domingo, 20 de março de 2022

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)



Alderi Souza de Matos
João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Dourado Júnior e Carolina Guilhermina da Silva, e teve apenas uma irmã, Francisca da Silva Dourado. Segundo consta, eram descendentes de portugueses da região do Rio Douro, no norte de Portugal, daí o sobrenome Dourado. Em meados do século 18, o marujo português Mateus Nunes Dourado, natural da cidade do Porto, recebeu do governador da Província da Bahia uma área de terras nas proximidades de Santo Antônio de Jacobina. Atraído pelas minas de ouro, ali fixou residência e constituiu família, casando-se com Joana da Silva Lemos. A mameluca Joana era filha de pai português, proprietária da exploração mineral na região e dona de muitas terras. Tiveram um único filho varão, José da Silva Dourado, que veio a se casar com Maria Custódia e teve três filhos: João José, Francisca e Maria Joaquina.
João José da Silva Dourado foi um rico fazendeiro, mas teve maior interesse pela lavra do ouro, como o avô. Em 1840, comprou a imensa Fazenda Lagoa Grande, com vinte léguas quadradas, à qual deu o nome de América Dourada. Para fazer o negócio, vendeu 1.200 cabeças de bois, uma carga de prata e outra de ouro. Suas terras correspondiam a vários municípios atuais: América Dourada, João Dourado, Irecê, Lapão, Ibititá, Presidente Dutra, Jussara, São Gabriel e outros. Partindo de América Dourada, seus descendentes ocuparam aquela região de caatingas, formando fazendas que deram origem a vários povoados. Essa grande família baiana tornou-se muito influente em toda a região, espalhando-se depois para outras regiões do país. O patriarca João José casou-se com Guardiana Cardoso, com a qual teve trezes filhos, sete homens e seis mulheres, além de um filho natural. Seu oitavo filho, João da Silva Dourado Júnior, foi o pai do futuro presbítero.
No dia 2 de julho de 1878, na fazenda Lagoa D'água, município de Macaúbas (hoje Botuporã), na presença do Pe. Firmino Baptista Soares, o jovem João Dourado casou-se com a prima Geraldina Brandilina da Silva Dourado (filha de Bento, o quarto filho de João José), nascida em 6 de janeiro de 1860. Foram residir em Angico, área pertencente à Fazenda Lagoa Grande, e em 1888 fixaram residência no lugar denominado Canal. Pela abundância de águas, essa fazenda era uma das paradas obrigatórias para os boiadeiros que faziam a rota Goiás-Piauí-Bahia. Um desses fazendeiros era o coronel Benjamin José Nogueira (1855-1910), membro de uma importante família da cidade de Corrente, no extremo sul do Piauí. Ele e o irmão gêmeo Joaquim Nogueira Paranaguá estudaram em um seminário no Maranhão, mas não quiseram seguir o sacerdócio. Joaquim estudou medicina em Salvador e Benjamin foi administrar a propriedade da família em Corrente. Ficou viúvo três vezes e teve muitos filhos.
Benjamin converteu-se através da leitura de uma Bíblia obtida pelo irmão e tornou-se o primeiro crente batista do seu estado. Foi o primeiro diácono e moderador da Igreja Batista de Corrente, organizada em 1904, bem como um dedicado evangelista. Destacou-se ainda como incentivador da educação, através do Colégio Correntino Piauiense e outras iniciativas. Em 1902, conduzindo uma boiada com destino a Morro do Chapéu, Benjamin chegou à fazenda do coronel João Dourado. A história registra que havia uma aflitiva estiagem na região, o visitante orou fervorosamente a Deus e não tardou a cair uma grande chuva. Benjamin falou aos presentes sobre a Bíblia e sua mensagem de salvação. Pediu autorização para ler o evangelho e o hospedeiro antes de permitir solicitou que os filhos se retirassem para os seus aposentos. Ao partir, o fazendeiro protestante deixou um Novo Testamento, propondo ao amigo que o lesse. O coronel João concordou, mas disse que também leria a Bíblia verdadeira para fazer a comparação.
