sábado, 30 de outubro de 2021

A Minhoca





Conta uma velha lenda que há muitos e muitos anos, em uma vasta planície do Quênia, próximo ao coração da África, os animais se reuniram em uma clareira junto ao Rio Impumelelo, para descobrirem qual deles era o mais importante dentre todos. Era uma escolha difícil. O mais importante não seria apenas o mais forte, o mais formoso ou o mais esperto, mas aquele que, por sua tarefa natural, fosse imprescindível para todos os outros, e que sobre os seus ombros e o desempenho de seu trabalho pesasse o futuro de toda a bicharada.
Assim começou o grande concurso. Os animais mais formosos foram logo tomando à frente dos outros, para desfilarem diante do júri. Da mesma forma os mais robustos abriram espaços entre a platéia e se colocaram em posição de destaque. Os pequenos e feios, coitados, foram tomando os lugares de trás. No mundo animal, quando se trata de força e coragem, vem-nos logo à mente o leão. O búfalo, o rinoceronte e o elefante também são muito fortes. Se, no entanto, falamos de beleza, a águia é a rainha; a girafa é muito elegante; a gazela é distintamente formosa e não é à toa que os homens costumam chamar as mulheres excepcionalmente belas de panteras. Em inteligência, a abelha é uma matemática quando constrói seus favos; o joão-de-barro é engenheiro construtor e o papagaio imita até a voz do homem!

O concurso prosseguia e a decisão era difícil, conforme já frisamos, pois que a beleza, a força e a esperteza não são necessariamente importantes para o reino animal, ao contrário do que se possa supor precipitadamente. "O concurso pretende estabelecer dentre todos os animais aquele a quem a mãe natureza confiou uma tarefa verdadeiramente extraordinária, importante para todo o reino animal", disse um dos jurados, esclarecendo o público e os participantes. Dito isto, o leão, que tanto rugia para chamar a atenção dos demais, ficou em silêncio, tanto quanto os demais que haviam se aproximado pretensiosamente do palanque. Foi assim que nossa amiga dona Minhoca, que havia se colocado entre os últimos dos últimos, teve o seu nome lembrado (e com muita justiça, diga-se de passagem). Embora seja ela um dos mais desprezados seres, sem nenhuma beleza aparente, foi a ela que a mãe natureza confiou uma missão absolutamente fundamental para todo o reino: é a responsável por cavar inúmeros túneis na terra, os quais levam o ar atmosférico e minerais até as raízes de todas as plantas, fazendo-as crescerem fortes e saudáveis. Ainda que D. Minhoca não tenha ouvidos, olhos ou nariz, e apenas uma boca, sua importância é infinitamente superior à força do leão, à beleza da águia ou à inteligência da abelha.
Veja, caro leitor, como nem sempre os critérios humanos de julgamento dão importância ao que realmente é importante. Não foi assim que desprezaram ao nosso Senhor Jesus? Está escrito na Bíblia: "...não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca." (Isaías 53.2-7). Foi o próprio Senhor Jesus quem nos ensinou, dizendo: "Aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande." (Lucas 9.49).

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Troque a dor por lembranças.

 


No dia 12 de Agosto de 2021, faleceu de Covid-19, o ícone da teledramaturgia brasileira Tarcísio Meira trazendo comoção pública e familiar. Mocita Fagundes, sua nora, fez uma belíssima declaração publicada em muitos jornais: “O luto dói, o luto exaure a gente. Mas o luto também “te exige” um… recomeçar.  O exercício é trocar a dor pelas lembranças lindas.”

Que gigantesco desafio é este para pessoas que passam por grandes perdas. O problema é que, nem sempre a dor é facilmente elaborada, e assim transformamos a dor em mera dor. Ela não traz reflexão nem maturidade, e nos leva a um movimento fetal de introversão, não permitindo que saiamos do seu macabro ciclo. Quando a dor se torna tão onipotente, é impossível superá-la, e isto nos leva a uma paralisia pessoal. A dor prevalece e se torna senhora...dominando todas as áreas da vida.

