sábado, 25 de janeiro de 2014

Rir e chorar, duas faces no baralho da vida


Rir e chorar dependem da perspectiva do olhar. Ao longe, bem à frente, poças lodocentas parecem baías maravilhosas. De perto, a asa da borboleta se desvenda como um bordado. Se prestamos atenção ao vôo irreverente dos pardais, nossos lábios se desenrugam; sorrimos para a intrepidez do passarinho. Por vezes, tentamos nos distanciar para que a sorte dos miseráveis não nos faça perder o sono. Nunca é fácil conviver lado a lado com desigualdade, racismo ou pobreza. Buscamos encontrar alegria em algum vértice longínquo, onde sofrimento e esperança se encontram. Ao nos avizinharmos da alegria do casal que adotou um filho, do zelo resiliente da mãe da menina com paralisia cerebral e da dedicação do voluntário, voltamos a acreditar na humanidade.
Rir e chorar dependem do caminho que se optou. Em alguma esquina deserta escolhemos uma direção. Naquele momento, aceitamos – ou não – que estrada larga também leva à sarjeta, que atalho tem todo potencial de despencar em abismo e que uma avenida bem iluminada não é, necessariamente, segura. Trilhas inóspitas podem ser a melhor escolha. A fronteira ainda inexplorada, certamente, não estará povoada por oportunistas.
A felicidade pode manter-se um passo além da capacidade de produzi-la; satisfação plena se esconde sempre centímetros além da linha do horizonte – a linha imaginária que nos desafia ao risco de sairmos das zonas de conforto. Utopia faz nascer uma verve corajosa. Fracassar, triunfar, instigar e suplantar-se são verbos com força de transformar tédio em disposição.
Rir e chorar dependem das expectativas que a alma acolhe. Ilusões exaurem, fatigam, esfolam. Desprezar pessoas queridas em nome do direito de perseguir sonhos é demoníaco em sua essência. Promessas irreais, feitas ao arrepio da ética, entorpecem a consciência. Racionalizar o mal em nome do individualismo não passa de morfina contrabandeada do inferno. Alucinação e fuga nunca se separam. Ufanismo dá uma bruta ressaca. A realidade se impõe, cruel, a quem diz a si mesmo: deixa que eu me garanto.
Só a coragem de encarar a existência sem quimera produz júbilo autêntico.
Rir e chorar, duas faces no baralho da vida.
Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria

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