Assentou-se na sala grande e pôs-se a ler o livro sem interrupção, não saindo nem para as refeições, já que a esposa as trazia. Queria estar pronto para discutir com Nogueira. Estranhou nada encontrar sobre a missa e o purgatório, doutrinas em que acreditava fielmente. Após um bom estudo, partiu para Morro do Chapéu à procura de um padre, a fim de que lhe emprestasse a Bíblia, pois uma vez lido o livro protestante agora desejava ler o da igreja católica, para provar ao homem o seu erro. O padre replicou alegando que a única Bíblia que possuía estava guardada em Salvador. Além disso, ele, João Dourado, era muito moço e não tinha instrução para entender a doutrina da salvação. João respondeu: “Eu, muito moço? O senhor já batizou os meus catorze filhos!”. O coronel voltou desanimado, mas não desistiu da busca. Percorreu 360 km a cavalo até Vila Nova da Rainha, hoje Senhor do Bonfim. Visitando um advogado, entrou alguém com um livro e perguntou se a Bíblia protestante era igual à católica. O advogado disse que sim e para provar tomou emprestada a Bíblia do vigário e fez a comparação. O visitante e João Dourado ficaram convencidos; este se converteu e passou a pregar o evangelho na sua região.
Em 1903, saindo a cavalo de Senhor do Bonfim, onde residia, o missionário presbiteriano Rev. Pierce Chamberlain foi até o Canal de Irecê, tendo pregado em todas as localidades do percurso. Em Morro do Chapéu, conheceu o coronel João Dourado, que o convidou para visitar os lugares que vinha evangelizando somente com o conhecimento pessoal da Bíblia. Mediante esse contato mais demorado com o Rev. Pierce, as últimas dúvidas do coronel acerca do evangelho foram dissipadas. Ele foi batizado e continuou com mais vigor a sua obra evangelística. O missionário prometeu-lhe uma professora para alfabetizar os seus filhos e parentes. Em março de 1904, chegou ao Canal a professora Damiana Eleonor da Conceição Ramos; João iria sustentar essa escola paroquial até 1910. No dia 5 de fevereiro de 1905 a congregação da Fazenda Canal foi organizada em igreja pelo Rev. William Alfred Waddell, cunhado do Rev. Pierce. João Dourado foi eleito presbítero, junto com três outros membros da família. Nessa época, a igreja já era freqüentada por mais de cem pessoas.
Em 1906, o Rev. Waddell mudou-se com a família para Ponte Nova, pouco mais ao sul, onde a missão alugou e depois adquiriu uma grande fazenda junto ao rio Utinga. Ali foi criado um colégio evangélico para os filhos dos sertanejos nordestinos. Seu propósito era preparar professores para escolas primárias e bíblicas, treinar jovens para o trabalho da igreja e encaminhar alguns deles ao ministério. Dos doze alunos iniciais, oito foram enviados pelo coronel João Dourado, sendo quatro deles seus filhos. O coronel Benjamin Nogueira também enviou os filhos e alguns parentes para estudarem em Ponte Nova.
