O exílio marcou profundamente o povo de Israel, embora sua duração fosse relativamente pequena. De 587 a 538 a E.C., Israel não conhecerá mais independência. O reino do Norte já havia desaparecido em 722 a.E.C. com a destruição da capital, Samaria. E a maior parte da população dispersou-se entre outros povos dominados pela Assíria, o reino do Sul também terminará tragicamente em 587 a.E.C. com a destruição da capital Jerusalém, e parte da população será deportada para a Babilônia. Tanto os que permaneceram em Judá como os que partirem para o exílio carregaram a imagem de uma cidade destruída e das instituições desfeitas: o Templo, o Culto, a Monarquia, a Classe Sacerdotal. Uns e outros, de forma diversa, viveram a experiência da dor, da saudade, da indignação, e a consciência de culpa pela catástrofe que se abateu sobre o reino de Judá.
Os escritos que surgiram em Judá no período do exílio revelam a intensidade do sofrimento e da desolação que o povo viveu. São os livros de: Lamentações, Jeremias e Abdias. Os exilados na Babilônia igualmente recordaram na dor os que viveram: “A beira dos canais de Babilônia nos sentamos, e choramos com saudades de Sião; nos salgueiros que ali estavam penduramos nossas harpas. Lá, os que nos exilaram pediam canções, nossos raptores queriam alegria: Cantai-nos um canto de Sião! Como poderíamos cantar um canto do Senhor numa terra estrangeira?” (Sl 137).
A experiência foi vivida pelos que ficaram e pelos que saíram como provação, castigo e reconhecimento da própria infidelidade à aliança com Deus. Pouco a pouco foram retomando a confiança em Deus que pode salvar o seu povo e os conduzirá nesse Êxodo de volta a Sião, conforme afirma o Segundo Isaías. “Deus novamente devolverá a terra ao povo como a deu no passado.” (Ez 48). De fato, no Segundo Isaías já se entrevê a libertação do povo que virá por meio de Ciro, rei da Pérsia. Ele será o novo dominador não só de Judá e Israel, mas de todo o Oriente. Ciro será, de fato, o “ungido”, o salvador do povo de Judá e dos exilados?
Entretanto, os Caldeus, um povo que tinha se instalado na Babilônia alguns séculos antes (naquelas civilizações, as mudanças eram percebidas depois de séculos), acabaram assumindo o controle da região. Nínive foi invadida e incendiada. Nem as crianças assírias foram poupadas das degolas. Assim, os Caldeus utilizaram a guerra para dominar a Mesopotâmia. Esse novo império da Babilônia foi conquistado durante o reinado caldeu de Nabucodonosor. Ele dominou regiões distantes, onde hoje estão o Líbano, a Síria e Israel. Esse fato está registrado na Bíblia, que fala da invasão da cidade de Jerusalém e escravidão dos habitantes do povo Hebreu (Judeu). A cidade foi melhorada, ganhou grandes períodos. O mais famoso foram os Jardins Suspensos da Babilônia, um Ziguarte com plantas e árvores trazidas da Pérsia. Verdadeira montanha artificial. A distante Pérsia estava mais próxima do que parecia. Depois da morte de Nabucodonosor, os persas chefiados pelo rei Ciro dominaram a região em 538 a.C.. Assim, o cativeiro da Babilônia, período entre a deportação dos judeus da palestina para a Babilônia, efetuada pelo rei Nabucodonosor II, e a libertação em 538 a.C., pelo rei da Persa, Ciro. No entanto, Nabucodonosor II (reinou de 605-562 a.C.), fundador da dinastia Caldeia do novo Império Babilônico, que conquistou a maior parte do sudoeste da Ásia Menor; conhecido também como grande construtor do Império da Babilônia.
