, contudo, davam muita ênfase às coisas celestiais. Grandes poetas e hinólogos descreveram as beatitudes celestiais, com muita poesia e paixão. Gosto muito de ouvir antigos hinos que nos falam dos céus, normalmente eles me emocionam muito. Hinos como:

Da linda pátria estou, mui longe…”

Ou,
“Oh vem encontrar-me a fonte, da Jerusalém do céu”.
Ou,

“Oh, pensai neste lar lá do céu…”


Por que não temos falado dos céus?
Existe uma resposta clássica para isto: Conta-se que quando Dante Alighieri estava escrevendo A divina Comédia, ele foi indagado porque falava tanto do inferno e tão pouco do céu, e ele teria respondido: “Porque existem abundantes referências sobre o inferno na terra, mas muito pouca referência sobre o céu”.

As imagens de João sobre o céu são reveladoras. Vejamos o que João avista lá:

1.     O céu é lugar onde a autoridade do Cordeiro é absoluta e inquestionável -  João vê o Cordeiro de Deus em pé (Ap 14.1).  Esta é uma postura de autoridade. Estevão, o primeiro mártir do cristianismo, vê na hora de sua morte “a glória de Deus, e Jesus, que estava à sua direita”  (At 7.55). Para Estevão esta é uma visão de consolo, mas também é uma visão de autoridade. Para João esta visão reafirma o lugar de Jesus no céu, reafirma sua majestade.

2.     Céu é o ponto de encontro dos remidos de Deus – (Ap 14.1). Os remidos possuem algumas marcas:

2.1.Marca do Cordeiro escrito na testa  – (Ap 14.1) Se é correto pensar que a marca da besta é uma forma filosófica na mente, é bom lembrar que aqui existe a marca do Cordeiro. Apocalipse 7.3 fala que os servos de Deus seriam selados na fronte. Existe uma marca na mente dos remidos do Senhor. Um selo, e este selo é o sangue do Cordeiro;
2.2.Marca de santidade -   O povo de Deus é aqui descrito como um povo purificado pelo sangue do Cordeiro. Pecadores redimidos, gente que aprendeu a cantar um cântico que ninguém mais pode cantar. Seria uma referência a uma harmonia complicada? A um texto complexo? Provavelmente isto se refere ao fato de que o povo redimido por Deus, que conheceu a maravilhosa graça de Jesus é capaz de celebrar de uma forma que ninguém mais sabe e outros não são capazes de fazê-la.

3.     João ouve muito louvor nos céus – O livro de Apocalipse é essencialmente um livro de adoração e louvor. Os céus se enchem dos louvores dos anciãos, e aqui vemos os 144 mil louvando a Deus, com som poderoso, como o de “muitas águas”. Eu não sei quantos aqui já tiveram o privilégio de visitar Foz do Iguaçu ou Niagara Falls, mas o som daquelas águas é algo estrondoso. Ou parar, em silêncio diante do poder das ondas do mar. Ainda hoje o mirante do Leblon no Rio de Janeiro, é um dos meus locais prediletos. Quando pastoreava a igreja da Gávea, no Rio, gostava de ver as ondas violentas e agitadas do mar, demonstrando sua fúria num balé agitado. Ver a ressaca do mar daquele lugar é um cena inesquecível. Nada parece ser mais poderoso que as ondas do mar chocando-se com as rochas. É isto que João vê, um louvor que enche tudo, como o som de muitas águas. Cântico em grande sonido e com grande celebração, grande voz.
Apocalipse é um livro essencialmene de adoração, cheio de celebração da majestade do Senhor e de seus maravilhosos feitos, especialmente sua redenção realizada na cruz. Ellul afirma que “as cinco seções do Apocalipse são enquadradas e especificadas por passagens que podem ser qualificadas de litúrgicas, onde vemos um certo cerimonial de adoração a Deus e em que nos são transmitidos cantos de glória ou orações” [1]

