sexta-feira, 13 de junho de 2014

Repensando o Progresso









O evangelho tem feito com que eu reconsidere a forma típica de pensamento que temos sobre crescimento cristão. Ele tem me feito repensar as medidas espirituais e a maturidade; o que significa mudar, desenvolver, crescer; o que a busca pela santidade e a prática da piedade realmente significam.


O que tem acontecido comigo é muito similar com o que aconteceu quando me tornei calvinista, no inverno de 1995. Tudo mudou. Eu comecei a ler a Bíblia com novos olhos. A soberania de Deus e a doçura de sua graça incondicional estavam em TODO LUGAR! Lembro-me de pensar “Como eu não vi isso antes? A Bíblia inteira fala disso.”


Bom, a mesma coisa tem acontecido comigo em relação a como eu penso sobre o crescimento cristão. Se levarmos a sério uma leitura da Bíblia que aponta para Cristo; se formos consistentes quando se trata de evitar uma interpretação moralista da Bíblia; se formos persistir em nossa devoção a um entendimento das muitas partes da Bíblia à luz do contexto maior do drama da redenção, então precisamos repensar a forma como natural e tipicamente entendemos o que significa “ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor” (Filipenses 2.12).


Em seu filme de 2008 Fim dos Tempos, o escritor, produtor e direto M. Night Shyamalan desenvolve uma trama meio descabida sobre uma toxina misteriosa e invisível que leva àquele que for exposta a ela ao suicídio. Um dos primeiros sintomas de que a vítima inalou essa autodestrutiva toxina é começar a andar para trás – sinalizando que qualquer instinto natural de prosseguir vivendo e de lutar pela sobrevivência foi revertido. O mecanismo padrão de defesa da vítima foi virado de cabeça para baixo.


Isso é, de certa forma, o que precisa acontecer conosco quando se trata da forma como pensamos sobre o progresso na vida cristã. Quando inalada, a radical, incondicional e gratuita graça de Deus reverte cada instinto natural relacionado a “sobreviver e prosperar” espiritualmente. Apenas a “toxina” da graça de Deus pode reverter a forma como pensamos tipicamente sobre o crescimento cristão.


Por uma série de razões, quando se trata de mensurar crescimento e progresso espiritual, nossos instintos naturais giram quase que exclusivamente em torno de melhoria comportamental. Isso é compreensível.


Por exemplo, quando lemos passagens como Colossenses 3.5-17, onde Paulo exorta a igreja em Colossos a “se revestirem do novo [homem]” ele usa muitos exemplos comportamentais: fazer morrer “imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus, e a ganância, que é idolatria”. Ele continua e exorta-os a abandonar “ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena no falar” e assim por diante. No v. 12 ele muda a marcha e lista muitas coisas para aplicarmos: “bondade, humildade, mansidão, e paciência” citando apenas alguns.


Mas o que está na raiz desse bom e mau fruto? O que produz tanto o bom quanto o mau comportamento que Paulo traz aqui?


Toda tentação ao pecado é uma tentação, no momento, para desacreditar o evangelho – a tentação de garantir para mim, naquele momento, alguma coisa que eu acho que eu preciso para ser feliz, algo que eu ainda não tenho: propósito, liberdade, confirmação, e assim por diante. O mau comportamento acontece quando nós falhamos em acreditar que tudo que preciso, em Cristo eu já tenho; isso acontece quando nós falhamos em acreditar na rica provisão de recursos que já são nossos no evangelho. Por outro lado, bom comportamento acontece quando recebemos e descansamos diariamente no “Está consumado” de Cristo em novas e profundas partes do nosso ser diariamente – em nossas áreas de rebeldia e descrença (o que o escritor chama de “nossos territórios não evangelizados”) esmagando qualquer sentimento de necessidade de assegurar para nós mesmos qualquer coisa além do que Cristo já havia assegurado para nós.


Colossenses 3.5-17, em outras palavras, providencia uma ilustração do que acontece do lado de fora quando algo profundo acontece (ou não acontece) do lado de dentro.


Então, voltando a Filipenses 2.12, quando Paulo nos fala “ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor” ele está tornando claro que temos trabalho a fazer – mas o que exatamente é essa ação? Ser melhor? Tentar mais? Purificar seus atos? Orar mais? Ser mais envolvido na igreja? Ler mais a Bíblia? O que, precisamente, Paulo está nos exortando a fazer? Claramente, não é uma questão de se esforço faz-se necessário ou não. A real questão é onde estamos focando nossos esforços? Estamos trabalhando duro para um melhor desempenho? Ou estamos trabalhando duro para descansar no desempenho de Cristo por nós?


Ele explica: “pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (2.13). Deus faz a Sua obra em você – a qual é a obra já realizada por Cristo. Nosso árduo trabalho, portanto, significa chegar a um melhor entendimento do trabalho dEle. Como mencionado em artigos anteriores, em suas Palestras em Romanos, Martinho Lutero escreveu, “Progredir é sempre começar de novo”. O verdadeiro progresso espiritual, em outras palavras, requer um retrocesso diário.


Eu costumava pensar que quando o Apóstolo Paulo nos diz para por em ação a nossa salvação, isso significava sair e conseguir o que você não tem – ter mais paciência, ter mais força, ter mais contentamento, ter mais amor, e assim sucessivamente. Mas depois de ler a Bíblia com mais atenção, agora consigo entender que o crescimento cristão não acontece trabalhando arduamente ou adquirindo alguma coisa. Pelo contrário, o crescimento cristão ocorre trabalhando duro diariamente em mergulhar na realidade que você já faz parte. Acreditar novamente no evangelho da graça justificadora de Deus todos os dias é o árduo trabalho para o qual somos chamados.


Isso significa que a verdadeira mudança acontece somente se nós redescobrirmos diariamente o evangelho. O progresso da vida cristã é “não o nosso movimento na direção do objetivo; é a movimentação do objetivo em nossa direção”. Santificação envolve um combate de Deus à nossa incredulidade – nossa recusa egocêntrica em acreditar que a aprovação de Deus para conosco em Cristo é total e definitiva. Isso acontece tanto quanto nós recebemos e descansamos diariamente em nossa justificação incondicional. Como G. C. Berkouwer disse, “O coração da santificação é a vida que se alimenta da justificação”.


O progresso da vida cristã não é o nosso movimento na direção do objetivo; é a movimentação do objetivo em nossa direção


2 Pedro 3.18 sucintamente descreve o crescimento dizendo “Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” Crescimento sempre acontece “na graça”. Em outras palavras, a verdadeira medida do nosso crescimento não é nosso comportamento (caso contrário, os fariseus teriam sido as melhores pessoas do planeta); é a nossa compreensão da graça – uma compreensão que envolve chegar à mais profunda expressão do incondicional amor de Deus. É também crescimento no “conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Isso não significa simplesmente aprender dos fatos sobre Jesus. Isso significa crescer no amor por Cristo por causa do que Ele já conquistou e garantiu para nós e então viver atento a essa graça. Nosso principal problema na vida cristã não é o fato de não tentarmos arduamente sermos bons, mas no fato de não acreditarmos no autêntico evangelho e não recebermos sua realidade final em todas as partes da nossa vida.