Exílio à Cativeiro
Exílio em Babilônia, Cativeiro em Babilônia ou Exílio Babilônico é o nome geralmente usado para designar a deportação em massa e exílio dos judeus do antigo Reino de Judá para a Babilônia por Nabucodonosor II. Este período histórico foi marcado pela atividade dos profetas do Antigo Testamento, Jeremias, Ezequiel e Daniel. A primeira deportação teve início em 598 a.C.. Jerusalém é saqueada e o jovem Joaquim, Rei de Judá, rende-se voluntariamente. O Templo de Jerusalém é parcialmente sitiada e uma grande parte da nobreza, os oficiais militares e artífices, inclusive o Rei, são levados para o Exílio em Babilônia. Zedequias, tio do Rei Joaquim, é nomeado por Nabucodonosor II como rei vassalo. Precisamente 11 anos depois, em resultado de nova revolta no Reino de Judá, ocorre a segunda deportação em 587 a.C. e a conseqüente destruição de Jerusalém e seu Templo.
Naquele tempo, os oficiais de Nabucodonosor, rei da Babilônia, marcharam contra Jerusalém e a cidade foi sitiada. Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio em pessoa atacar a cidade, enquanto seus soldados a sitiavam. Então Jeeonias, rei de Judá, foi ter com rei de Babilônia, ele e sua mãe, seus oficiais, seus dignitários e seus eunucos, e o rei da Babilônia os fez prisioneiros [...]. Levou para o cativeiro Jerusalém inteira. (II Reis 24, 10-14).
Governando os poucos judeus remanescentes da terra de Judá, os mais pobres, ficou Gedalias nomeado por Nabucodonosor II. Dois meses depois, Gedalias é assassinado e os poucos habitantes que restavam fogem para o Egito com medo de represálias, deixando a terra de Judá (ex-Reinado de Judá) efetivamente sem habitantes e suas cidades em ruínas. É certo que o período de cativeiro “em Babilônia” terminou no primeiro ano de reinado de Ciro II (538 a.C./537 a.C.) após a conquista da cidade de Babilônia (539 a.C.). Em conseqüência do Decreto de Ciro, os judeus exilados foram autorizados a regressar à terra de Judá, em particular a Jerusalém, para reconstruir o Templo.
Nabucodonosor II (632 a.C. – 562 a.C.) é o filho e sucessor do Rei Nabopolasar, e governou durante 43 anos o Império Neobabilônico, entre 604 a.C.. Não deve ser confundido com Nabucodonosor I. É o mais conhecido governante do Império Neobabilônico. Casou-se em 612 a.C. com a filha de Ciáxares, rei da Média. Foi sucedido pelo seu filho Evil-Merodaque. Ficou famoso pela conquista do Reino de Judá e pala destruição de Jerusalém e seu Templo em 587 a.C., além de suas monumentais construções na cidade da Babilônia: entre elas, os Jardins Suspensos da Babilônia, que ficaram conhecidos como uma das sete maravilhas do mundo antigo.
No entanto, seu reinado após a morte do rei assírio Assurbanipal em 631 a.C., o Império Assírio entrou em declínio, devido às revoltas dos povos dominados. Nabopolassar conquista Nínive em 612 a.C. com a ajuda dos Medos, seus vizinhos. O que resta do Império Assírio sucumbe definitivamente em 605 a.C.. Assim nasceu o Império Neo-babilônio, muito mais grandioso que o de Hamurabi. Nabucodonosor II expandiu seu império, conquistando boa parte da Cicília, síria, Fenícia e Judeia. Tomou Jerusalém e levou em cativeiro um grande número de seus habitantes, episódio conhecido como a primeira Diáspora Judaica ou o “cativeiro babilônico.”
Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio atacar Jerusalém com todo o seu exercito; acampou diante da cidade e levantou trincheiras ao seu redor. A cidade ficou sitiada até o décimo primeiro ano de Sedecias. No dia nove do mês quando a fome se agravava na cidade e a população não tinha mais nada para comer, abriram uma brecha nas muralhas da cidade. Então todos os guerreiros escaparam de noite pela porta que há entre os dois muros perto do jardim do rei – os caldeus ainda cercavam a cidade -, e tomou o caminho da Arabá. O exercito dos caldeus perseguiu o rei e o alcançou nas planícies de Jericó, onde todos os soldados se dispersaram para longe dele. [...] degolaram os filhos de Sedecias na presença dele, depois Nabucodonosor furou os olhos de Sedecias, algemou-o e o conduziu para Babilônia. (II Reis 25, 1-7).