4.     O céu é lugar que atesta a validade do Evangelho -  (v. 6-7).  O Evangelho é aqui confirmado pelo conteúdo da pregação dos anjos. O anjo voava no céu e tinha a mensagem do Evangelho eterno para aqueles que se assentam sobre a terra. O anúncio deste anjo possui o mesmo conteúdo da mensagem que a igreja tem sempre pregado.
A pregação do Evangelho feita pelo anjo confirma que a mensagem que anuciamos é a mesma sendo aqui ratificada pelo ministério dos anjos. Sabemos que a pregação não é tarefa para seres espirituais, mas é responsabilidade da Igreja. Deus não tem uma segunda estratégia e nem possui outro plano para tornar conhecida sua mensagem, antes deu à sua igreja a mensagem da reconciliação, a tarefa de anunciar as Boas Novas do Evangelho a todos os povos. A pregação do anjo aqui é, portanto, algo inusitado, um evento especial que pode trazer dois sentidos:
4.1.O anúncio dos anjos ratifica o Evangelho – Os anjos anunciam a mesma mensagem que a Igreja sempre anunciou, logo, não é uma invenção humana, é obra de Deus..
4.2.Joachim Jeremias, conhecido teólogo, acredita que isto seja referência a uma mensagem especial que resultará em um grande movimento de salvação entre os gentios.[2]

5.     O céu é o lugar donde procede o juízo de Deus sobre as nações (Ap 14.8-12).  Esta é a voz do segundo e do terceiro anjo. Duas palavras são usadas para descrever o julgamento de Deus: cólera (thumos) e ira (orge). Orge é um tipo de ira que parte de uma disposição já tomada, enquanto thumos é uma ira mais passional. Normalmente a ira divina é descrita como orge. A ira de Deus não é uma emoção humana, antes uma reação da sua santidade ao pecado e rebelião humana. O livro de Apocalipse revela mais que qualquer outro o tema da ira divina (14.8,10,19;15.1,19;19.15). A ira divina é a forma que Deus usa para estabelecer sua justiça. A ausência da ira e do juízo daria a impressão de que este universo não tem força moral. Qualquer mensagem do Evangelho sem anúncio do julgamento é uma mensagem parcial e adulterada. Ao contrário do que possamos pensar, o julgamento da terra e dos ímpios procede do trono de Deus, é dali que fluem as decisões sobre o destino do universo e é ali que se estabelece a justiça final de Deus contra os adoradores da imagem da besta. Na presença do Cordeiro beberão  o cálice da ira do Senhor e serão atormentados na presença do Cordeiro.

