TEMA: SAMUEL, OUVIDOS DE SERVO.
TEXTO: 1 Sm 3.10.
introdução:
"Samuel" significa "o nome de Deus". Sua mãe chamou-o assim porque desejava que o nome do Senhor fosse exaltado em sua vida. Ela disse: "Do Senhor o pedi" (1 Sm 1.20). Tal declaração pode ser entendida como: "Tenho pedido ao Senhor (um nome de Deus) para ele". De fato, Samuel dignificou o nome de Deus perante o seu povo. Liderou a nação de Israel num avivamento espiritual e num longo período de paz.
Embora fosse apenas um menino, Samuel recebeu um chamado para uma obra especial. Por que isso aconteceu? A Bíblia diz que "naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram freqüentes" (1 Sm 3.1). Se Deus raramente falava a alguém, por que falou a Samuel? Porque aquele jovem sabia ouvir!
"Fala, porque o teu servo ouve", foi uma frase que marcou a vida de Samuel. Mais do que uma resposta a revelação inicial do Senhor, tal afirmação se constituiu numa diretriz que norteou seus passos e transformou-o num grande homem. Samuel não ouvia o Senhor de uma maneira qualquer. Ele o escutava com ouvidos de servo. O que isso significa?
O que são ouvidos de servo?
Um músico não ouve uma melodia da mesma forma que as outras pessoas. Ele a escuta com ouvidos de músico: analisa a harmonia, o ritmo, o volume, a afinação dos instrumentos e das vozes, e assim por diante. O mesmo se dá na esfera espiritual: se desenvolvermos ouvidos de servo, entenderemos a palavra de Deus de um jeito especial.
Que tipo de ouvidos são esses?
1-Ouvidos atentos. Deus falou "tendo-se deitado também Samuel, no templo do Senhor, em que estava a arca, antes que a lâmpada de Deus se apagasse" (1 Sm 3-3). Aquele moço procurou uma hora calma e um lugar tranqüilo para ouvir Deus falar. Esse é um grande exemplo para nós. Num mundo tão agitado - no qual tantos sons concorrem com a voz do Altíssimo - precisamos cultivar o hábito de orar e meditar, aquietando-nos e permanecendo atentos àquilo que Deus tem a nos dizer.
Já aconteceu de você estar conversando com alguém e, a certa altura, perceber que a pessoa não estava prestando atenção às suas palavras? O que você fez? Provavelmente apontou-lhe o fato ou, simplesmente, parou de falar. Afinal, por que continuar se pronunciando se não há ninguém disposto a escutá-lo? Da mesma forma, o Espírito Santo deixará de falar-nos se não dermos importância à sua voz.
O profeta Isaías escreveu: "O Senhor Deus me deu língua de eruditos, para que eu possa dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que eu ouça como os eruditos" (Is 50.4). Isaías era um homem que tinha o que falar porque dedicava tempo a ouvir. O mesmo pode ser dito a nosso respeito?
2-Ouvidos obedientes. O Senhor não se disporá a nos falar se não estivermos prontos a segui-lo. Antes de se revelar a Samuel, Deus havia falado a Eli. Advertira o sacerdote quanto ao mau comportamento de seus filhos e à sua omissão como pai. Todavia, Eli não fez nada a respeito. Então, o Senhor decretou: "Naquele dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado com respeito à sua casa; começarei e o cumprirei. Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqüidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu" (1 Sm 3.12,13).
Ter ouvidos de servo significa estar pronto a obedecer. Quando dizemos: "Fala, porque o teu servo ouve", estamos perguntando a Deus: "Quais são as suas ordens?" Um servo não indaga alguma coisa ao seu senhor por simples curiosidade. Ele não diz: "Quero conhecer a sua vontade, mas não estou disposto a cumpri-la". Devemos estar cientes de que Deus só falará conosco se estivermos prontos a seguir as suas orientações.
3-Ouvidos voluntários. Ter uma boa disposição para fazer aquilo que o seu senhor espera é essencial para que um servo seja considerado fiel. Não basta obedecer: e' preciso fazer isso de boa vontade. Não é suficiente cumprir uma obrigação: é necessário envolver-se com a obra de tal maneira que se dedicar a ela seja considerado um privilégio.
Nos dias do profeta Ezequiel, muitas pessoas se dirigiam aos cultos a fim de ouvir a voz de Deus. Não a escutavam, porém, com um espírito voluntário. O Senhor disse ao profeta: "Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois, com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro. Eis que tu és para eles como quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra" (Ez 33-31,32). Ouvir as pregações era, para aquelas pessoas, uma espécie de entretenimento. Parece que esse é um problema muito comum hoje em dia.
ILUSTRAÇÃO: Um homem estava esperando por sua esposa na frente do templo. Quando uma senhora saiu, ele perguntou:
— O sermão já acabou?
— Não, respondeu a mulher, está começando agora.
— Como assim?, tornou o marido. Quer dizer que o pastor começou a pregar neste momento?
— Nada disso, respondeu ela. Ele já parou de falar. Mas é agora que nós vamos começar a praticar o que ele falou.