Gerhard Forde de forma perspicaz (e transparente) põe em questão as formas em que nós normalmente pensamos acerca de santificação e progresso espiritual quando ele escreve:


Eu estou progredindo? Se for realmente honesto, me parece que a questão é estranha, quem sabe até um pouco ridícula. À medida que envelheço e a morte se aproxima, eu não pareço estar ficando melhor. Tenho sido um pouco mais impaciente, um pouco mais ansioso sobre talvez ter perdido o que a vida tinha a oferecer, mais lento, com mais dificuldade para me movimentar, um pouco mais sedentário e teimoso em meus caminhos. Eu estou progredindo? Bem, talvez pareça isso, já que eu tenho pecado menos, mas talvez isso só aconteça porque eu estou cansado! É muito pesado se manter tolerando a concupiscência da juventude. Isso é santificação? Não acredito que seja. Não se deve, eu espero, confundir o erro da caduquice com santificação! Mas pode ser, eventualmente, que isso seja, precisamente, um dom incondicional da graça que me ajuda a ver e admitir isso tudo? Espero que sim. A graça de Deus deve nos levar a ver a verdade sobre nós mesmos, e a ganhar certa lucidez, certo humor, e um pouco de “pé no chão”.


Forde certamente mostra que quando paramos de narcisivamente focar na nossa necessidade de melhorar, isso é o que significa ficar melhor! Quando paramos com essa necessidade obcecada de melhorar, isso é o que significa melhorar! Recorde que o Apóstolo Paulo referiu-se a si mesmo como o pior dos pecadores no final de sua vida. Foi a sua capacidade de admitir livremente isso que demonstrou a sua maturidade espiritual – ele não tinha nada a provar ou o que proteger porque não era ele o foco!


Estou percebendo que o pecado que preciso eliminar diariamente é precisamente o meu entendimento narcisista do progresso espiritual. Eu penso demais no que eu estou fazendo, se eu estou crescendo, se estou fazendo certo ou não. Gasto tempo demais ponderando acerca de minhas falhas, ponderando sobre meu sucesso espiritual, e admirado porque, quando tudo está dito e feito, eu não pareço estar melhorando. Em suma, passo muito tempo pensando em mim e no que eu tenho feito, e pouco tempo pensando em Jesus e no que ele já fez. E, ironicamente, o que eu descobri é que quanto mais eu foco na minha necessidade de estar melhor, é ai que o pior começa a acontecer. Eu me torno neurótico e egoísta. A preocupação com o meu desempenho excede a visão do desempenho de Cristo e me faz cada vez mais centrado em mim mesmo e morbidamente introspectivo. Afinal, Pedro só começou a afundar quando ele tirou seus olhos de Jesus e se focou em “como ele estava indo”. Como meu amigo Rod Rosenbladt escreveu para mim recentemente, “Sempre que o nosso foco egocêntrico natural é acuado, abalado, voltado de si mesmo para o sangue DAQUELE Homem, para AQUELA cruz, o diabo é mais atingido”.


Assim, por todos os meios, trabalhe! Mas o trabalho mais difícil não é o que você pensa que é – sua melhoria pessoal e o progresso moral. A ação mais difícil é lavar suas mãos de si mesmo e descansar na obra completa de Cristo por você – que inevitavelmente produzirá melhoria pessoal e progresso moral. O progresso na obediência ocorre quando nossos corações percebem que o amor de Deus por nós não depende do nosso progresso na obediência. Martinho Lutero tinha um ponto: “não é a imitação que faz filhos; é a filiação que faz imitadores”.


A real questão, então, é: O que você irá fazer agora que você não pode fazer nada? Como a sua vida será quando vivida sob uma bandeira aonde se lê: “está consumado”?


O que você vai descobrir é que, uma vez o evangelho te liberta de ter que fazer qualquer coisa por Jesus, você vai querer fazer tudo por Jesus e então “quer comais, quer bebais ou qualquer coisa que fizer” você fará tudo para a glória de Deus.


Esse é o real progresso!


Pr. Tullian Tchividjian

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Onde Posso Encontrar Segurança?



Há um tempo, em outro texto que publiquei, eu destaquei que a confiança na minha transformação não é a fonte de minha segurança. Antes, a fonte de minha segurança vem da fé na substituição de Cristo. A segurança nunca parte de nós mesmos. Apenas surge como conseqüência de olhar para Cristo.

Como resultado, algumas pessoas me fizeram esta pergunta: "Mas espere um pouco... considerando que Deus nos salva e o Espírito começa sua obra de renovação em nossas vidas, essa obra de renovação interior não deveria constituir uma fonte de segurança? Não seria pelo menos um caminho para saber que estamos justificados diante de Deus?"

Quero ser bem explícito sobre o que estou falando quando trato do fundamento da nossa segurança. Na verdade, a obra santificadora do Espírito na vida do cristão dá fruto (Gálatas 5.22-23). Deus nos faz crescer na "graça e conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo". Em Cristo, morremos para o pecado e ressuscitamos para uma novidade de vida (Romanos 6.4). E esta vida nova destaca-se em novos afetos, novos apetites, novos hábitos. Começamos a amar as coisas que Deus ama e odiar as coisas que Deus odeia. Começamos a crescer dentro de nossa vida nova, ressuscitada.

Mas quando a Bíblia fala especificamente do fundamento da segurança, está fazendo a pergunta: "Como o homem pode então estar justificado diante de Deus?" (Jó 25.4). Segurança tem a ver, em outras palavras, com a confiança da consciência na absolvição final diante de Deus. Quando falamos de segurança estamos falando do julgamento final – qual será o veredicto divino final sobre nós. Nossa segurança depende de nossa certeza de que Deus no juízo final dirá "Inocente!"

A Bíblia é explícita de que Deus exige perfeição moral. Ela nos diz inequivocamente que Deus é santo e, portanto, não tolera qualquer vestígio de falta de santidade. Defeitos, manchas, ou sujeiras – por pequenos que sejam – são inaceitáveis e merecem a ira de Deus. E no caso de eu estar enganado pensando que a minha melhoria moral operada pelo Espírito desde que eu me tornei um cristão está me garantindo nota, Jesus (no Sermão do Monte) destaca o que a perfeição de Deus inclui: "Não apenas atos externos mas sentimentos e motivações internos devem ser absolutamente puros. Jesus não condena apenas o adultério mas a concupiscência, não apenas o homicídio mas a ira – prometendo o mesmo julgamento para ambos" (Gene Veith).

Em Mateus 5-7, Jesus quer que percebamos que por mais que imaginemos que estamos melhorando, a exigência "vocês devem ser perfeitos como o vosso Pai do céu é perfeito" vem a ser o alvo e não "como eu melhorei nos últimos anos", e perceber que falta-nos uma perna para ficar em pé quando temos de responder a pergunta: "Como posso estar justificado diante de Deus"? 

Nossa transformação, nossa pureza, nosso crescimento em santidade, nossos avanços morais e sucessos espirituais – despertados pelo Espírito como deveriam ser – simplesmente carecem da santidade que Deus exige. E considerando que "o veredicto inocente" depende da ausência de pecado, a segurança é em ultima instância derivada da perfeição, não do progresso.

