quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

EM PATOS PB: IPB VIROU FOGUEIRA EM NOITE DE SÃO JOÃO.




Era a semana de festas juninas, entre o “São João” e o “São Pedro”, e o Frei Damião estava em Patos com suas “santas missões”.
O repórter Euricles Cavalcante Macedo, do Jornal Brasil Presbiteriano, em um artigo intitulado “Frei Damião transforma templo presbiteriano em fogueira de São Pedro”, relata: “Frei Damião foi, ao contrário de santo, um implacável perseguidor de evangélicos, um terrorista intolerante, comandante-chefe de uma milícia de fanáticos”.(3)
As igrejas sertanejas, tanto as católicas como as evangélicas, tinham nos seus tetos alto-falantes (que, por essas bandas, chamam de difusoras). Assim, as pessoas do lado de fora das igrejas podiam ouvir as músicas, anúncios e até toda a missa ou culto.
Euclides Cavalcante Macedo, descreve:
Almir da Rocha conta que naquele dia “a Igreja Presbiteriana de Patos – pastoreada pelo reverendo Jônatas Barros de Oliveira, falecido em 96 – estava com o serviço de som externo ligado e tocando, como sempre fazia, músicas evangélicas”. Foi então que o padre Manoel Dutra, pároco local, dirigiu-se ao templo presbiteriano “acompanhado de grande multidão e entrou na igreja dos crentes, determinando que o som fosse desligado e que somente voltasse a funcionar depois que frei Damião deixasse a cidade”. O técnico do serviço de som desligou o aparelho e dirigiu-se à Delegacia de Polícia, onde registrou queixa ao capitão Severino Dias, que autorizou a execução das músicas sacras.
Quando o padre, que executou as ordens do frei Damião, ouviu soarem novamente as músicas evangélicas, “reuniu um novo grupo de fanáticos e dirigiu-se à Igreja Presbiteriana. Mas o capitão Severino desaprovou a atitude do religioso e ordenou-lhes que voltassem para sua igreja”.
No dia seguinte, 28 de junho, o capitão Severino Dias estava exonerado do cargo de delegado de polícia de Patos. O frei Damião, agora, estava livre para agir. Naquele clima de tensão, os crentes ficaram totalmente inseguros. 
Eram vinte e duas horas, véspera de São Pedro. O clima de terror já estava instalado na pacata cidade de Patos. Através do serviço de som, anunciava-se que “não ficará nesta cidade nem rastro de protestante”.(4)
Era noite do dia 28 de junho de 1958 e estava tudo pronto para a missa começar do lado de fora da Igreja de Santo Antônio. A presença do Frei Damião arrastou multidões para o local onde o frade, dentro de alguns momentos, falaria de cima de um palanque improvisado.
O povo, anteriormente já instigado e inflamado pela liderança católica contra os evangélicos, partiu em direção à Igreja Presbiteriana em Patos, que ficava a cerca de quinhentos metros de distância, e a destruiu.
Frei Damião
                                                                                                                                              
O Frei Damião, um grande perseguidor dos evangélicos, pregava: “Não ficará nesta cidade nem rastro de protestantes”.








