Introdução:
Entre os 10 mandamentos, talvez nenhum seja tão questionado em nossos dias quanto este. Muitas vezes as novelas e filmes nos levam a torcer para que o adultério dê certo, contudo, é bom lembrar que a quebra de qualquer mandamento tem a ver com a quebra do primeiro mandamento que diz: “não terás outros deuses diante de mim”. O problema não é o que praticamos, mas algo muito mais profundo que vai em nosso coração. Quando amamos outras coisas além de Deus, começamos também a valorizar e a negar as ordenanças de Deus.
Adultério tem invadido a nossa sociedade com uma força jamais anteriormente conhecida. O assunto é inevitável. Televisão, cinema e músicas têm explorado com maestria as tramas do relacionamento familiar. Os escândalos de ordem sexual não são mais prerrogativas de jornais baratos e sensacionalistas.
A revista Psychology Today afirma que 92 por cento dos entrevistados em uma pesquisa sobre adultério declararam que monogamia é algo de “grande importância.” Porém, 45 por cento dessas mesmas pessoas admitiram o seu envolvimento em uma relação ilícita com a quebra dos seus próprios votos matrimoniais.
I. Por que as pessoas adulteram?
1. Mito da grama mais verde- As pessoas começam a comparar seus cônjuges com outros. Eles parecem tão glamourosos, bonitos, educados. Parece que a outra pessoa não tem cólica menstrual nem mau humor, não tem dificuldades financeiras nem dor de cabeça e ansiedade. Isto gera um fator de atração rumo ao desconhecido. Muitos são apanhados nesta armadilha.
2. Expectativas irrealistas em relação ao cônjuge – Casamos idealizados e achamos que o outro vai poder preencher nossas fantasias e sonhos. Em geral, não sabemos de fato com quem vamos nos casar, já que enxergamos o outro não com a ótica correta, mas com a visão do apaixonado. Romantizamos e idealizamos relacionamentos, pessoas e coisas e o resultado é dramático: O príncipe encantado não existe.
3. Desejo de auto-afirmação – Todos passamos por fases nas quais nossa auto-estima fica muito baixa. Quando isto acontece, tentamos de uma forma desesperada resolver o dilema buscando soluções baratas e alternativas heterodoxas. Nestas horas, o que procuramos é afirmação interior. Buscamos os ídolos do coração para satisfazer nossa sede interior de sentido (Ez 14). O sexo masculino, de forma muito direta é atingida por este desejo de “masculinidade”, e corre atrás de outros estímulos pecaminosos e anti-cristãos para resolver o dilema da perda de sua libido e desejo sexual. Por isto se fala da idade do lobo, quando o homem busca “a presa” para devorar. Em geral, as conseqüências são espiritualmente danosas e socialmente trágicas.
4. Mente poluída – Numa sociedade saturada por sexo e pornografia, passamos a alimentar nosso mente com imagens e pensamentos pecaminosos. Alimentamos nossas fantasias e desejos com literatura, fotografia, filmes e conversas que trazem impureza moral para o nosso coração. Em geral, pessoas que caem em adultério estão se alimentando também de pornografia e literaturas perniciosas. Por isto a Palavra de Deus nos exorta a termos uma “mente renovada” (Rm 12.2) e santificada pelo Espírito Santo.
5. Estilo de vida desprotegido – Howard Hendricks afirmou que lideres cristãos que caíram em pecados sexuais, possuíam três denominadores comuns:
1) Eles não gastavam tempo com Deus;
2) Não prestavam contas da sua vida;
3) Nunca imaginaram que isso poderia acontecer com eles.
O descuido espiritual traz graves danos espirituais para a alma. Por isto Jesus nos encorajou dizendo: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação, o espírito, na verdade é forte, mas a carne é fraca”.
6. Compromisso inconsistente – Gente que relativiza seus votos com Deus e com a família. Casamento não se mantém por causa do amor (sentimento), mas pelo compromisso assumido.
A Palavra de Deus nos ensina que alianças devem ser levadas a sério, e que quando assumimos uma aliança esta não deve ser barateada ou enfraquecida.