Já o Reinado de Judá conseguiu sobreviver até 587 a.C., quando foi dominado pelos neobabilônios, que destruíram o templo de Jerusalém e levaram os hebreus como prisioneiros para o seu território. Esse episódio tornou-se conhecido como Cativeiro da Babilônia. Esse cativeiro dos hebreus durou até 539 a.C., ano em que os persas, um povo que habitava o leste da Mesopotâmia, conquistaram a Babilônia e permitiram a volta dos hebreus para seu território, onde eles reconstruíram o templo de Jerusalém. Mais tarde, foram dominados sucessivamente por outros povos, como os macedônicos e os romanos. No ano 70, os judeus revoltaram-se contra a dominação romana. Os romanos responderam destruindo o segundo templo de Jerusalém e reprimindo duramente os rebeldes. Os judeus foram escravizados e dispersos pelo Império Romano. Desta maneira, ocorreu um grande impacto na cultura judaica.
Quando o povo judeu (israelitas) regressou à terra de Judá, encontrou uma mescla de povos, os samaritanos – que praticava uma religião com alguns pontos comuns com a religião do Antigo Israel. As hostilidades cresceram entre os judeus que regressavam e os samaritanos, uma divisão religiosa que permanece. O cativeiro em Babilônica e o regresso do povo judeu à terra de Judá foram entendidos como um dos grandes atos centrais no drama da relação entre o Deus de Israel e o seu povo arrependido. O caso do Reino de Judá foi muito diferente do destino das 10 Tribos que formavam o Reino de Israel Setentrional. Tal como o Antigo Egito, agora os judeus estavam predestinados a serem punidos por Deus usando o Império Neo-babilônio e, mais uma vez, libertos. Esta experiência coletiva teve efeitos muito importantes na sua religião e cultura. Assim marca o surgimento da leitura e estudo da Torá nas sinagogas locais na vida religiosa dos judeus dispersos pelo mundo.
Por isso, trata do exílio da Babilônia é colocar em evidência uma experiência do povo de Jerusalém, o que pede uma breve contextualização nacional e internacional daquele período, isto é, uma pequena análise de conjuntura e ainda o peso dessa experiência para o povo da gola (do exílio), para os dispersos e para as gerações futuras. Assim, o exílio que aconteceu no século VI a.C., foi fruto da expansão territorial imperialista da Babilônia, mas antes da Babilônia convém fazer colocações sobre a Assíria.
Judá já havia se livrado da destruição Assíria por volta do ano 701, ficando somente sob o estado de vassalagem, o que aconteceu devida uma política interna estável e boas relações externas. Já no período próximo à invasão babilônica, a situação política de Judá estava um tanto instável. No século VII a.C., Manassés tinha imprimido um regime opressor ao povo (II Reis 21,1-18; 21-16). Após a sua morte, o seu sucessor é assassinado por seus ministros (II Reis 19-26), o que causa grande tensão interna e proporcionará a intenção do povo da terra, ou seja, os chamados Judaístas, que entronam uma criança de oito anos, Josias. Isso implica o “povo” no poder. Josias instala uma reforma que visa a atender parte das reivindicações do povo da terra, contudo acontece nessa reforma uma centralização do culto e investido militares, que desembocou na vitória dos egípcios em 609 a.C.. Nessa época Josias é morto e os Javistas voltam a proclamar um rei, dessa vez é Jeocaz, que ocupou o trono por três meses, foi deposto pelo Egito (Jr 22,10-12), que impõe Joaquim como rei, iniciando mais um período de opressão para o povo de Judá exploração tributaria e repressão até sua morte em 598 a.C.. Seu filho Joaquim é quem colherá o fruto de sua política externa e aparente diplomacia. Joaquim vai investir em uma política contra a Babilônia, o que vai ressaltar na ação Babilônica para evitar avanços do Egito. Em 597 a.C. Jerusalém é desmilitarizada e cerca de 10 mil pessoas são deportadas, como já vimos anteriormente em (II Reis 24, 14-16). Por volta de dez anos depois Zedequias é o líder político imposto e que vai se rebelar contra os Babilônicos, resultando na destruição e desurbanização de Judá em 587 a.C. e consequentemente o segundo exílio, mas ao que indica Jeremias (52,30) aconteceu outro exílio em 582 a.C., chegando a somar 15 mil pessoas de Jerusalém na Babilônia.