A quem está reservada a ira de Deus?
Se o julgamento vem, e a Bíblia afirma que ele inexoravelmente virá, quem sofrerá as sanções de tal juízo? O julgamento é indiscriminado, isto é, todos teremos que comparecer diante do tribunal de Deus para sermos julgados. Mas a condenação é discriminada, ou seja, não virá a todos, pois nem todos estão sujeitos às penalidades do julgamento. Paulo afirma: “Agora,  pois, já nenhuma condenação há para os que estão em  Cristo Jesus” (Rm 8.1). Mas também afirma que “a ira de Deus se revela do céu, contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18).
O Julgamento é o fim da história, da inserção do tempo na eternidade, da destruição da morte para que haja vida. Momento da verdade desmascarar a mentira, e o engano dar lugar ao que é verdadeiro. Juízo é tempo de dor, mas juízo também é tempo de cura, porque é tempo de Deus.
Dois grupos são relatados aqui neste texto:
a. A grande Babilônia – “Caiu a grande Babilônia” (Ap 14.8).  Babilani é uma palavra antiga que significa “A porta dos deuses”. Revela de forma figurativa o lugar onde os deuses que não o são, assumem aparência de que são. Lugar onde outros deuses fictícios assumem a preponderância e exigem adoração.
Babilônia era a grande inimiga de Israel no AT. e aqui representa a capital da civilização apóstata dos últimos dias, símbolo da sociedade humana organizada e oposta a Deus. Babilônia foi personificada por Roma nos tempos apostólicos (1 Pe 5.13). A Bíblia é enfática ao afirmar o julgamento de Deus sobre as nações, a Bíblia profetiza o juízo das nações no AT. e no NT. O livro de Apocalipse traz os ecos dos antigos profetas. “Babilônia caiu, e as imagens de seus deuses foram atiradas ao chão” (Is 21.9). “...Repentinamente, caiu Babilônia e ficou arruinada...” (Jr 51.8). Para os cristãos, Roma é o equivalente a luxúria e lascivia da antiga Babilônia. Babilônia, símbolo da sedutora e corruptora força que tinha conduzido as nações a uma insana imoralidade estava agora sendo julgada.
Babilônia é também o lugar onde a diversão é usada para distrair e afastar-nos da adoração ao verdadeiro Deus. É o lugar do cativeiro histórico de Israel, o povo de Deus. Lugar que rouba a dignidade do povo de Deus, perverte o direito dos fracos e oprimidos. Lugar caracterizado pelo poder político, atividade comercial, mundo das artes, da literatura. Lugar onde se concentram os filósofos, a cultura e a civilização, enfim, toda atividade humana. Mas também é lugar onde se concentram as forças do mal, do orgulho, da vaidade, da glória humana. A cidade é na Bíblia o lugar de oposição a Deus, mas também é o objeto do amor de Deus.
A cidade será julgada, a glória humana desfeita, os poderes políticos serão destruídos…Chegou o tempo do julgamento. Hora do acerto de contas!
b. Os que se curvam diante da besta – (Ap 14.10). Todos os que se identificam com este sistema oposto a Deus. O texto lido nos afirma que a ira de Deus é sem mistura, forte e será ministrado sem misericórdia (Ap 14.9). O tormento será executado com fogo e enxofre (símbolos perenes da dor e sofrimento). O texto ainda revela, de forma estranha que o julgamento será ministrado diante dos anjos e na presença do Cordeiro. A ira é um atributo de Deus e será ministrado na presença do Cordeiro. Esta imagem é agressiva à nossa concepção de um Deus amoroso. Imaginar Deus acompanhando de perto o julgamento é algo incomum. No entanto, a literatura apocalíptica judaica, composta muitas vezes de textos não canônicos, descreve esta idéia.
No livro apócrifo de Enoque existe a mesma afirmação de que os maus serão castigados na presença dos santos (48.9). Beckwith[3] sugere que o maior sofrimento dos ímpios seria estar na presença do Cordeiro triunfante e vitorioso, tendo que reconhecer a majestade dAquele a quem sempre se recusaram a seguir. O grande tormento descrito no versículo 10, que acontecerá na presença do Cordeiro é uma referência ao fato de que eternamente se lembrarão das oportunidades de entregarem suas vidas de forma incondicional a Jesus, mas encontraram muitas desculpas e adiaram indefinidamente tal encontro. O grande tormento será o fato de estarem diante do Filho de Deus e saberem que não vão compartilhar sua doce e eterna comunhão, porque o inferno lhes foi uma opção deliberada, posto que rejeitaram reiteradas vezes a oferta do amor e da graça de Deus para suas vidas.
O fato é que o tempo da ceifa chegou: “Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu” (Ap 14.15). O Julgamento é apresentado aqui por duas metáforas:

1. Metáfora da colheita – (Ap 14.14-16). Tanto o AT. quanto os escritores neo-testamentários empregam esta figura (Jl 3.14; Mc 4.29). O tempo da colheita é chegado! Jesus também usa esta linguagem (Mt 13.24-30, 37-43).  Época de separar joio do trigo, restolho daquilo que é aproveitável. A colheita revela o joio, porque os frutos não chegaram apesar da semelhança externa. A colheita torna evidente a diferença entre a palha e o grão, mostra os solos férteis e os solos pedregosos, mostra se a semente conseguiu superar os espinhos ou se se secou no meio  deles. Colheita é tempo de juízo…Colheita é tempo de saber o que se pode aproveitar e o que precisa ser jogado no fogo, se o que temos são grãos maduros, ou apenas palha seca, pronta para ser queimada e jogada fora…