Enedina Xavier Inojosa, que na época tinha 30 anos e residia a poucos quarteirões da Igreja Presbiteriana, nos relatou: “Estava dormindo à noite e ouvi algumas explosões – eram mais fortes do     que as bombas de São João –, acordei e os vizinhos falavam que tocaram fogo na igreja dos crentes”. Enedina só foi à igreja na manhã seguinte e a encontrou “queimada, suja e quase totalmente destruída”. Perguntei se ela sabia quem tinha mandado os católicos fazerem aquilo e a irmã foi bastante cautelosa: “o povo dizia que foi o Frei Damião e o padre que mandaram, mas eu não posso afirmar isso, pois não vi e nem ouvi, e só fui à igreja no dia seguinte”.
Enedina, ao lado do pastor Ermilton Gonçalves de Barros, em frente da Igreja Presbiteriana em Patos. Reconstruída no mesmo local da que foi incendiada.
Enedina Xavier Inojosa
O fotógrafo profissional Adgerson de Morais Porto, que à época tinha 28 anos, gravou espontaneamente uma entrevista conosco. Ele não perde a oportunidade para afirmar que era “o fotógrafo oficial” dos eventos paraibanos, que fotografou várias inaugurações, inclusive as passagens do então presidente Getúlio Vargas pela Paraíba.
Depois que a turba enfurecida partiu da Igreja Presbiteriana, Adgerson Porto pegou sua câmara fotográfica e foi por conta própria fotografar a bagaceira.
“Era de dar dó. Uma coisa muito triste. A igreja estava toda queimada, por dentro e por fora, o teto tinha vários rombos, nas paredes estavam escritos palavrões e desaforos aos crentes. Toda a bancada, o púlpito, a mesa, as portas e as janelas foram jogadas para fora da igreja e consumidas pelas chamas. Fotografei tudinho e entreguei algumas fotos ao pastor Jônatas Barros de Oliveira e não tenho mais os negativos”.
Arnaldo Ferreira do Nascimento, que na época morava na rua 18, em Patos, participou do motim levando um motor para atiçar fogo na madeira que estava sendo retirada do templo. Arnaldo, algum tempo depois, se converteu e hoje é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, no estado de São Paulo. Glória a Deus!
Após destruírem a Igreja Presbiteriana em Patos, a multidão partiu para destruir a Primeira Igreja Batista em Patos, mas o prefeito José Cavalcante e a polícia chegaram a tempo, impedindo que houvesse uma agressão semelhante. Alguém na multidão ainda jogou umas pedras contra a Igreja Batista, mas logo ouviu-se um disparo de uma arma de fogo, a multidão recuou, decidindo deixar a Igreja Batista intacta, retornando em procissão para “as santas missões” do Frei Damião.
José de Sá com sua esposa Francisca: “O pastor Jônatas passou a pregar exibindo as cinzas da igreja incendiada”.
José de Sá
O pastor Jônatas Barros de Oliveira foi ameaçado de morte e fugiu de trem para a cidade de Pombal. O irmão em Cristo José de Sá lembra-se daquele dia: “Fui eu que apanhei o pastor Jônatas, em fuga, na cidade de Pombal e o transportei de jumento até um sítio. O pastor continuou pregando pelos povoados próximos, sempre levando nas mãos uma latinha com as cinzas da Igreja Presbiteriana em Patos. Ele mostrava as cinzas e dizia: destruíram o templo, mas não a igreja”.
Apenas tornando uma longa história curta, alguns anos mais tarde, o templo foi reconstruído no mesmo local do anterior e hoje a Igreja Presbiteriana em Patos conta com quatro congregações, um ponto de pregação, além de uma escola.



O Frei Damião de Bozzano. “Santo” para os católicos e “terrorista” para os evangélicos.
Frei Damião



















Bibliografia:
  1. Pernambuco de A/Z. Biografia do Frei Damião. http://www.pe-az.com.br/biografias/frei–damiao.htm.
  2. Id.
  3. Artigo: “Frei Damião transforma templo presbiteriano em fogueira de São Pedro”, por Euricles Cavalcante Macedo, Jornal Brasil Presbiteriano. Órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. São Paulo, SP, Agosto de 1997, página 16.
  4. Id.
  5. Artigo: “Longa Agonia. Frei Damião tem morte cerebral aos 98 anos”, Istoé datas, 4 de junho de 1997. http://www.terra.com.br/istoe/datas/144405.htm.
  6. Id.
  7. Artigo: “Dois encontros, um só sentimento”, por Roberto Pompeu de Toledo, revistaVeja. Editora Abril, São Paulo, SP, edição 2001, ano 40, número 12, 28 de março de 2007, página 126.
Samuel F. M. Costa É médico gastroenterologista com parte de sua formação acadêmica nos Estados Unidos. Dr. Samuel Costa é um pesquisador minucioso e há muito tempo se dedica à analise e estudos de idéias controvertidas quanto à fé cristã. Em 1996, lançamos sua primeira obra literária: “A Nova Era: Um Passo Para a Manifestação do ‘Maitreya’ e da Prostituta Babilônia”. Aprofundando-se ainda mais no estudo do esoterismo, escreveu “Os Anos Obscuros da Mocidade de Jesus Cristo”. Samuel Costa reside com sua esposa e filhos na cidade de Recife, no nordeste do Brasil.

Um comentário:

  1. Deus continua com seu propósito, somo mais que vencedores em Cristo Jesus.

    ResponderExcluir

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...