Portanto, se Deus exige perfeição e não há segurança definitiva sem ela (Deus não está avaliando em curva, afinal), que esperança posso ter então, imperfeito como sou?

A resposta do Novo Testamento a esta pergunta é singular:

No evangelho encontra-se revelada uma justiça de Deus, uma justiça que é pela fé do começo ao fim, exatamente como está escrito: "O justo viverá por fé" (Romanos 1.17). "Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3.23-25). 

"Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça" (Romanos 4.5). A consciência recebe segurança apenas quando é criada a fé viva pelo Espírito através da proclamação do Evangelho de que Deus justifica o ímpio. A justificação de que precisamos vem de Deus "mediante a fé em Cristo Jesus, para todos [e sobre todos] os que crêem" (Romanos 3.22). A vida que vivemos, vivemos pela fé "no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gálatas 2.20). Portanto a fé é a única pedra de toque – o milagre dado por Deus de crer na impossível realidade de que Deus me perdoa e me ama por causa do que Cristo realizou em meu benefício. A segurança acontece quando o dom da fé dado por Deus, operado pelo Espírito, capacita-me a crer que estou perdoado para sempre, que a justiça de Cristo é considerada minha, de que em Cristo Deus não considera os meus pecados como sendo meus (2 Coríntios 5.19). Somos justificados (reconhecidos como justos) somente pela graça, somente através da fé, em Cristo somente. A exigência de Deus da perfeição moral foi satisfeita por Cristo em nosso lugar (Mateus 5.17). Portanto, a segurança não pode nunca ser encontrada na minha busca. Só pode acontecer pela fé – crendo naquele que "foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa danossa justificação" (Romanos 4.25).

Martyn Lloyd-Jones nos ajuda aqui: 
"Podemos expô-lo assim: o homem que tem fé é o homem que não está mais olhando para si mesmo nem vendo a si mesmo. Ele não olha para nada que ele foi antes. Ele não olha para o que é agora. Ele nem mesmo olha para o que espera ser em resultado de seus próprios esforços. Ele olha totalmente para o Senhor Jesus Cristo e Sua obra consumada, e descansa apenas nisso. Ele deixa de dizer: "Ah, sim, eu cometia pecados terríveis, mas agora faço isto e aquilo." Ele para de dizer isso. Se ele continua dizendo isso, não tem fé. A fé se expressa de uma maneira totalmente diferente e faz um homem dizer: "Sim eu pecava seriamente, vivi uma vida de pecado, mas agora sou um filho de Deus porque não estou me apoiando na minha própria justiça; minha justiça está em Jesus Cristo e Deus colocou isso na minha conta."
A verdadeira segurança, em outras palavras, fundamenta-se não em alguma palavra ou obra que vem de mim, mas na palavra do evangelho que vem de fora e nos convence do que Jesus fez. Nossa segurança está ancorada no amor e na graça de Deus expressos na troca gloriosa: nosso pecado pela justiça. João Calvino escreveu: "A fé em resumo é um reconhecimento firme e certo da benevolência de Deus para conosco, fundamentado na verdade da promessa gratuitamente concedida em Cristo, revelada a nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo" (Institutes, 1.51[3.2.7]) E, considerando que nossa fé sempre é fraca e oscilante, precisamos ser lembrados destas boas novas o tempo todo comunicadas através da pregação e confirmadas nos sacramentos.

No exemplar de Fevereiro de 2003 de New Horizons, Peter Jensen escreve:

"O evangelho do Senhor Jesus Cristo diz que o fundamento de nossa segurança é nossa justificação. Em Romanos 5.1, Paulo escreve que "justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". A fé em Jesus Cristo (que é por si mesma um dom de Deus) nos deu acesso "a esta graça na qual estamos firmes" (v.2). Não permanecemos em alguma experiência que tivemos, não estamos em qualquer progresso que tenhamos feito, não estamos em nosso sucesso na batalha contra o pecado. Permanecemos na graça de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual ele nos justificou."

Do que precisamos nos lembrar é que "diante do trono de Deus nos céus" somos (e em nós mesmos sempre seremos) imperfeitos – portanto, nenhuma segurança existe em olharmos para nós mesmos. Mas, "diante do trono de Deus nos céus, tenho uma justificativa perfeita" – e essa forte justificativa não é minha transformação imperfeita pela graça, não é o meu amor a Deus e ao próximo, não é quanto eu cresci através dos anos. Essa justificativa forte e perfeita é Jesus Cristo – sola!
Tendo morrido o Salvador imaculado,
Minha alma pecadora é considerada livre,
Pois o justo Deus está satisfeito
Quando olha para Ele e me perdoa.
Portanto, "quando Satanás me tenta com o desespero e me fala da culpa que há em mim", se olhar para dentro estou em grandes apuros. Mas, se "olhar para cima para aquele que acabou com todo o meu pecado", então, através do milagre da fé, eu posso dizer ao acusador que ruge por causa dos pecados que cometi, "eu sei que todos eles e milhares mais, Jeová não considera mais". É por causa disto (e neste contexto) que eu conto a história do velho pastor que, no seu leito de morte, disse à sua esposa que tinha certeza de ir para o céu porque não se lembrava mais de nenhuma boa obra que tivesse praticado. Sua segurança fundamentava-se pela fé onde a verdadeira segurança pode fundamentar-se: a obra perfeita de Cristo por nós, não nossas obras imperfeitas. Semelhantemente, o grande teólogo holandês Herman Bavinck foi interrogado em seu leito de morte se estava com medo de morrer, e respondeu: Eu tenho minha fé, e nela tenho tudo.

Tenha segurança: Diante de Deus a justiça de Cristo é tudo o que precisamos; diante de Deus, a justiça de Cristo é tudo o que temos.


William Graham Tullian Tchividjian é o pastor da Igreja Presbiteriana Coral Ridge em Ft. Lauderdale, Florida. É professor visitante de Teologia no Reformed Theological Seminary e neto do conhecido pregador e evangelista Billy Graham. É formado em filosofia pela Universidade de Columbia e obteve seu M.Div pelo Reformed Theological Seminary. Tullian é autor de vários livros e contribui como um dos editors do jornal Leadership Journal. Ele é preletor em diversas conferência teológicas nos EUA e faz um programa de rádio, com meditações e pregações. É casado com Kim, com quem tem três filhos Gabe, Nate, e Genna.


Traduzido por: Yolanda M.Krievin
Editor: Tiago J. Santos Filho

Por Que Devemos Ser Explicitamente Teológicos




Kevin DeYoung


Se não me engano, nossa igreja tem uma reputação de ser bastante teológica. Sei que por isso muitas pessoas têm vindo à nossa igreja. E imagino por que algumas pessoas têm saído dela, ou nem sequer nos procuraram. Mas nenhuma igreja deveria se desculpar por falar e gostar de teologia. Contudo – isto é uma importante advertência – se somos arrogantes com a nossa teologia, se a nossa paixão doutrinária é simplesmente um objetivo intelectual eticamente duvidoso, ou se somos completamente desproporcionais em nossos afetos para com outras doutrinas não tão consideráveis, então que o Senhor nos repreenda. Não devemos ficar surpresos se a teologia receber uma péssima classificação em tais circunstâncias. 