2. Metáfora do lagar – (Ap 14.17-20). Onde as uvas eram espremidas após a colheita para a produção do suco e do vinho (Lm 1.15; Is 63.3). As uvas eram esmagadas com os pés e o suco era recolhido num recipiente onde era levado para a fase da fermentação e então transformado em vinho. Naquele lagar será esmagada a soberba, todo orgulho e prepotência humana e dos poderes políticos. Aquele será o lagar onde a auto-suficiência e a glória humana serão destruídos e toda altivez será desmascarada. Este lagar é o lugar onde cessam as tentativas da autoconfiança e é revelado o perigo da indiferença a Deus e aos seus valores.
O último versículo deste capítulo descreve que o sangue do lagar correu numa extensão de “1260 estádios” (Ap 14.20). Que significa isto? Ladd afirma que 1260 estádios é o comprimento da Palestina, de Norte a Sul, cerca de 300 km e que o sangue inundaria a terra de Israel até uma altura de 1 ½ m, sendo a figura de um julgamento radical, que destruiria qualquer vestígio de maldade e hostilidade contra o reinado de Deus.[4]

6.   O céu é lugar de bem-aventurança para os fiéis – (Ap 14.13).  Logo após as terríveis profecias falando do julgamento das nações e dos ímpios, existe uma promessa graciosa para o seu povo. Promessa de esperança e conforto. Para pessoas que passam por grande perseguição e grande tribulação e angústia, esta mensagem é de profundo consolo.
Existe uma história clássica de martírio na igreja da Coréia. Uma família foi condenada a morte, por ser cristã. Como martírio, resolveram sepultar os pais com os filhos, enterrando-os vivos. Na hora do martírio, o filho insistia com a mãe para que negassem a Jesus e não fôssem executados. A mãe, consolando seu filho disse: “Não se preocupe filho, dentro de alguns minutos estaremos ceando com Jesus, nos céus”.
Este texto fala da morte de uma forma extremamente diferente de tudo o que temos na literatura, nos cinemas e na nossa experiência humana. Para nós, morrer é uma experiência dramática, sofrimento indescritível. Na Bíblia, morte de pessoas é uma experiência de encontro com Deus. “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Sl 116.15).  Neste texto lido vemos a expressão: “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor” (Ap 14.13).  O Problema não é morrer, mas morrer no Senhor. Morrer no Senhor é descansar das nossa fadigas e entrar no gozo celestial. Paulo afirma “que morrer, e estar com Cristo,  é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23).

CONCLUSÃO


Boff afirma: “Quando o mundo tiver atingido sua meta, quando a história tiver passado, e o ponto alfa coincidir com o ponto ômega, então dar-se-á a grande revelação do desígnio de Deus e de toda a criação. Agora se faz ouvir o verdadeiro juízo de Deus, isto é: Deus fará compreender o seu pensamento (juízo) sobre todo o decurso da criacão. É o momento culminante. É hora da verdade. O que estava latente se torna patente. O que era abscôndito, fica revelado”. [5]
Então, diante de Deus estarão todas as nações. Tudo estará aberto, como um livro onde tudo pode ser lido: os pensamentos mais ocultos, as omissões mais inconscientes, as motivações mais sutis. Cada palavra, gesto e ato serão descortinados diante dos olhos daquele que tudo vê. As intenções do coração serão percebidas, o oculto revelado, tudo aparecerá no seu sentido mais profundo. Hora da verdade, de acerto de contas, da separação das ovelhas dos cabritos, do joio e trigo, dos bons e maus. Todos hão de ver, todo o seu poder. Deus fará compreender  que a história tem sentido e que caminha na direção de um encontro com o seu criador e autor. “Agora, no juízo universal, se dá a manifestação universal daquilo que ocorreu no juízo particular…a revelação cabal do juízo universal de Deus…É o dia do Senhor! Então tudo fica claro. Deus deixa sua latência bilenar e des-vela seu desígnio. Então a luz divina ilumina todas as obscuridades e decifra todos os enigmas…então a anti-fonia é integrada na sin-fonia para compor o hino da glória de Deus…Isso nos bastará, porque teremos lido o pensamento e ouvido o juízo de Deus sobre toda coisa. Amém!’ [6]

Rev Samuel Vieira




[1]   Ellul, Jacques – 1980, p. 262
[2]   Jeremias, Joachim – Jesus, Promisse to the nations -  Londres, CSM, 1958, p. 22
[3]   Beckwith, I. T – The Apocalipse of John – Grand Rapids, Baker House, 1967, p. 659
[4]   Ladd, George – 1980, p. 150
[5]   Boff, Leonardo – Vida para além da morte – Petrópolis, Vozes, 1980, p. 132
[6]   Idem, op. Cit. Pp. 134-136

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...