“O Senhor foi testemunha da aliança entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira e a mulher de tua aliança. Ninguém com um resto de bom senso o faria. Mas que fez um patriarca? Buscava descendência prometida por Deus. Portanto cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher de sua mocidade. Porque o Senhor Deus de Israel diz que odeia o repúdio; e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o Senhor dos Exércitos; portanto cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis” ” (Ml 2.14-16).
Dr. Ruth Westheimer, terapeuta, disse na NBC Today Show
"As gerações passadas não conversavam sobre sexo; a nossa não conversa sobre moralidade" (7/5/88). Nossa geração tem medo de tocar em áreas controvertidas. No entanto, adultério é expressamente proibido: “Não adulterarás” (Ex 20.14 e Dt 5.18).
O relacionamento que Deus estabeleceu para o homem e a mulher é heterossexual, monogâmico e perpétuo, e considera importante a fidelidade.
Mas, o que é mesmo adultério?
A tendência nossa é dar uma definição meramente lingüística: “Infidelidade conjugal; prevaricação”, mas tal conceito é muito pobre para aquilo que as Escrituras nos ensinam. A Bíblia enfatiza a espiritualidade da lei. A lei de Deus é espiritual no sentido de que atinge os desejos mais profundos do coração. Portanto, a lei de Deus não trata apenas do ato praticado, mas lida diretamente com os impulsos e anseios do coração.
Por esta razão Jesus enfatiza que adultério não é um problema só da ação do pecado, mas também dos desejos e inclinações do coração. O pecado atinge os afetos, penetra na essência de nosso ser.
Jesus redefiniu a lei de Moisés: "
“Você ouviram o que foi dito, Não adulterarás. Mas eu vos digo: qualquer que olhar uma mulher com desejo, já cometeu adultério" (Mt 5.27-28). Jesus condenou não somente o ato do adultério, mas aponta para o fato de que adultério possui raízes bem mais profundas. Jesus nos convida a olhar o nosso coração, a irmos ao encontro de nossas fontes internas. O pecado se encontra no coração.
II. Prevenindo-se contra adultério: Creio que não poderia deixar de apontar algumas saídas para vencermos a angustiante realidade do adultério.
1. Vigie sua mente –Esteja atento aos movimentos de seu coração.
Muitas vezes deixamos nossas mentes se ocuparem de pensamentos, imagens, idéias, que ferem o coração de Deus. Por isto a Palavra de Deus nos exorta:
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv. 4:23).
Antes da prática de qualquer pecado, a mente precisa estar envolvida. É do coração, nosso ser interior, que procedem todas as fontes da vida. O adultério passa primeiro pela mente e pela fantasia, portanto, guarde seu coração.
É interessante que Jesus não nos recomenda, diante da tentação, a apenas a orar, mas também a vigiar. Vigie o que tem lido, pensado e visto. Vigie os movimentos do coração, se assuste com idéias que estão enfraquecendo a sua vida com Deus e seus princípios morais. Ore por isto e traga seu coração para ser tratado por Deus.
2. Firme seus compromissos com os padrões de Deus – Se não entendermos que os princípios de Deus são para nossa própria vida, e que Deus quer nos proteger através deles, jamais evitaremos o pecado.
Satanás leva-nos a pensar que podemos pecar que não há juízo. De alguma forma somos levados a pensar que não há consequências espirituais para aquilo que fazemos. Quando estamos comprometidos com a Palavra de Deus, resistimos às tentações, por causa do temor a Deus, por isto. O salmista diz: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119.11). Guardar a Palavra de Deus livra-nos de pecar contra o Senhor.
3. Mantenha relacionamentos corretos com pessoas do sexo oposto – “...às mulheres idosas como a mães, às moças, como a irmã, com toda pureza” (1 Tm.5.2).