Mas quando se trata de pensar, alegrar-se e edificar uma igreja sobre fundamentos bíblicos saudáveis, deveríamos todos desejar uma igreja profundamente teológica. Eu poderia citar muitos motivos para pregar teologicamente e muitos motivos para pastorear uma congregação que ama teologia. Vou citar seis:
  1. Deus se nos revelou na sua palavra e nos deu o seu Espírito para que pudéssemos compreender a verdade. Obviamente, não precisamos dominar todos os temas das Escrituras para sermos cristãos. Deus é gracioso para salvar muitos de nós com falhas de discernimento. Mas se temos uma Bíblia, sem mencionar os empecilhos materiais quando se trata de recursos impressos, por que não gostaríamos de entender o máximo possível da auto-revelação de Deus? Teologia é saber mais de Deus. Você não gostaria que sua igreja conhecesse mais de Deus?
  2. O Novo Testamento dá muito valor ao discernimento entre a verdade e o erro. Há um depósito de verdade que deve ser resguardado. Falsos ensinamentos devem ser lançados fora. Os bons ensinamentos devem ser promovidos e defendidos. Isso não acontece com alguns candidatos a Ph.D. insensíveis que se consomem diante de microfichas. Foi a paixão dos Apóstolos e do próprio Senhor Jesus que elogiou a igreja em Éfeso por ser intolerante com os falsos mestres e que odiava o comportamento dos Nicolaitas.
  3. Os mandamentos morais do Novo Testamento são fundamentados em proposições teológicas. Tantas epístolas de Paulo têm uma estrutura dupla. Os capítulos iniciais apresentam doutrina e os capítulos posteriores nos exortam à obediência. Doutrina e vida estão sempre conectadas na Bíblia. É por causa das misericórdias de Deus, à vista de todas as realidades sólidas teológicas em Romanos 1-11, que somos convocados a entregar nossas vidas como sacrifícios vivos em Romanos 12. Conheça a doutrina, conheça a vida. Nenhuma doutrina, nenhuma vida.
  4. Categorias teológicas nos capacitam mais e nos fazem regozijar mais profundamente na glória de Deus. Verdades simples são maravilhosas. É bom cantar hinos simples como "Deus é bom. Sempre!" Se você cantar isso com fé sincera, o Senhor se agrada. Mas ele também se agrada quando podemos cantar e orar sobre exatamente como ele tem sido bom conosco no plano da salvação e no alcance da história da salvação. Ele se agrada quando nos gloriamos na obra completa de Cristo, quando descansamos em sua providência todo-abrangente, e nos maravilhamos na sua infinitude e auto-existência; quando podemos nos deleitar em sua santidade e meditar na sua Trindade e Unidade e nos maravilhar com sua onisciência e onipotência. Estas categorias teológicas não têm a intenção de nos encher a cabeça, mas nos dar corações maiores que adoram com mais profundidade e sermos mais altos porque pudemos ver melhor o que há em Deus.
  5. A teologia nos ajuda e nos ensina a nos regozijar mais profundamente nas bênçãos que são nossas em Cristo. Repito, é doce saber que Jesus nos salva dos nossos pecados. Não há notícia melhor do que essa no mundo. Mas como seu deleite será mais completo e mais profundo se você compreender que a salvação significa eleição pela graça de Deus, expiação para cobrir seus pecados, propiciação para desviar a ira divina, redenção para comprá-lo para Deus, justificação diante do trono do julgamento de Deus, adoção na família de Deus, santificação constante pelo Espírito, e glorificação prometida no fim dos tempos. Se Deus nos deu tantas e tão variadas bênçãos multiplicadas em Cristo, não lhe ajudaria a honrá-lo compreendendo quais são elas?
  6. Até mesmo (ou seria especialmente) os que não são cristãos precisam de boa teologia. Eles não se entusiasmam quando ouvem uma pregaçãoordo salutis seca. Mas quem deseja pregações secas seja sobre lá o que for? Se você pode falar de maneira simpática, apaixonada, e simplesmente sobre as bênçãos da vocação verdadeira, da regeneração e da adoção, e sobre como todas essas bênçãos que se encontram em Cristo, e sobre como a vida cristã é nada mais nem menos do que aquilo que somos em Cristo, e como isto significa que Deus realmente deseja que sejamos sinceros, quando nascidos de novo e não como éramos nascidos no pecado – se você der tudo isso aos que anão são cristãos, e o der explicitamente, você lhes dará uma porção de teologia. E, se o Espírito de Deus estiver operando, eles poderão simplesmente voltar para buscar mais.
Não existem motivos para qualquer igreja ser algo menos do que robustamente teológica. As igrejas continuarão sendo de todos os formatos e tamanhos. Mas "sem teologia", ou pior, "anti-teológicas" elas não deveriam ser.


Kevin DeYoung é o pastor da University Reformed Church em East Lasing, MI, EUA. Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado pelo Gordon-Conwell Theological Seminary. É autor de diversos livros, preletor em conferências teológicas e pastorais, é cooperador do ministério "The Gospel Coalition" e mantém um Blog na internet "DeYoung, restless and reformed". Kevin é casado com Trisha com quem tem 4 filhos.


Traduzido por: Yolanda Mirdsa Krievin

quarta-feira, 11 de junho de 2014

DOIS CAMINHOS E DOIS DESTINOS





Texto base: Salmo 1.1-6


INTRODUÇÃO

O salmo 1, de autor desconhecido, é uma introdução de todo o livro. Este salmo, juntamente com o salmo 2, não é especificamente uma oração como os demais salmos, mas uma afirmação categórica. A primeira oração no livro dos salmos começa a partir do salmo 3. Não obstante o Salmo 1 é um salmo de sabedoria, e, portanto, é mais que uma introdução, pois ele contém ensinamentos preciosos para nós. Neste salmo vemos patente todas às pessoas inseridas em dois modos de vida e o destino final de ambos.

O esboço homilético do salmo 1 pode ser dividido em três seções. Na primeira e na segunda seção o salmista descreve um profícuo contraste entre duas classes de pessoas em suas respectivas categorias morais e espirituais – o justo e o ímpio (1.1-5). E na terceira seção, o salmista conclui a sua declaração mostrando o destino final dos justos e dos ímpios (1.6).


EXPLANAÇÃO

1. O RETRATO DO JUSTO (1.1-3)


a) O estado do justo (vs.1a)

O termo bem aventurado אשך (esher), no hebraico, é o nome de um dos filhos de Jacó – “Aser” (Gn 30.12-13). A estrutura desta palavra no masculino é um plural [“alegrias”], e significa que o homem aqui descrito é “feliz, abençoado”.

Na cosmovisão grega, a ideia de bem-aventurança μακάριος (makarios) era geralmente ligada a algum tipo de benção terrena, tal como: saúde, prosperidade financeira, estabilidade, casamento, filhos etc., podendo, também, ainda que não exclusivamente se referir as coisas espirituais, como o conhecimento e à paz interior.