O presbítero João Dourado continuou a sua incansável obra evangelística, ora sozinho, ora na companhia de missionários como os Revs. Pierce Chamberlain, Carl Cooper, William Waddell, Alexander Reese, Harold Anderson, Henry McCall e Cassius Bixler. Em 1912, cansado dos prejuízos com as secas, pensou em mudar-se para São Paulo com toda a família. O Rev. Waddell, sabedor do plano, lhe perguntou: “Se o senhor se mudar para São Paulo, quem irá evangelizar o sertão da Bahia?” Diante dessa pergunta, o coronel resolveu permanecer em Canal e dar continuidade a sua valorosa atividade evangelística. Seu trabalho se estendeu pelas seguintes localidades: Morro do Chapéu, Cafarnaum, Mulungu, Canarana, Barra do Mendes, Ibititá, Lapão, Irecê, São Gabriel, Jussara, Central, Gameleira, Xique-Xique, Traíras, Roçadinho, Macedônia, Descoberta, Lajedinho, Guanabara, Tanquinho, Borges, Sabino, Lagoa, Conquista, Lagoa Nova, Lagedão, Previnido, Angical, Caldeirão, Ipanema, Belo Campo, Limoeiro, Barra, Soares, Mocozeiro, Floresta e Umbuzeiro. Após uma vida produtiva e abençoada, o presbítero João Dourado faleceu aos 73 anos no dia 9 de julho de 1927.
O coronel João Dourado foi também um importante líder político em sua região. Ele dizia: “Canal será uma grande cidade; vejo ao norte entrando uma grande avenida”. Hoje a sede da Fazenda Canal é a cidade de João Dourado. O município, com 1002 km², foi criado em 9 de maio de 1985, desmembrando-se de Irecê. A Igreja Presbiteriana de João Dourado acaba de comemorar o seu centenário. Possui um dos maiores templos presbiterianos do interior do Brasil. Nas suas instalações foi criado o Museu Coronel Benjamin Nogueira.
O casal Dourado teve catorze filhos: Idalina, Maria Rosa, Damiana, Sinésio, Adolfo, Ana Geraldina, Carolina, Renério, Antônia, João, Elizabete, Deraldina, Augusto e Altino. Augusto da Silva Dourado, o 13° filho do cel. João Dourado, tornou-se ministro presbiteriano, tendo sido ordenado em abril de 1917. Exerceu o seu longo ministério nos Estados da Bahia, Sergipe, Minas Gerais e São Paulo. O seu jubileu de ouro ministerial foi comemorado com um culto de ação de graças na Igreja Presbiteriana de Sorocaba, em 30 de abril de 1967, sendo pregador o Rev. Galdino Moreira, que era muito ligado à família. Faleceu no dia 6 de março de 1969; seu nome foi dado a uma escola estadual de Sorocaba, no bairro Iporanga. O Rev. Augusto foi casado com Josefina Fontes de Araújo Dourado, com quem teve cinco filhos: Araci, Adauto, Cefas Augusto, Cecília e Jaci.
Seu filho Adauto Araújo Dourado também se tornou pastor. Nasceu em Estância (SE), em 25 de janeiro de 1919. Estudou no Colégio de Ponte Nova, na Bahia, e no Instituto José Manoel da Conceição, em São Paulo. Formou-se em teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas em 1943. Obteve o grau de Mestre em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Louisville, Kentucky, nos Estados Unidos, e aperfeiçoou-se nesses estudos no Seminário de Princeton, em Nova Jersey. Inicialmente exerceu o ministério em São Sebastião do Paraíso (MG) e depois em Ribeirão Preto (SP), onde consolidou o trabalho presbiteriano e teve ampla participação na sociedade. Lecionou por breve tempo no Seminário de Campinas e a seguir foi eleito pastor da Igreja Presbiteriana Unida, em São Paulo, onde também foi professor universitário. Era casado com Margarida Gouveia Dourado e teve quatro filhos: Cecília, Paulo, Carlos e Augusto. Faleceu no dia 26 de março de 1997. Outros ministros dessa grande família são os Revs. Othon Guanais Dourado e Celso Loula Dourado.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