Certo líder cristão encontrou-se atraído em seus pensamentos por uma jovem de sua igreja. Depois de meses de racionalizações, finalmente admitiu a si mesmo que estava constantemente buscando razões para se encontrar com aquela pessoa. Ele resolveu assumir a seguinte postura: “Eu só me encontrarei com ela quando for apenas e estritamente necessário, e gastarei apenas o tempo necessário, só me encontrarei com ela quando outras pessoas estiverem por perto”. Com o passar de alguns meses, seu relacionamento com aquela pessoa voltou ao estado original, saudável, da mesma maneira como para com outras pessoas.
Tome cuidado com aquela pessoa com a qual você gosta de mandar mensagens “inofensivas”, “emojis”, recadinhos o tempo todo. Você pode até alegar que não há nada demais, e realmente não há nada demais nisto, mas considere a intensidade com que você tem procurado estar ao lado desta pessoa, e ainda mais seriamente, como você percebe seu coração diante disto... não se deixe enganar.
4. Pensando seriamente nas conseqüências do adultério – Satanás tenta convencer de que as coisas não são assim tão sérias.
Dietrich Bonhoeffer em seu livro Tentação declara: “Quando a cobiça assume o controle, Deus se torna irreal para nós. Tome cuidado com seu coração quando você começa a racionalizar quanto à questão da fidelidade.
O pecado é sério aos olhos de Deus. “Não vos deixeis enganar, aquilo que o homem semear, isto também ceifará” (Gl 6.7). Considere o exorbitante preço da queda: Ferir o coração de Deus, ministérios destruídos, dores à igreja de Cristo e à família, perda da credibilidade, culpa, perda do respeito próprio, memórias que não se apagam, vitória do inimigo e derrota do evangelho.
5. Volte para a graça de Deus – Oséias diz o seguinte: “Vinde e tornemos para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará, fez a ferida e a curará” (Os 6.1).
Embora este texto de Oseias seja uma referência oportunista que algumas pessoas insinceras estavam fazendo diante de Deus, precisamos recordar que estamos diante de uma grande batalha. A graça de Deus e a dependência do Espírito Santo são fundamentais para nossa caminhada de fé.
Arrependimento e confissão ainda são os caminhos de Deus para o perdão, reconciliação e restauração. “Aquele que confessa e deixa alcança misericórdia, mas o que endurece o seu coração, cairá no mal” (Pv 28.13,14).
Conclusão:
Temos a tendência de ver os mandamentos de Deus como algo restritivo, punitivo e oposto à nossa felicidade, entretanto, o objetivo de Deus nunca foi o de atar um fardo pesado sobre nossos ombros, e para roubar de nós a nossa plenitude. Seu desejo era gerar vida de alegria e regozijo em nós. Seu propósito ao nos dar sua lei, era de nos dar realização. “Não desampares a sabedoria, e ela te protegerá; sim, com tudo o que possuis, adquire o entendimento” (Pv 4.6). Guarde os mandamentos, “porque são vida para quem os acha e saúde para seu corpo” (Pv 4.22).
O lar é o primeiro universo da felicidade do homem.
O adultério sempre envolve mentira, traição, engano. Quem já passou por experiências em família, sabe quão dolorido é o processo do adultério. As novelas e filmes tendem a minimizar o efeito devastador que o adultério traz dentro de casa, mas centenas de famílias são destroçadas por causa da infidelidade conjugal.
A fidelidade do casal ensina respeito, fidelidade, valor. Deus retira aqui a tendência comum nos casamentos de usar, dispor e tratar o outro como mero objeto.
O lar que se rege por tais comportamentos, ensina respeito, dignidade, igualdade, compreensão, confiança mútua. Esta beleza é retirada quando casais se orientam pela mentira, traição e falsidade. Adultério quebra a unidade essencial de um casamento, pois fere princípios relacionados ao afeto. Na verdade, o aspecto sexual aqui está em segundo plano, o que se tem em vista é a ética matrimonial e o coração. O adultério faz do outro um objeto e trai a confiança e a relação de dignidade que devem existir dentro do casamento.
Por tudo isto e muito mais, Deus nos deu o sétimo mandamento: “Não adulterarás!” Esta lei nunca perdeu seu prazo de validade, e nunca prescreveu.