No Antigo Testamento, especialmente nos salmos, podemos observar que a bem aventurança ou a verdadeira felicidade está intrinsecamente relacionada à confiança em Deus (Sl 40.4; 84.12); aestar debaixo da proteção de Deus (Sl 2.12; 34.8); em ser disciplinado e educado por Deus (Sl 94.12); a seguir a lei do Senhor (Sl 119.1-2); ter Deus por auxílio, esperança e senhor (Sl 146.5); ser escolhido de Deus para a salvação em Cristo Jesus (Sl 65.4); ter os pecados perdoados (Sl 32.1) e, por fim, temer a Deus e andar em seus caminhos (Sl 128.1).

APLICAÇÃO PRÁTICA

A condição do homem justo é de plena felicidade. Todavia, esta felicidade não reside ou, tampouco, é proporcionada pelas bênçãos de Deus, pelo dinheiro, pelos bens materiais, pelo status social, por amigos, pelo namoro, pelo casamento dentre outras coisas. São muitos os cristãos imaturos na fé, em virtude da falta do conhecimento correto das Escrituras, que se equivocam em pensar que a felicidade está nas bênçãos, e não no Deus das bênçãos! Antes, quão feliz e abençoado é o homem que está em Cristo (2Cor 5.17), que foi comprado e resgatado da escravidão do pecado, da lei e salvo da morte eterna (1Tm 2.6). A posição de felicidade que o homem bem aventurado e justo se encontra é espiritual! Quem não está em Cristo não pode experimentar esta felicidade interna produzida pelo Espírito Santo.

b) O caráter do justo (vs.1)

O salmista, aqui, descreve o justo em sua posição de feliz no aspecto passivo/negativo, isto é, o que ele não faz, enfatizando, assim, três classes de pecadores – “ímpios, pecadores e escarnecedores”; três manifestações de pecado – “andar, deter e assentar” e três caminhos de pecado – “conselho, caminho e roda”. Estes três compêndios a lume estão disponíveis para o justo, entretanto não são praticados por ele, ou seja, o justo não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores e não se assenta na roda dos escarnecedores. Portanto, vejamos, então, as três atitudes passivo-negativas do justo – ou seja, o que ele não faz?

i. Não anda no conselho dos ímpios (vs.1b)

“Os ímpios são pessoas deliberada e persistentemente perversas”.1 O justo, todavia, é conhecido por aquilo que ele evita; nas coisas que ele não faz; no que ele nega. Desse modo, o progresso no pecado começa pelo o andar no conselho equivocado que, influenciando a pessoa, culmina na prática moral deste conselho, ainda que não abertamente. Não andar no conselho dos ímpios, então, implica que, a conduta do justo e as suas atitudes não são moldadas pelos padrões éticos do mundo que regem a mentalidade do ímpio que são contrários aos padrões de ética estabelecidos por Deus nas Escrituras. O cristão, portanto, não dirige a sua vida pautando-se no conselho dos ímpios. Antes, ele é passivo agindo de forma negativa a estes padrões evitando-os.


Jó. 21-16 – ... longe de mim o conselho dos perversos. ARA

O Antigo Testamento fornece alguns exemplos de pessoas que caíram porque seguirem os conselhos dos ímpios. Amnon, um dos filhos de Davi, seguiu o mau conselho de seu amigo Jonadabe e estrupou a sua meia irmã, Tamar (2Sm 13.1- 20). Este pecado, todavia, levou à desintegração da família de Davi, onde Absalão, indignado com o ato sórdido de seu irmão para com a sua irmã, decidiu matá-lo por vingança (para mais detalhes veja 2Sm 13.23-36). Roboão, sucessor de Salomão, recusou dar ouvidos ao conselho dos anciãos sábios e optou por seguir a recomendação de seus jovens amigos. Como resultado, a nação de Israel se dividiu em dois reinos que nunca mais se reuniram (1Rs 12-1- 20).


APLICAÇÃO PRÁTICA


O pecado começa com andar, que denota seguir os conselhos pecaminosos praticando-os, porém não ainda inelutavelmente, onde a pessoa está de tal modo envolvida e já não possui mais forças para se libertar da prática do pecado e sair do estado decadente de fraqueza espiritual em que se encontra. Assim, quando andamos no conselho dos ímpios, pecamos contra o Senhor e desprezamos o seu conselho descrito nas Escrituras. Antes de tomarmos qualquer decisão, seja qual for ela, devemos nos aconselhar primeiramente observando o conselho de Deus pela sua Palavra (Pv 19.21) e, em seguida, com pessoas de confiança e maduras.

Provérbios 15-22 – Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem sucedidos quando há muitos conselheiros. NVI

ii. Não se detém no caminho dos pecadores (vs.1c)

Uma vez que o justo não anda no conselho dos ímpios, evitando-os, vemos que ele também é passivo, agora, nas coisas manifestas preferindo não se deter. O justo se afasta não vivendo habitualmente da maneira que os pecadores vivem, isto é, numa vida campeada pelo pecado deliberado. “Os pecadores, contudo, são aqueles que erram os alvos determinados por Deus, mas não se importam com isso”.2

APLICAÇÃO PRÁTICA

Não se deter no caminho dos pecadores é não fazer associação, aliança com eles. Por outro lado, isso também não significa que o cristão terá de se isolar dos pecadores não cristãos e não se relacionar com eles de forma alguma. O salmista não tinha isso em mente. O que o cristão não deve fazer é ter uma amizade, profunda, se relacionar amorosamente ou, tampouco, se casar com pessoas que não professam a fé no Deus das Escrituras. Isto equivale também para aqueles que não são cristãos e também para aqueles que se dizem cristãos evangélicos, mas que não creem no Deus verdadeiro que as Escrituras corroboram. Ou seja, são aqueles “cristãos evangélicos obstinados” que possuem uma prática de vida cristã equivocada em virtude de um entendimento equivocado de Deus e das Escrituras quase que num todo, além de muitos destes escandalizarem o evangelho (veja 1Cor 5.9-11).

Geralmente, no ambiente em que interagimos na sociedade, como no trabalho, na escola, na faculdade, na nossa própria casa, quando um filho (a), marido ou esposa não é cristão ainda, e os nossos outros familiares que também não são cristãos, todavia, podemos e devemos nos relacionar com eles, porém em um nível restrito evitando a amizade profunda, com exceção dos filhos, marido ou esposa. O nosso relacionamento com o pecador deve ser estritamente, no caso do trabalho, escola e faculdade, para aconselhá-los quando possível e evangeliza-los a fim de que, se for da vontade de Deus, algum destes venha a ser alcançados e salvos por Cristo Jesus.

iii. Não se assenta na roda dos escarnecedores (vs.1d)


Se o justo não anda no conselho dos ímpios e não se detém no caminho dos pecadores, ele, também, mais uma vez, é passivo não buscando um lugar para se assentar na roda dos escarnecedores. O assentar é o último e o mais torpe estágio de uma vida arraigada no pecado.

No hebraico, a palavra escarnecedores לךץ (lûs) traz a ideia de uma pessoa que “faz caretas, que zomba das coisas divinas; um imitador sarcástico que ridiculariza pessoas, coisas e, especialmente Deus, demonstrando, assim, um profundo desprezo por estes”. Warren Wiersbe diz que os escarnecedores são aqueles que fazem pouco das leis de Deus e ridicularizam aquilo que é sagrado.3 O homem neste estado é peremptoriamente obstinado pelo hábito de uma vida pecaminosa.