Em Judá permaneceu, sobretudo, o povo do campo, pois a mesma (Judá) foi desurbanizada por grupos proféticos, litúrgicos e cantores. É desses grupos que surgirá a literatura renascente, ou seja, a leitura do exílio a partir dos que ficaram na terra. Não havia mais o Estado de Israel, havia grupos que viviam nos campos, o que traz uma semelhança com o sistema tribal. Por outro lado, os moradores das cidades que ficaram estava arrasados, tudo tinha sido destruído: o templo, os prédios, a estrutura urbana. Tudo estava em ruínas após 587 a.C., do povo das cidades é que surgem as lamentações, pois para os que serviam o templo restou a oração de lamentações (Jr 41,4-7). Temos ainda o grupo dos que fugiram para o Egito ou outras partes, estes compõem a diáspora (II Reis 25,25-26), também a estes o texto de Segundo Isaías se dirige quando trata do segundo Êxodo, (Is 48,21; 52,12; 55,12). Já o povo do exílio não ficou distanciado, mas agrupado em uma só região. Provavelmente ficaram às margens de rios (Sl 137), e outros estiveram na corte da Babilônia. Com essas “regalias” de exilados, o povo de Judá pode se reunir e retornar a sua história de povo que assume como único Deus. Portanto,
No período histórico do ano 400 na narrativa do profeta Isaías, o povo de Judá experimenta a dominação assíria, depois a caldeia e finalmente a persa, de características diferentes cada uma, mas todas elas imperialistas. No meio desse trajeto situa-se o exílio babilônico de Judá. Este país viveu o fim da monarquia, a escravidão do exílio e as tentativas de restauração sob a administração persa. (CROATTO, 1989, p. 11).
Um dos períodos mais difíceis e dolorosos foi o exílio, quando Jerusalém e o Templo foram destruídos, o povo perdeu a terra e foi deportado. Mas também foi motivo de renovação e retomada da fidelidade a Deus. Com isso, as causas dos exílios do povo de Israel no decorrer da sua historia foram: o Clima (A busca de sobrevivência – fome) “Houve uma fome na terra e Abraão desceu ao Egito, para aí ficar, pois a fome assolava a terra.” (Gn 12,10; Rt 1,16); a posição geográfica (Favorecia o intercâmbio com outros povos e continentes) “Por isso desci a fim de libertá-lo da Mao dos egípcios, e para fezê-lo subir desta terra para uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel, o lugar dos cananeus, dos heteus, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus.” (Ex 3,8); a expansão territorial dos povos vizinhos (Exerceram seu domínio político sobre a região de Canaã. Assim, deportando e expulsando parte da população). Outra causa foi o serviço militar (Trocas de favores por recompensas de terras); a busca de melhores condições econômicas (As famílias encontraram boa situação econômica em outros países), e por fim, a perseguição e outros fatores (Levaram muitos israelitas saírem de suas terras, sobretudo no período dos Selêucidas). Desta forma, o exílio é uma experiência que marca não só Israel, mas grande parte da população de todos os tempos e povos em contextos similares.
Na angústia da destruição surge a esperança de sobreviver na terra. Esse contexto marca a lamentação do povo exilado (Lm 1, 1-3.11; 2, 6.14.11-12.19-20; 5,11-12).
Nossa herança passou a estranhos, nossas casas a desconhecidos. Somos órfãos, já não temos pai; nossas mães são como viúvas. Nossa água por dinheiro a bebemos, nossa lenha entra como pagamento. O julgo está sobre nosso pescoço, empurraram-nos; estamos exaustos, não nos dão descanso. (Lm 5,2-5).