...DAS PÁGINAS DA HISTÓRIA

 



Na data de hoje, há 1.867 anos ( Ano 155 dC ), Policarpo (Um dos pais da Igreja e discípulo do apóstolo João) foi queimado na fogueira aos 86 anos por se recusar a negar a Cristo.
Três dias antes da sua prisão, Policarpo caiu em um profundo transe. Ao recuperar a consciência, declarou ter recebido uma visão. Ele tinha visto seu travesseiro incendiar-se em volta de sua cabeça. Policarpo não tinha dúvidas quanto à visão. Voltando-se para os seus companheiros, disse: “Serei queimado vivo”.
Policarpo orou tão fervorosamente que uma hora se tornou duas, e vários dos soldados lamentaram sua participação na prisão de Policarpo.
Não muito tempo depois, as autoridades romanas capturaram dois escravos. Um deles cedeu sob a tortura e revelou a localização da fazenda onde Policarpo estava hospedado. Quando os soldados chegaram a cavalo para prendê-lo, Policarpo recusou-se a fugir. Em vez disso, ofereceu aos seus perseguidores hospitalidade e comida, pedindo apenas que lhe fosse concedida uma hora de oração. Quando concordaram, Policarpo orou tão fervorosamente que uma hora se tornou duas, e vários dos soldados lamentaram sua participação na prisão de Policarpo.
Eles, então, colocaram Policarpo em um jumento e o levaram à cidade. Ao chegarem, seus perseguidores o levaram à carruagem de um homem chamado Herodes, o capitão das tropas locais. Herodes tentou convencer Policarpo a salvar-se. “Ora, que mal há em dizer, ‘César é o Senhor’, e oferecer-lhe incenso?”. Quando Policarpo recusou a sugestão de renunciar a Cristo, o funcionário se tornou ameaçador e o forçou a sair da carruagem tão rudemente que feriu a sua perna.
Sem sequer virar-se, Policarpo andou rapidamente enquanto o escoltavam até o estádio, onde um barulho ensurdecedor surgia da multidão de espectadores. Quando entrou, seus companheiros cristãos ouviram uma voz do alto dizer: “Sê forte, Policarpo, e comporta-te como homem”. Ele foi levado perante o procônsul, que o incitou a negar a sua fé e a se curvar diante do imperador: “Jure pela fortuna de César! Arrependa-se e diga: ‘Abaixo os ateus!’”.
Voltando-se com um olhar triste para a multidão que pedia a sua morte, Policarpo gesticulou diante deles. “Abaixo os ateus”, disse com aspecto grave.
Então, o procônsul insistiu mais uma vez que ele negasse a Cristo. Policarpo declarou: “Há oitenta e seis anos eu tenho sido o seu servo, e ele nunca me faltou. Como blasfemarei contra o meu rei que me salvou?”.
“Não estamos acostumados a nos arrepender do que é bom para mudar para o que é mau”.
Novamente o procônsul exortou Policarpo a jurar por César. Desta vez Policarpo respondeu: “Como você finge não saber quem e o que sou, ouça-me declarar com ousadia: eu sou cristão. E se você quiser saber mais sobre o Cristianismo, ficarei feliz em marcar uma reunião”.
Furioso, o procônsul disse: “Você não sabe que tenho animais selvagens à sua espera? Eu o entregarei a eles, a menos que você se arrependa”.
Policarpo respondeu: “Mande trazê-los, porque não estamos acostumados a nos arrepender do que é bom para mudar para o que é mau”.
Em seguida, o procônsul ameaçou queimá-lo vivo. Policarpo respondeu: “Você me ameaça com fogo que queima durante um momento e logo se apaga. Você não conhece o fogo vindouro do julgamento e castigo eterno reservado para os ímpios. Por que está se delongando? Faça o que lhe agradar”.
O fogo formava um círculo ao redor dele, mas o seu corpo não queimava.
O procônsul enviou seu arauto à arena para anunciar que Policarpo havia confessado ser um cristão. Nesse momento, a multidão reunida com fúria violenta pedia que Policarpo fosse queimado vivo. Rapidamente, eles fizeram uma fogueira, juntando lenha de oficinas e banheiros públicos. Policarpo tirou as suas roupas e tentou tirar os seus sapatos, embora sua idade avançada o tornasse difícil. Seus guardas se preparavam para prendê-lo à estaca, mas ele lhes disse calmamente: “Deixem-me como estou, pois aquele que me dá forças para suportar o fogo também me dará força para permanecer firme na fogueira, sem ser segurado por pregos”. Eles amarraram as suas mãos para trás. Policarpo ofereceu um salmo de louvor e gratidão a Deus. Seus perseguidores acenderam o fogo.
Segundo observadores, à medida que as chamas aumentavam, não consumiam Policarpo como era esperado. O fogo formava um círculo ao redor dele, mas o seu corpo não queimava. Como o fogo não teve o efeito pretendido sobre o corpo de Policarpo, um carrasco foi ordenado a esfaqueá-lo até a morte com uma espada. Seu sangue extinguiu as chamas.
Mesmo em nossa cultura de igreja fácil, as histórias de perseguição — especialmente de perseguição física — nos advertem sobre permanecermos muito confortáveis. Porém, não temam! A Escritura promete que mesmo a perseguição não nos separará do amor de Cristo (Romanos 8.35-39). Como a morte de Policarpo nos lembra, o Espírito nos capacita a permanecermos firmes até o fim. Pastor, quando sobrecarregado pela tentação de esgotar-se, recorde das palavras de Policarpo: “Deixem-me como estou, pois aquele que me dá forças para suportar o fogo também me dará força para permanecer firme na fogueira”.
Via-Ministerio fiél

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A maldade e a bondade dos homens maus – Ensaio sobre o Bem e o Mau

 

Copy Link

Por que os homens que não entraram pela porta estreita são classificados por Jesus como ‘maus’? Como é possível alguém ser ‘mau’ e fazer coisas boas? Como é possível não haver quem faça o bem, se é possível ao homem fazer ‘boas coisas’? Quando o homem passou a condição de mau? (…) A concepção dualística ‘bem’ versos ‘mal’ não corresponde a verdade das Escrituras, visto que Deus é bom, e o mau, por sua vez, não é co-eterno. Na eternidade o mau em oposição a Deus não existe, visto que é impossível algo existir à parte de Deus.