Hermisten maia sintetiza que este homem familiarizou-se com os conselhos dos ímpios; daí, ele passa, então, a se deter com uma curiosidade mais intensa no caminho dos pecadores e, por fim, se assenta na roda dos escarnecedores. Aqui há um agravamento de sua situação pecaminosa; ele passa a zombar das coisas santas.4 Derek Kidner afirma que as três frases mostram três aspectos, e, realmente, três graus de separação de Deus, ao retratarem a conformidade a este mundo em três níveis diferentes: a aceitação dos seus conselhos, a participação dos seus costumes, e a adoção da sua atitude mais fatal.5

APLICAÇÃO PRÁTICA

John Stott ressalta com propriedade que o justo não modela sua conduta pelo conselho de pessoas más. E mais, os justos não se demoram na companhia de ímpios persistentes; muito menos ficam “permanentemente” [ainda que estejam sujeitos temporariamente – minha ênfase] entre os cínicos que zombam de Deus abertamente.6

Calvino, por sua vez, complementa observando que, mesmo que uma pessoa, em especial, o cristão, não tenha todo o aviltamento provido dos maus exemplos, no entanto é possível que se assemelhe aos escarnecedores perversos, ao imitar espontaneamente seus hábitos corruptos.7

c) As virtudes do justo (vs.2)

Depois de esboçar o aspecto passivo/negativo do justo, destacando aquilo que ele não faz, o salmista, agora, mostra o justo em sua posição de feliz no aspecto ativo/positivo (vs.2-3), ou seja, aquilo que ele faz. Sendo assim, vejamos, então, as três atitudes ativo/positivas do justo – a saber, o que o justo faz?

i. Tem prazer na lei do Senhor (vs.2a)

Em vez de andar no conselho dos ímpios, se deter no caminho dos pecadores e se assentar na roda dos escarnecedores, o homem feliz é caracterizado pelo prazer que tem na lei de Deus. O substantivo prazer ץפע (hephes), no hebraico, acentua “um desejo por algo valioso”. Basicamente traz a ideia de “inclinar-se para algo com interesse nesse algo”. A expressão lei do Senhor refere-se não apenas à lei de Moisés [o pentateuco], mas a Escritura num todo.


APLICAÇÃO PRÁTICA

“É preciso que cultivemos o hábito de ler a Palavra e descobrir dentro de um processo de aprendizado, o prazer em cumpri-la. O prazer na Palavra faz com que direcionemos nossos pensamentos e corações para ela. Ao invés de alimentarmos mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, buscamos na Palavra, que é o nosso prazer, o suprimento para as nossas necessidades e a orientação em nossas decisões. Quando descobrimos o prazer na Palavra de Deus, passamos mais tempo lendo e refletindo sobre os seus ensinamentos.”.8

Salmo 119.24 – Teus testemunhos são meu prazer e meus conselheiros. Almeida Século 21

Salmo 112.1 – Bem aventurado o homem que teme ao Senhor e tem grande satisfação em seus mandamentos. Almeida Século 21

Salmo 40.8 – ... agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei. ARA

ii. Medita na lei do Senhor de dia e de noite... (vs.2b)

Do prazer pelas Escrituras e a sua observação na vida prática, nasce o desejo de meditar nela diligentemente de dia e de noite. No hebraico, o termo medita הנה (haghah) significa refletir; contemplar algo; pensar detidamente; proferir palavras com voz baixa e suave.

Este verbo representa algo tranquilo diferente do sentido de meditação enquanto exercício mental. No pensamento hebraico, meditar nas Escrituras é repeti-las calmamente em som suave e baixo, abandonando interiormente as distrações exteriores. Dessa tradição vem um tipo especial de oração judaica chamada reza, ou seja, recitação de textos, oração intensa ou estar absorto em comunhão com Deus, curvando-se ou balançando-se para frente e para trás. Essa forma dinâmica de meditação remonta evidentemente ao tempo de Davi.9

APLICAÇÃO PRÁTICA

O verbo meditar, em sua origem latina, significa, entre outras coisas, “preparar para a ação”. A meditação nas Escrituras, em vista disso, não é um fim em si mesmo, antes, o seu propósito é conduzir-nos a viver na prática aquilo que meditamos.

J.I. Packer corrobora que meditação é o ato de trazer à mente as várias coisas conhecidas sobre os procedimentos, as peculiaridades, os propósitos e as promessas de Deus; pensar, deter-se nelas e aplicá-las à própria vida.10 O meditar na Palavra e nos feitos de Deus, destaca Hermisten Maia, é uma prática abençoadora pelo fato de ocupar nossas mentes e corações com o que realmente importa; estimula a nossa gratidão e perseverança em meio às angustias.11

É lamentável como grande parte dos cristãos de hoje não tem o prazer de meditar na lei do Senhor de dia e de noite. Que venhamos a estar continuamente, meditando nas Escrituras, pois é deste ato que procede o crescimento na santificação (Jo 17.17). Charles Hodge salienta que não podemos fazer progresso na santidade a menos que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus, e meditando sobre ela; pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados.12Portanto, o homem bem aventurado e justo é aquele que ama meditar e obedecer a lei do Senhor a qualquer custo.
Josué 1.8 – ... antes, medite nele [no livro da lei] de dia e de noite, para que tenha cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido. ARA

c) A posição do justo (vs.3)

Além de ter sublinhado o estado de bem aventurança e o caráter do homem justo (vs.1-2), o salmista, dessa vez, lista três aspectos de sua posição na graça de Deus. Portanto, quais são as virtudes do justo, então?

i. Estável na vida cristã (vs.3a)

Fazendo uso de uma metáfora, o salmista diz que o justo é como árvore plantada à beira de águas correntes. NVI Por causa do solo essencialmente árido em Israel no Antigo Testamento, uma árvore frondosa servia como um símbolo apropriado de benção.

A palavra plantada indica que o justo não tem raízes acidentalmente e nem tem iniciativa própria de se auto plantar. Árvores não são plantadas sozinhas e nem pecadores se transportam sozinhos pela vontade própria para o reino de Deus. O pecador é morto espiritualmente e incapaz de se voltar para Deus em arrependimento e fé (Ef 2.1-3; Rm 3.10-11). Antes, ele foi enraizado junto a correntes de águas ARA, que simboliza a graça maravilhosa de Deus que o alcançou, vivificando o seu espírito morto salvando-o da morte eterna. “Não somos capazes de nos nutrir nem de nos sustentar por nossa própria conta; precisamos estar arraigados em Cristo e nos alimentar de seu poder espiritual”.13Assim, o propósito de Deus em plantar o homem no solo fértil de sua graça divina por meio de Cristo Jesus é viver uma vida que o glorifica, o que veremos mais detidamente a seguir como outra virtude do justo.

ii. Produz frutos (vs.3b)

O propósito de Deus plantar o homem no solo fértil da sua graça é a produção de fruto de justiça que glorifiquem o seu nome (Jo 15.16). O homem não é salvo pelas obras, mas para as boas obras; em outras palavras, para os bons frutos (Ef 2.10). Note você que a árvore não dá o seu fruto logo após quando é plantada, mas, sim, na estação própria, no tempo certo, ou seja, no tempo de Deus.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Os frutos aqui são variados, e podem se referir a uma vida piedosa, o serviço diligente na obra do Senhor, contribuir financeiramente, evangelizar, presença frequente nos cultos dentre outras coisas. Desse modo, percebemos aqui um incentivo a perseverança na fidelidade a Deus, pois a obediência aos seus preceitos produz frutos, porém não imediatos, mas no tempo certo e em alegria iremos colhê-los. Nem sempre vamos colher todos os frutos nesta vida como resultado de uma vida dedicada a Deus, apenas alguns. Mas na eternidade, quando estivermos na terra restaurada, glorificados, iremos colher todos os frutos como resultado do nosso serviço e obediência que oferecemos ao Senhor nesta terra.