A destruição não havia poupado nenhuma cidade importante de Judá. (2Rs 24,13-17; 25,8-12). As áreas que ficaram desocupadas com a saída dos deportados foram povoadas não só pela população camponesa que ficou de Judá, mas também pelos povos vizinhos (Jr 47. 48. 49). Povos filisteus, moabitas e amonitas, edomitas, assírios e árabes. Assim, “Os sobreviventes recomeçaram lentamente a povoar as cidades e reconstruí-las. Os assentamentos judaicos concentraram-se nas regiões periféricas e em algumas distantes, provavelmente causando a separação com Judá logo na primeira deportação em 597 a.E.C. (CROATTO, 1989, p. 25). Desta maneira, Godolias iniciou seu governo com um programa de reconstruções, convidando os remanescentes da catástrofe a repovoar as cidades e a retomar as atividades cotidianas. Assim, alicerçou seu império de forma distributiva em relação a classe de proprietários locais, cujo direito não se fundamentava na herança nem na compra, mas na ordem dada pelo imperador da Babilônia. Portanto, a morte de Godolias (2Rs 25,25; Jr 40-44) expressa o medo de uma repressão maior, muitas famílias judias fugiram para o Egito, refugiando-se na colônia de Elefantina.
No entanto, o povo viveu neste período uma grande crise de fé devido os acontecimentos. Revolta contra Deus, ora de reconhecimento de sua culpa e por fim, um pedido de socorro.
Iahweh tencionou destruir o muro da filha de Sião: estendeu o prumo, não retirou sua Mão destruidora; enlutou baluarte e muro: juntos desmoronaram. Por terra derrubou suas portas, destruiu e quebrou seus ferrolhos; seu rei e seus príncipes estão entre os pagãos: não a Lei! E seus profetas já não recebem visão de Iahweh. [...] de lagrimas consomem-se meus olhos, de tremor minhas entranhas, por terra derrama-se meu fígado por causa da ruína da filha de meu povo enquanto pelas ruas da cidade desfalecem meninos e lactentes. Perguntam às suas mães: “onde há pão?” enquanto, como feridos, desfalecem pelas ruas da Cidade, exalando sua vida no regaço de sua mãe. [...] Seus profetas viram para ti vazio e aparência: não revelaram tua falta para mudar tua sorte, serviram-te oráculos de vazio e sedução. [...] Iahweh realizou o seu desígnio, executou sua palavra decretada desde os dias antigos; destruiu sem piedade; fez o inimigo alegrar-se às tuas custas, exaltou o vigor de teus adversários. (Lm 2,8-17).
Por isso o desespero do povo – tenta chamar a atenção de Deus. O povo se culpa – infidelidade a Deus; o povo renova a confiança em Deus. “O Senhor é bom para quem nele confia, para aquele que o busca. É bom esperar em silencio a salvação do Senhor.” (Lm 3-25s). Enquanto isso, um resto será salvo da catástrofe, porque Deus ama o seu povo. “O resto que escapou da casa de Judá tornará a lançar raízes em terra e a produzir frutos em cima. Com efeito, de Jerusalém saíra um resto e do monte Sião os sobreviventes. O zelo de Iahweh dos exércitos fará isto.” (Is 37,31-32; 2Rs 19,4; Mq 5,2; Is 4,3). Mas, desse resto nasceria uma nação forte e poderosa. “Odiai o mal e amai o bem, estabelecei o direito à porta; talvez Iahweh, Deus dos Exércitos, tenha compaixão do resto de José.” (Am 5,15).
Depois da destruição do reino de Judá em 587 a.C., nasce a consciência de serem eles o resto que foi disperso por Deus entre as nações. (Br 2,13; Ez 12,16) Israel se converterá. (Ez 6,9-10) Saberão então que eu sou o Senhor dos Exércitos. (Jr 23,3.5-6) O resto purificado para a restauração messiânica. Mas depois do exílio o “resto” é novamente infiel e será dizimado e purificado, como expressa bem o profeta Zacarias (13,8-9; 1,3; 8,11; 14,2). Deste resto final nascerá o rei Messias, o Emanuel comparado a uma pedra angular (Is 28,16-17) e ao broto em rebento de um povo Santo (Is 6,13; 11,1.10). Por isso, a promessa de que “um resto voltará” lembra retrospectivamente o nome de um filho de Isaias (7,3; 8,18).