A maldade e a bondade dos homens maus

Ensaio sobre o Bem e o Mau

“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” ( Mt 7:11 )

Por que Jesus classificou os homens que não entraram pela porta estreita como sendo ‘maus’? Como é possível alguém ser ‘mau’ e fazer coisas boas? Como é possível não haver quem faça o bem, se é possível ao homem fazer ‘boas coisas’? Quando o homem passou a ser mau?

 

Estas e outras perguntas serão respondidas ao longo deste artigo. Boa leitura.

 

Deus, o Bem e o Mau

  • Não há quem faça o bem;
  • O que determina se um Homem é Bom ou Mau;
  • A Árvore – Figura adequada para expor princípios espirituais;
  • Deus é Bom;
  • Deus e o Mau;
  • Deus e o Conhecimento do Bem e do Mal;
  • O Bem e o Mal;
  • O Pecado e o Conhecimento do Bem e do Mal;

 

Não há Quem faça o Bem

Antes de demonstrar aos cristãos em Roma que todos os homens pecaram e que todos foram destituídos da glória de Deus ( Rm 3:23 ), o apóstolo Paulo citou algumas passagens do Livro dos Salmos que dá sustentação a sua declaração, e dentre elas destacamos a seguinte: “Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, nem um se quer” ( Sl 14:3 ; Rm 3:12 ).

O apóstolo Paulo chegou à conclusão que ‘todos os homens pecaram’ com base no exposto pelo salmista, visto que, ‘todos os homens se desviaram e juntamente tornaram-se imundos’. Ora, se a humanidade tornou-se imunda quando desviou do Criador, concomitantemente, todas as ações dos homens foram e estão ‘contaminadas’. Por torna-se imundo quando se desviou, não há um homem se quer que faça o bem, ou seja, as ações dos homens também se tornaram imundas.

Após demonstrar que todos os homens pecaram (desviaram), o apóstolo dos gentios apresenta as nuances de como todos os homens se fizeram imundos (pecaram). Ele demonstra que por um homem (Adão) entrou o pecado no mundo ( Rm 5:12 ), e que, ‘em Adão’ toda a humanidade pecou “Pois, como pela desobediência de um só, muitos foram feitos pecadores…” ( Rm 5:19 ).

A condição ‘em pecado’ além de comprometer a natureza, também comprometeu as ações dos homens. Do mesmo modo que a lei de Moisés estabelecia que tudo quanto um homem imundo tocasse tornava-se igualmente imundo, tudo quanto um pecador faz também é tido como sendo imundo, ou seja, proveniente do pecado ou do mau, portanto, conclui-se que não há quem faça o bem.

Ora, quando Jesus apontou para os seus ouvintes e disse que eles eram ‘maus’, Ele fez referência ao ‘mau’ que afetou todos os homens quando se desviaram: o pecado. Por causa da ofensa de Adão todos os homens passaram a compartilhar de uma natureza que é ‘oposta’ a natureza de Deus “A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz” ( Rm 8:6 ).

Deus é luz, e os homens passaram à condição de trevas. Deus é vida, e os homens divorciados do Criador passaram à condição de mortos, ou seja, o homem passou a ter uma natureza alienada da vida que há em Deus. Portanto, Deus é vida e paz e a natureza herdada de Adão é morta e em inimizade com Deus.

Tal condição herdada de Adão é repassada de pai para filho, como bem declarou o salmista Davi: “Certamente em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu a minha mãe” ( Sl 51: 5 ). O pecado é o elemento intrínseco à natureza do homem sem Deus, e, por causa desta natureza sem Deus, Jesus nomeou os seus ouvintes, homens que ainda não haviam entrado pela porta estreita (nascido de novo), de serem efetivamente ‘maus’.

Por causa da desobediência de Adão toda a geração dele é designada má diante de Deus ( Nm 32:14 ; Mt 12:39 ). E não somente isto, tudo que proferem e todas as suas ações também são más “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus” ( Mt 7:17 ).