Muitos conseguem transformar a dor em lembranças lindas. A saudade profunda se torna algo encorajador, levando a um aprofundamento e trazendo vida, generosidade, solidariedade, nos deixando mais humanos. Em alguns casos, um senso de enorme gratidão por ter sido abençoado de participar de uma vida que deixou tantas lembranças e se foi, na maioria das vezes, bem mais cedo que queríamos...

Sempre me surpreendi com as palavras de Cristo na hora em que ele distribuía o pão e vinho aos seus discípulos. “Tomando o pão, deu graças e repartiu dizendo: “Este é o meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Espantoso! Como dar graças a Deus por algo que aponta para seu sofrimento, para seu martírio e para a cruz? Aliás, Em essência, a palavra “Eucaristia” significa “ação de graças”, não é isto surpreendente?

O grande segredo é que Jesus não olhava a dor como mera dor. Ele via a dor como algo mais profundo. Sua dor apontava para uma oferenda de si mesmo, para algo redentivo. Sua morte trouxe vida. 

Tenho muito medo de fazer reflexão em cima da dor do outro, mas ao mesmo tempo, não posso me privar da possibilidade de ajudar aqueles que sofrem com uma reflexão que encoraje e ajude a dura caminhada no luto e nas doloridas perdas. Se pudermos transformar a dor em boas lembranças, o luto em algo produtivo, certamente isto será muito produtivo e cresceremos espiritualmente.

“Não é só pela morte que temos que sofrer. É pela vida. Pelas perdas. Pelas mudanças. Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive. O luto vem em seu próprio tempo para todos. À sua própria maneira. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. E deixar pra lá quando podemos.” (Grey’s Anatomy)

Rev Samuel Vieira. 

O Segundo tempo

 



Os torcedores de futebol conhecem bem esta expressão. O jogo de futebol é dividido em duas etapas, e muitas vezes, o resultado do primeiro tempo é um desastre, mas subitamente, surge um fato novo, um gol inesperado, a expulsão de um jogador do time adversário, ou a mudança no ânimo dos jogadores, e o segundo tempo torna-se surpreendente.

Bob Buford, um bilionário texano, dono de uma grande rede de telecomunicações americana, escreveu o livro “A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida”. Para ele, a vida de um ser humano divide-se em duas etapas. Na primeira, a prioridade é a formação acadêmica, a luta pelo emprego, para se encaixar no mercado de trabalho, casar, criar filhos, e se firmar responsavelmente e com solidez na vida.

Nesta fase, ele luta para alcançar o sucesso, a realização profissional e o sustento de sua família. As pessoas são resistentes, agressivas nas suas ambições, aguerridas e quase incansáveis. As oportunidades estão diante dele que as agarra com tenacidade.

No segundo tempo da vida, ele descobre que suas conquistas pessoais, sucesso, não são suficientes para dar sentido, nem trazer plenitude à vida. Ser bem sucedido e encontrar significado são duas coisas completamente diferentes. A existência sem sentido gera frustração, angústia e vazio. 

Quase sempre nos vemos em um ou outro destes momentos da vida. Relutante ou corajosamente enfrentamos desafios. Muitas vezes entramos para o “vestiário” antes do segundo tempo, com um senso enorme de fracasso e derrota, mas podemos ser surpreendidos pelo desenrolar do novo tempo. 

Uma famosa loja de casacos de Londres fez uma afirmação magistral: “Estamos há 127 anos no mercado, já vimos de tudo. Tivemos períodos de grande sucesso, mal conseguindo atender os produtos que oferecemos, ganhamos muito dinheiro, expandimos a fábrica, fizemos muitas contratações. Também já passamos por duas guerras mundiais, nossa loja foi incendiada, fomos assaltados duas vezes, passamos pela Grande Depressão, já decretamos falência mas ainda assim continuamos no mercado. Você deve estar perguntando porquê? A razão é simples: Não queremos perder o próximo capítulo.”

O conhecido pensador cristãos G.K. Chesterton afirma: “Fé é aquilo capaz de sobreviver a um estado de ânimo.” Então, quando estiver desencorajado considere o seguinte: Ainda temos todo um segundo tempo de jogo, não é hora de desanimar.

Rev Samuel Vieira.

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...