William McDonald escreve:

O homem que está separado do pecado e separado para as Escrituras tem todas as qualidades de uma árvore forte, saudável e frutífera plantada junto a ribeiros de águas – ele tem suprimento de alimento e refrigério que nunca falha. Isso faz com que seus frutos aparecem na estação apropriada. Ele mostra a graça do Espírito, e suas palavras e ações são sempre oportunas. Suas folhas também não murcharão – sua vida espiritual não está sujeita a mudanças cíclicas, mas é caracterizada pela renovação contínua interior.14

As intempéries da vida quando sobrevém na vida do homem bem aventurado, especialmente em virtude da sua obediência e temor a Deus não tem o poder de fazer murchar as suas folhas verdes, tirando a sua alegria de servir a Deus em fidelidade e permanecer firme em seus caminhos. Acima de tudo o homem bem aventurado é uma árvore plantada; suas raízes estão arraigadas no solo da graça divina onde ele tem todos os nutrientes para permanecer firme e crescer com vigor espiritual. As árvores plantadas pelo Senhor podem até se secar durante um tempo, que implica um período de fraqueza espiritual e pecado que o cristão está passível a cair. Porém, a árvore plantada no solo da graça não pode morrer, ou, em outras palavras, apostatar-se da fé rejeitando o Senhor Jesus. A árvore que morre, portanto, nunca foi plantada por Deus!

Jeremias 17.7-8 – Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor.Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto. ARA

João 6.39 – E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum de todos os que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. Almeida Século 21

João 10.28 – Dou-lhes [as minhas ovelhas] a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrancará da minha mão. Almeida Século 21

Hermisten Maia afirma que assim como as árvores se alimentam e se solidificam por meio de suas raízes, o fiel se nutre espiritualmente, fortalecendo a sua fé em Deus por meio da meditação sincera e constante na Sua Palavra.15

iii. É bem sucedido por Deus (vs.3c)

A vida bem sucedida que o salmista e as Escrituras enfatizam não é financeira, necessariamente, mas está associada especificamente à vida espiritual e a observância da lei do Senhor (vs.2). A verdadeira prosperidade é uma abundância da graça divina em nossa vida, que nos é proporcionada como o resultado de uma vida frutífera para a glória de Deus. A nossa prosperidade, sobretudo, é Cristo ardendo fortemente em nós; é o Espírito de Deus que transforma a nossa vida.

2. O RETRATO DO ÍMPIO (1.4-6)
a) O estado do ímpio (vs.4)

Existe aqui um contraste rigidamente definido. O salmista pinta a superficialidade dos ímpios com um duplo negativo – não e assim, tanto em sua conduta como no seu estado de aparente “felicidade”. O dinheiro e a vida bem sucedida que muitos ímpios desfrutam não são e não podem trazer a verdadeira felicidade. Ao contrário dos justos, os ímpios não são descritos como árvores, uma vez que estão mortos em seus pecados e não possuem raízes.


b) O caráter do ímpio (vs.4b)

Se a vida do perverso não pode ser sequer comparada a uma árvore plantada aos ribeiros de águas, tampouco, também, pode ser comparada a uma árvore seca. Antes, o ímpio pode e é comparado pelo salmista apenas a palha que o vento dispersa.

O caráter do ímpio, todavia, é comparado pelo salmista à palha, uma imagem comum no AT, extraída das épocas de colheita de trigo, também foi usada por João Batista em sua mensagem chamando o povo de Israel ao arrependimento (Mt 3.7-12). “O trigo era debulhado numa superfície dura e plana, sobre um monte, e exposto ao vento. O trigo era erguido por pás e jogado para cima. Os grãos preciosos então caíam e eram recolhidos, enquanto que as palhas leves eram espalhadas pelo vento”.

A palha é composta de cascas de grãos vazias, não tem peso substancial para estabilizar-se e é facilmente levada pelos ventos da adversidade. Pelo modo de peneiração do oriente contra o vento, a palha era totalmente espalhada. Assim é o ímpio – que vive superficialmente e não tem raízes na graça de Deus porque é morto espiritualmente. Os ímpios não estão plantados junto a corrente de águas, isto é, na palavra de Deus e não são salvos. Portanto, não possuem valor algum, pois são facilmente levados pelo vento porque são leves, estéreis e vazios da presença de Deus em amor.16

c) A condenação dupla dos ímpios (vs.5)

i. O destino final dos perversos (vs.5a)

A conjunção por isso introduz a indubitável conclusão de que os perversos, no último dia, serão reprovados por Jesus Cristo no julgamento. Henry Law traz à baila que

O julgamento está próximo. O juiz está às portas. O grande trono branco em breve será estabelecido. Os mortos serão julgados pelas coisas escritas nos livros, de acordo com suas obras. Eles não podem fugir desse tribunal terrível. Nenhuma máscara pode ocultar a culpa deles. Seus pecados estão todos registrados. Nenhum sangue apagou as manchas. Eles não buscaram o mérito do salvador. Não tiveram interesse na cruz salvadora. Eles não podem permanecer.17

Mateus 25.46 – E irão estes para o castigo eterno... ARA

ii. A separação dos pecadores da congregação dos justos (vs.5b)

A expressão congregação dos justos se refere a um grupo de pessoas e nações sobre os quais Deus preside como governante (veja como exemplo o Sl 7.7-8). Esta expressão também tem conotação escatológica, e denota que os ímpios não farão parte da comunidade dos justos na eternidade na terra restaurada.

Matthew Henry chama a atenção para o fato de que o joio pode estar no meio do trigo por um tempo [na igreja – minha ênfase], porém, vem aquele que tem em sua mão a foice afiada e que limpará o seu solo completamente. Os que por seus próprios pecados e atitudes néscias são como o joio, encontrar-se-ão diante do redemoinho e do fogo da ira divina.18 Warren Wiersbe completa dizendo que quando o dia do julgamento chegar, o senhor, o justo juiz, separará o trigo do joio, as ovelhas dos bodes e os grãos da palha, e nenhum incrédulo poderá reunir-se com os justos.19

3. DUAS VIDAS E DOIS DESTINOS DIFERENTES (1.6)

A base que determinará o julgamento de Deus destas duas classes de pessoas é o conhecimento que ele possui de ambos. “O conhecimento refere-se a todo o curso de vida incluindo o que a motiva, o que ela produz e onde termina”.20 Este conhecimento de Deus é denominado de onisciência, que é o conhecimento que ele tem de todas as possibilidades (veja como exemplo Mt 11.20-21) e eventos concretos preordenados pela sua soberania que ocorrem no tempo – “passado, presente e futuro”. Em vista disso, senão vejamos o conhecimento que Deus tem do justo e do ímpio.