Ao declarar que os seus ouvintes eram ‘maus’, Jesus queria que compreendessem que é impossível ao homem imundo, fruto de uma geração má, produzir o que é puro. Jesus estava respondendo uma questão que desde os primórdios persistia: Como é possível ao imundo produzir o que é puro? “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém” ( Jó 14:4 ).

O imundo não consegue produzir o que é puro! Embora muitos homens saibam ‘dar boas dádivas aos seus filhos’, diante de Deus são ‘maus’, visto que, por serem gerados segundo Adão, foram criados imundos, ou seja, na condição de vasos para desonra. Mesmo sabendo dar boas dádivas aos seus filhos, as suas ‘boas dádivas’ diante de Deus são comparáveis a trapos de imundície, visto que suas obras não são feitas em Deus ( Jo 3:19 ; Jo 3:20 e Jo 3:21 ).

Obs.: Somente fazem ‘boas obras em Deus’ aqueles que estão ‘em Cristo’, ou seja, que creem na mensagem do evangelho. A todos que não aceitaram a Cristo persiste a declaração do Salmista Davi: “Não há quem faça o bem”!

Por ser impossível ao imundo produzir o que é puro, conclui-se que ‘não há quem faça o bem’. Por mais que um pecador (homem mau) se aplique em fazer coisas boas (dar boas dádivas), todas as suas obras são más, pois elas não são feitas em Deus.

 

O que determina se um Homem é Bom ou Mau?

Conforme o que Jesus ensinou fica demonstrado que não são as ações dos homens que determinam quem é mau ou bom diante de Deus. Observe:

“Se vós, pois, sendo maussabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” ( Mt 7:11 );

“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” ( Mt 12:34 );

Uma geração má e adúltera pede um sinal, e nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal do profeta Jonas. E, deixando-os, retirou-se” ( Mt 16:4 ).

Não são boas ações e nem bons discursos que determinam quem é bom ou mau diante de Deus, visto que, mesmo sendo maus, os homens sabem dar boas dádivas aos seus semelhantes. O que determina se um homem é bom ou mau é a sua geração ( Pv 30:12 ).

O evento que estabeleceu o ‘mau’ sobre a humanidade (separação entre Deus e os homens) foi a ofensa de Adão ( Rm 6:19 ). Em Adão a humanidade tornou-se imunda (má). Através do nascimento natural todos os homens entram pela porta larga (Adão) e seguem por um caminho que os conduz à perdição ( Mt 7:13 ). Quando a Bíblia diz que o homem é mau, é o mesmo que dizer que o homem é imundo, pecador, trevas, inimigo, em suma, todos esses adjetivos referem-se a uma única condição: o homem separado de Deus.

Do mesmo modo que toda árvore produz frutos segundo a sua espécie, assim também ocorre com os homens. É impossível que o homem separado de Deus produza o bem, do mesmo modo que é impossível que o homem unido a Deus por intermédio de Cristo produza o mau. Jesus disse: “Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto” ( Lc 6:43 ).

Jesus também demonstrou que uma das funções do fruto é tornar possível identificar se uma árvore é boa ou má “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore ( Mt 12:33 ). Ora, é impossível mudar a natureza de uma árvore através do fruto, visto que através do fruto só é possível identificar se a árvore é boa ou má.

O que determina se uma árvore é boa ou má? A resposta é simples: a semente. Do mesmo modo que as espécies das árvores estão vinculadas à semente, assim também são os homens: através da semente corruptível de Adão surgem os homens maus, e através da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, surgem os homens bons. Enquanto estes são árvores de justiça, plantação do Senhor, aqueles são plantas que o Pai não plantou, fadadas a serem arrancadas e lançadas no fogo ( Mt 15:13 ).

Por causa da transgressão de Adão pereceu da terra o homem piedoso. Desde a queda deixou de existir entre os homens quem fosse reto por serem todos gerados segundo a semente de Adão ( Mq 7:2 ; Pv 30:12 ). Porém, através do último Adão, que é Cristo, os homens piedosos, retos e bons surgiram sobre a terra.

O que determina a condição de pecado do homem (mau) não são as suas ações e nem as suas convicções, antes, ser gerado da semente corruptível, a semente de Adão. Não são os frutos que determinam as espécies das árvores, porém, através do fruto somente é possível verificar e conhecer se a árvore é boa ou má.