Naquele dia, o resto de Israel, os sobreviventes da casa de Jacó não continuarão a apoiar-se sobre aquele que os fere; apoiar-se-ão sobre Iahweh, o Santo de Israel, com fidelidade. Um resto, o resto de Jacó, voltará ao Deus forte. Com efeito, ò Israel, ainda que o teu povo seja como a areia do mar, só um resto dele voltará, pois a destruição está decidida: a justiça transborda! Sim a destruição está decidida; o Senhor Iahweh dos Exércitos a fará executar no meio de toda a terra. (CROATTO, 1989, p. 83-84).
Portanto, mesmo exilado, o povo de Deus prosperou e cresceu. O exílio da Babilônia deixou marcas não só no povo que ficou na terra de Judá, mas também nos que foram deportados. Os remanescentes tinham a realidade de destruição sob os olhos. Já os que foram deportados carregaram consigo as imagens da cidade destruída, do povo disperso e massacrado, do culto desfeito. Estavam agora fora da terra, sem Templo, sem culto e sem os seus dirigentes. Muitos sonhos construídos ao longo dos anos foram desfeitos.
Em análise desse contexto, observamos que os babilônios não dispersaram os exilados, como fizeram os assírios. Surge um regime de servidão (Ez 1,1s; Ne 7,61; Is 42,22). Com isso, eles foram assentados em comunidades agrícolas (Ez 3,24; 33,30). Tudo isso favoreceu a conservação do patrimônio espiritual, religioso e cultural. Podiam falar a própria língua, observar seus costumes e suas práticas religiosas. Podiam livremente reunir-se, comprar terras, construir casas e comunicar-se com Judá, sua pátria. “Construí casas e instalai-vos; plantai pomares e comei os seus frutos.” (Jr 29,5). Na realidade, na Babilônia, conseguiram até certa prosperidade econômica num tempo relativamente curto.
Um dos personagens que marcaram àquele tempo, foi o profeta Ezequiel. O profeta vivia entre os exilados e os ajudava a alimentar a esperança do retorno à terra prometida. (Ez 48,1-29). Ainda que os deportados tivessem encontrado a possibilidade de reconstruírem suas vidas, viveram a experiência do exílio como uma grande catástrofe. Mas a saudade de Deus alimentava a fé e a esperança daquele povo. Assim, com o exílio, o povo pensava que todas as promessas de Deus tivessem falido: terra, descendência e um grande nome. Viveu uma enorme crise de fé no Senhor, seu Deus. Pois o deus da Babilônia, Marduc, havia vencido o Deus de Israel, tinha mais poder do que ele. Por isso, muitos exilados aderiram à religião de Marduc, não só por ele ser mais poderoso, mas porque poderiam obter alguns privilégios de seus senhores babilônios. “Que vem a ser este provérbio que vós usais na terra de Israel: os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos ficaram embotados?” (Ez 18,2). “Assim diz o Senhor Iahweh: Tu beberás a taça da tua irmã – taça funda e larga. Tornar-te-ás objeto de escárnio e zombaria, tão grande será o seu conteúdo.” (Ez 23,32). Estamos pagando pelos nossos pecados ou dos nossos antepassados?
O que restar de um lado e do outro da porção sagrada e da propriedade reservada para a cidade, pertencerá ao príncipe. Assim, desde a propriedade dos levitas e desde a propriedade da cidade, que ficam no meio da porção pertencente ao príncipe, entre os limites de Judá e Benjamim estará a porção do príncipe. (Ez 48,21).