a) O caminho do justo (vs.6a)
O verbo conhecer, aqui, indica que Deus não apenas conhece toda a vida do justo, e que, pela sua presciência, conhece que ele não irá apostatar da fé e que será salvo no dia do julgamento. Antes, o conhecimento que Deus possui do justo significa que, desde a eternidade, antes da criação do universo, ele o conheceu, o predestinou, o chamou, o justificou e o glorificou para ser feito conforme a imagem de Jesus Cristo para a sua glória (Rm 8.29-30). Portanto, os justo nunca há de perecer, uma vez que são guardados por Deus para a consumação da salvação que se dará no último dia (1Pe 1.5).

b) O caminho dos ímpios (vs.6b)

O mesmo conhecimento que Deus possui da vida do justo e todo o seu percurso neste mundo se aplica ao conhecimento que ele também possui da vida do ímpio. Entretanto, o conhecimento que Deus tem do ímpio aqui é uma antítese do conhecimento que ele tem do justo no que se refere à salvação eterna. Deus não conheceu, predestinou, chamou, justificou e glorificou na eternidade o ímpio para ser feito conforme a imagem de Jesus Cristo.

O ímpio de coração obdurado que permanece na incredulidade até o fim de sua vida demonstra que não foi escolhido por Deus, antes, ele e muitos outros são entregues por Deus aos seus desejos pecaminosos, onde os quais não serão, mas “já estão” condenados à justa punição eterna no lago de fogo.

João 3.18 – Quem nele não crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. ARA

CONCLUSÃO

Os dois modos de vida apresentados no salmo 1 determina o destino final dos que o seguem. O justo, que é ó homem bem aventurado, obedece aos preceitos de Deus e tem prazer em esmerar-se no estudo das Escrituras frequentemente. O ímpio, por sua vez, não é assim, antes, ele não obedece aos mandamentos de Deus, não tem prazer, não deseja e ignora as Escrituras e o estudo da mesma.

Portanto, o salmo 1 termina com uma solene advertência acerca da importância de vivermos uma vida cristã diligente e frutífera a Deus em todos os aspectos com vista no julgamento de Deus. Assim, por amor a Deus ficará provado quem é justo e verdadeiro cristão, e quem é ímpio e falso cristão na igreja. Jesus disse que aquele que o amar verdadeiramente obedecerá aos seus mandamentos (Jo 14.15).

Que a mensagem do salmo 1, aplicada pelo Espírito Santo em nossos corações, produza o reconhecimento de nossos pecados, omissões e negligencias e, por conseguinte, nos leve ao arrependimento sincero, a confissão e o abandono deles, para, assim, recebermos o perdão e a restauração de Deus.

.Por Leonardo Dâmaso.

Dízimo, uma prática bíblica a ser observada.



Há uma enxurrada de comentários tendenciosos e distorcidos circulando as redes sociais, em nossos dias, atacando a doutrina dos dízimos. Acusam os pastores que ensinam essa doutrina de infiéis e aproveitadores. Acusam as igrejas que recebem os dízimos de explorar o povo. Outros, jeitosamente, tentam descaracterizar o dízimo, afirmando que essa prática não tem amparo no Novo Testamento. Tentam limitar o dízimo apenas ao Velho Testamento, afirmando que ele é da lei e não vigente no tempo da graça.

Não subscrevemos os muitos desvios de igrejas que, laboram em erro, ao criarem mecanismos místicos, sincréticos e inescrupulosos para arrecadar dinheiro, vendendo água fluidificada, rosa ungida, toalha suada e até tijolo espiritual. Essas práticas são pagãs e nada tem a ver com ensino bíblico da mordomia dos bens. O fato, porém, de existir desvio de uns, não significa que devemos afrouxar as mãos, no sentido de ensinar tudo quanto a Bíblia fala sobre dízimos e ofertas. Destaco, aqui, alguns pontos para nossa reflexão.

Em primeiro lugar, a prática do dízimo antecede à lei. Aqueles que se recusam ser dizimistas pelo fato de o dízimo ser apenas da lei estão rotundamente equivocados. O dízimo é um princípio espiritual presente entre o povo de Deus desde os tempos mais remotos. Abraão pagou o dízimo a Malquizedeque (Gn 14.20) e Jacó prometeu pagar o dízimo ao Senhor (Gn 28.22), muito antes da lei ser instituída.

Em segundo lugar, a prática do dízimo foi sancionada na lei. O princípio que governava o povo de Deus antes da lei, foi ratificado na lei. Agora, há um preceito claro e uma ordem específica para se trazer todos os dízimos ao Senhor (Lv 27.32). Não entregar o dízimo é transgredir a lei, e a transgressão da lei constitui-se em pecado (1Jo 3.4).

Em terceiro lugar, a prática do dízimo está presente em toda Bíblia. A fidelidade na mordomia dos bens, a entrega fiel dos dízimos e das ofertas, é um ensino claro em toda a Bíblia. Está presente no Pentateuco, os livros da lei; está presente nos livros históricos (Ne 13.11,12), poéticos (Pv 3.9,10) e proféticos (Ml 3.8-10). Também está explicitamente ratificado nos evangelhos (Mt 23.23) e nas epístolas (Hb 7.8). Quanto ao dízimo não podemos subestimá-lo, sua inobservância é um roubo a Deus. Não podemos subtraí-lo, pois a Escritura é clara em dizer que devemos trazer “todos os dízimos”. Não podemos administrá-lo, pois a ordem: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro”.

Em quarto lugar, a prática do dízimo é sancionada por Jesus no Novo Testamento. Os fariseus superestimavam o dízimo, fazendo de sua prática, uma espécie de amuleto. Eram rigorosos em sua observância, mas negligenciam os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé. Jesus, deixa claro que devemos observar atentamente a prática dessas virtudes cardeais da fé cristã, sem omitir a entrega dos dízimos (Mt 23.23). Ora, aqueles que usam o argumento de que o dízimo é da lei, e por estarmos debaixo da graça, estamos isentos de observá-lo; da mesma forma, estariam também isentos da justiça, da misericórdia e da fé, porque essas virtudes cardeais, também, são da lei. Só o pensar assim, já seria uma tragédia!

Em quinto lugar, a prática do dízimo é um preceito divino que não pode ser alterado ao longo dos séculos. Muitas igrejas querem adotar os princípios estabelecidos pelo apóstolo Paulo no levantamento da coleta para os pobres da Judéia como substituto para o dízimo. Isso é um equívoco. O texto de 2 Coríntios 8 e 9 trata de uma oferta específica, para uma causa específica. Paulo jamais teve o propósito de que essas orientações fossem um substituto para a prática do dízimo. Há igrejas na Europa e na América do Norte que estabelecem uma cota para cada família para cumprir o orçamento da igreja. Então, por serem endinheirados, reduzem essa contribuição a 5% ou 3% do rendimento. Tem a igreja competência para mudar um preceito divino? Mil vezes não! Importa-nos obedecer a Deus do que aos homens. Permaneçamos fiéis às Escrituras. Sejamos fiéis dizimistas!

Hernandes Dias Lopes

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...