É por isso que Jesus apontou a necessidade dos homens nascerem de novo. Todos precisam ser gerados da semente incorruptível ( Jo 3:5 ; 1Pe 1:23 ), para que possam escapar da condenação proveniente da semente de Adão.

Sobre esta verdade profetizou o profeta Isaías: “A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado” ( Is 61:3 ).

Quando Jesus anunciou no Sermão do Monte que os que choram (tristes) são bem-aventurados, ele estava oferecendo aos seus ouvintes a Glória de Deus em lugar de destruição (cinza). Para tanto, eles precisariam receber a semente incorruptível (a palavra de Deus) para tornarem-se árvores de justiça, plantação do Senhor. Somente os nascidos de Deus não serão arrancados “Toda planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada” ( Mt 15:13 ).

Fica demonstrado através dos versículos acima que todos que nasceram segundo Adão são maus e não fazem o bem. Porém, todos que nascerem de novo através da palavra (água) do Espírito Eterno são bons diante de Deus, e produzem o bem ( Jo 3:5 ; Ez 36:25 – 27) “Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus” ( Mt 7:17 ).

Em resumo: quando Jesus nomeou os homens de ‘maus’, ele estava fazendo referência à natureza pecaminosa herdada de Adão, visto que a sujeição ao pecado é proveniente da desobediência (ofensa) de Adão.

 

A Árvore: figura adequada para expor princípios espirituais

“Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus” ( Mt 7:17 )

Durante a exposição no Sermão do Monte Jesus apresentou algumas figuras para ilustrar princípios espirituais.

Ao perguntar: “Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” ( Mt 7:16 ), Jesus evidencia aos seus ouvintes um princípio espiritual. Ora, que não se colhem uvas dos espinheiros e figos dos abrolhos é evidente, porém, muitos desconhecem que através desta pergunta Jesus tornou evidente que este princípio também rege a humanidade.

Assim como é próprio das árvores produzirem frutos, Jesus demonstra que toda a árvore boa, sem exceção, produz bons frutos, e que, toda árvore má, sem exceção, produz frutos maus. Produzir fruto não depende de esforço por parte da árvore, como se fosse meritório produzi-los. Produzir fruto conforme sua espécie é próprio à natureza da árvore, do mesmo modo que é próprio ao homem sem Deus produzir o mau, e ao homem que está em Deus produzir o bem ( Mt 7:17 ).

O princípio da impossibilidade aplica-se tanto a árvore boa quanto a árvore má: ambas não podem produzir algo diverso à sua natureza. É impossível a árvore má produzir bom fruto, assim como é impossível a árvore boa produzir maus frutos ( Mt 7:18 ). Como mensurar esta impossibilidade? Ora, através da declaração de Jesus: “Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” ( Mt 7:16 ). Não! Portanto, você pode receber boas ações ou dádivas dos homens sem Deus (maus), mas apesar das boas dádivas, os seus frutos não são bons.

Toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo! ( Mt 7:19 ). Como produzir bom fruto não é algo meritório, antes é algo pertinente à natureza da árvore, conclui-se que o homem não será lançado no fogo eterno por se aplicar ou não as ‘boas dádivas’, antes será lançado no fogo eterno por não pertencer à plantação do Pai Eterno “Toda planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada” ( Is 61:13 ).

Quando Deus estabeleceu a sua plantação de árvores de justiça? Qual a semente que dá origem a plantação do Senhor? Como conhecer aqueles que são plantação de Deus?

Jesus é claro: pelo ‘fruto’ se conhece a árvore, ou seja, é possível conhecer os falsos profetas pelo fruto. É necessário reconhecer os falsos profetas (principalmente) porque eles vêm disfarçados de ovelhas ( Mt 7:15 – 16). Não basta ao homem clamar: “Senhor! Senhor!”, como faziam os escribas e fariseus, antes é preciso fazer a vontade de Deus. E qual é a vontade expressa de Deus? Que os homens creiam naquele que Ele enviou! ( Jo 6:29 ; Jo 20:31 ; 1Jo 3:23 ).

Somente após crer em Cristo como diz as escrituras, ou seja, após fazer a vontade de Deus, torna-se possível ao homem produzir bons frutos.

Qual é o fruto de um falso profeta? Professar a Cristo, porém, não segundo a verdade do evangelho! Operar milagres, expulsar demônios e profetizar em nome do Senhor é a pele de ovelha que os lobos devoradores utilizam para enganar os incautos.