O chefe da nova terra não será mais um rei, e sim um príncipe. No exílio reafirmaram a identidade israelita mediante algumas práticas culturais e religiosas, como a circuncisão, a observância do sábado e da lei mosaica. O referencial não era o Templo, mas o Livro da Lei, as escrituras sagradas, anunciadas principalmente pelos profetas do exílio, Ezequiel e o Segundo Isaías. Mesmo assim, os exilados mantinham viva a fé pelas celebrações litúrgicas, orações e cânticos, embora não conseguissem esquecer Sião (Sl 137). Conservava a firme esperança de retornarem a ela, pois Deus havia prometido a eles, que se consideravam descendentes de Abraão (Gn 12,7). Isaías via o retorno do exílio como um novo êxodo, em cujo deserto haveria abundancia de água e toda espécie de Plantas. (Is 41,18-20).
Com o exílio na Babilônia surgiriam importantes escritas como de Ezequiel, o Segundo Isaías, partes do Levítico e Salmos. Eles infundem a esperança do retorno, de um novo êxodo em que Deus mesmo vai reunir o seu povo como o pastor reúne o seu rebanho. (Is 40,10-11). “Eis aqui o Senhor Deus.” Portanto, no exílio da Babilônia os sacerdotes e teólogos, formados em Jerusalém, interpretam a seu modo as antigas tradições patriarcas com a intenção de infundir fé nos exilados submersos pela apatia e pela dispersão. As promessas de numerosa descendência e de posse da terra se realizariam porque a Palavra de Deus é infalível.
Conclusão
O Exílio marcou profundamente o povo de Israel, embora sua duração fosse relativamente pequena. De 587 a 538 a.E.C., Israel não conhecerá mais a independência. O reino do Norte já havia desaparecido em 722 a.E.C. com a destruição da capital Samaria. E a maior parte da população dispersou-se entre outros povos dominados pela Assíria. O reino do Sul também terminará tragicamente em 587 a.E.C com a destruição da capital Jerusalém, e parte da população será deportada para a Babilônia. Assim, tanto os que permaneceram em Judá como os que partiram para o exílio carregaram a imagem de uma cidade destruída e das instituições desfeitas. A experiência foi vivida pelos que ficaram e pelos que saíram, como provação, castigo e reconhecimento da própria infidelidade à aliança com deus. Pouco a pouco foram retomando a confiança em Deus que pode salvar o seu povo e os conduzirá nesse Novo Êxodo de volta a Sião, conforme afirma o segundo Isaías. Deus novamente devolverá a terra ao povo como a deu no passado (Ez 48).
Portanto, os judeus deportados foram implantados numa região situada entre a Babilônia e o Uruk, ao longo do canal que Ezequiel 1,1 designa sob o nome de rio Kebar. Para todos aqueles exilados, a verdade é que a Babilônia, com seus canais, os seus jardins e os seus imponentes edifícios, devia construir um espetáculo pelo menos inesperado. Aos olhos de muito deles aquela cidade devia representar uma civilização e uma religião superiores às de Judá. Contudo, apesar do desastre que implicava o Exílio não deixou de ser para os judeus fieis, um período de intensa atividade e de reflexão. Foi nesta época, nomeadamente, que foi reunido o essencial dos elementos que permitiram levar a cabo a composição do Antigo Testamento sob a sua forma atual.
O exílio corresponde igualmente ao início da dispersão mundial dos judeus. Quando a Babilônia foi vencida, em 540 a.E.C. por Ciro, rei dos persas, e os exilados foram autorizados a regressar à sua terra, uma parte deles decidiu permanecer onde estava. Por outro lado, uma colônia judaica constituir-se-ia no século V, no Egito, em Elefantina, a norte da primeira catarata do Nilo. Composta Poe mercenários que tinham servido no exercito persa, possuía o seu próprio Templo. Já os que regressaram ao país, por volta de 539 a.E.C., tiveram de enfrentar numerosas dificuldades e o Templo só pôde ser reconstruído em 516 a.E.C. Neemias tinha encontrado Jerusalém num estado desolador. As muralhas estavam arruinadas e os raros habitantes que restavam tinham deixado de respeitar qualquer lei. Com a ajuda de Esdras, que foi seu sucessor, restabeleceu a ordem social e religiosa e permitiu assim a Judá sobreviver ao seu desastre.
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