Aquela senhora sabia a diferença entre o sermão pregado e o sermão vivido. E quanto a nós?
O que pode nos impedir de ter ouvidos de servo?
Há muita gente sofrendo de "surdez espiritual". Essas pessoas não são capazes de ouvir a voz de Cristo, porque não se dispõem a escutá-lo com ouvidos de servo. Às vezes, chegam a reclamar dos pregadores e das igrejas. Mas o fato é que existe um tampão nas suas orelhas. É por isso que não se sentem abençoadas como os que estão ao seu lado.
O salmista escreveu: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos" (Sl 19-1). Como aquele homem era capaz de escutar a voz do Senhor tão claramente na natureza? Ele buscava o Criador com um coração sincero! Sua oração foi: "As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!" (Sl 19-14.)
Você também pode ouvir o Senhor claramente, e ser abençoado pela certeza da sua presença. Para isso, o que tem de fazer é desentupir os canais auditivos da sua alma.
Quais são as coisas que formam a "cera espiritual" dos seres humanos?
1-Pecado. A desobediência e a rebeldia endurecem o nosso coração, danificam a nossa sensibilidade e cauterizam a nossa consciência. Nenhum pecado é inofensivo. Se dermos lugar à iniqüidade em nossa vida, concessões aparentemente insignificantes irão se somar umas às outras até formarem uma crosta impenetrável.
Dwight L. Moody, grande avivalista do século XIX, escreveu na primeira página de sua Bíblia: "Este livro me fará evitar o pecado, ou o pecado me fará evitar este livro". Eis aí uma grande verdade! Se você sente que Deus não lhe tem falado poderosamente, deve investigar sua vida e procurar por pecados não confessados. Há uma grande chance de que o problema esteja aí, pois as nossas transgressões nos afastam da Palavra do Senhor.
2-Orgulho. Quando passamos a confiar demais em nós mesmos, deixamos de procurar a orientação dos céus. É como se disséssemos: "Eu já sei de tudo; para que ouvir o Senhor?" Com relação aos israelitas que caíram nesse erro, o profeta escreveu: "Fizeram o seu coração duro como o diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito, mediante os profetas que nos precederam; daí"veio a grande ira do Senhor dos Exércitos" (Zc 7.12). Não alimente um espírito arrogante. Quando o homem está cheio de si, não sobra nenhum lugar para Deus.
3-Mágoa. Existem ocasiões em que o grito do aborrecimento e o clamor da amargura abafam a voz do Redentor. O ressentimento e a mágoa são poderosos "tampões espirituais". Eles têm a capacidade de interromper nossa comunicação com Deus. Por isso a Bíblia diz: "Afasta, pois, do teu coração o desgosto e remove da tua carne a dor" (Ec 11.10).
Você já escutou a expressão "cego de raiva"? Pois bem: o ressentimento talvez não afete a nossa visão, mas certamente avaria a nossa audição! Não é possível escutar a voz de Cristo e a do orgulho ferido ao mesmo tempo. Por maiores que sejam as ofensas que tenhamos sofrido, precisamos perdoá-las. Caso contrário, nossa conexão espiritual será rompida, e o diabo levará vantagem sobre nós (2 Co 2.11).
4-Preguiça. Certa ocasião Jesus falou a um grupo de pessoas que o procuravam apenas porque admiravam os seus milagres. O Salvador confrontou aqueles homens e expôs-lhes o alto preço do discipulado. "Tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?" (Jo 6.60.) Em seguida, aquelas pessoas viraram as costas e deixaram de seguir a Cristo.
Conclusão:
Há muitos que não ouvem a voz de Deus simplesmente porque não querem escutá-la. O que o Senhor tem a dizer-lhes não é o que gostariam de ouvir. Se o Todo-Poderoso lhes aponta um caminho difícil, acham mais fácil se fazer de desentendidos, afirmando que não sabem de nada. Precisamos nos livrar da cera da preguiça. Se o pior cego é aquele que não quer ver, então o pior surdo é o que não está disposto a escutar.
Com os seus ouvidos de servo, Samuel se tornou um grande homem. Ele se firmou como um líder querido e um juiz respeitado pelo seu povo. As Escrituras dizem que "o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra" (1 Sm 3.19). Por quê? Porque ele sabia falar? Não! Porque sabia ouvir!
Ser capaz de ouvir a voz do Senhor e' algo muito importante. Peça a Deus que lhe dê ouvidos de servo. Dependa do auxílio divino para ser uma pessoa atenta, obediente e prestativa. Disponha-se a combater incansavelmente o pecado, o orgulho, a mágoa e o comodismo. A sua felicidade - assim como a de muita gente - depende disso.
Quando somos capazes de escutar a voz de Deus, recebemos conforto, orientação, capacitação e discernimento. Nossa existência se reveste de um novo significado. Nossos temores dão lugar à confiança. Nossas lutas são convertidas em vitórias. O que poderia ser mais importante? Estabeleçamos, portanto, o firme propósito de sermos bons ouvintes do nosso Deus. Como Samuel, digamos: "Fala, porque o teu servo ouve".
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