Reiterando: nem todos que clamam, operam milagres e profetizam são falsos profetas, mas, o fruto do falso profeta surge dos seus lábios, pois não professam a Cristo conforme a verdade do evangelho.

Qual é o fruto bom que produz os que creem em Cristo? O fruto bom é proveniente dos lábios dos que creem em Cristo, onde está contida a semente da verdade do evangelho, ou seja, o fruto é professar a Cristo segundo as escrituras. É por isso que Jesus protestou contra os escribas e fariseus que era impossível eles dizerem boas coisas sendo maus, visto que, quem não é nascido da semente incorruptível (evangelho), não pode, ou melhor, não consegue professar a verdade do evangelho “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” ( Mt 12:34 ). “Portanto, ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” ( Hb 13:15 ).

Somente os nascidos da semente incorruptível possuem um novo coração. Somente os que creem são bons diante de Deus e produzem frutos bons que contém a semente incorruptível. Diferente são os falsos profetas, que mesmo clamando ‘Senhor, Senhor’, o fruto que produzem é mau e não contém no seu interior a semente incorruptível, ou seja, a verdade do evangelho.

Profetizar, expulsar demônios e fazer milagres não é o mesmo que fazer a vontade de Deus. Somente são ‘conhecidos do Senhor’ aqueles que fazem a sua vontade, ou antes, aqueles que têm o seu prazer na lei de Deus ( Sl 1:1 – 6).

É neste ponto em específico que a doutrina de Cristo difere da doutrina de todas as religiões existentes. Enquanto Jesus demonstra que é impossível aos homens que não aceitam a mensagem do evangelho fazer o bem, todas as religiões apontam que é possível ao homem ser salvo fazendo boas ações.

 

Deus é Bom

“Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus” ( Lc 18:19 )

O que motivou aquele homem rico chamar Jesus de ‘Bom Mestre’? Ele estava reconhecendo a divindade de Cristo? Como conhecedor da lei ( Lc 18:21 ), o homem de ‘posição’ bem sabia que somente Deus é ‘bom’. Se o homem cumpridor da lei estava querendo pegar Jesus nalguma questão para acusá-lo, o Mestre demonstrou estar atento sobre o real motivo daquele homem utilizar aquele qualificativo.

Se aquele homem houvesse alcançado a mesma revelação que teve o apóstolo Pedro ao professar que Cristo é o Filho do Deus Vivo, jamais seria questionado por Jesus por admitir a posição de Cristo “E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” ( Mt 16:16 ). Porém, a tristeza do homem em tela demonstra que ele não reconheceu Cristo como sendo o ‘Bom Mestre’, ou seja, ele não reconheceu Jesus como sendo enviado de Deus, caso contrário haveria de seguir a Cristo ( Jo 3:2 ).

Na Bíblia não encontramos uma definição de Deus, porém, há várias referências que apontam atributos pertinentes à divindade. Através de Cristo é possível o homem compreender Deus, visto que, o Verbo encarnado que está à mão direita de Deus foi quem O revelou aos homens ( Jo 1:18 ).

Encontramos na Bíblia que Deus é Luz, Amor, Vida, Justiça, Ira, Justo, Santo, Reto, Verdadeiro, Fiel, Imutável, Bom, etc.

De todos os atributos enumerados anteriormente, analisemos a imutabilidade de Deus. A palavra imutável é proveniente do latim ‘immutabile’ e refere-se aquilo que não muda.

Ora, quando a Bíblia diz que Deus é imutável, tal atributo vincula todos os outros, ou seja, jamais Deus deixará de ser amor, vida, justo, santo, etc. “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” ( Ml 3:6 ). Através da imutabilidade podemos destacar que Deus jamais há de pecar.

Também entendemos que o pecado refere-se à separação que se estabeleceu entre Deus e as suas criaturas “Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” ( Is 59:2 ). De outra maneira podemos concluir que Deus não pode pecar porque não há como Deus estar à parte de si mesmo. Não há como se estabelecer uma separação na divindade.

Deus é uno e não há como surgir e inserir na divindade divisão. A unidade da divindade é algo singular, visto que o vinculo perfeito que une as pessoas da divindade é o amor ( Cl 3:14 ).

Quando o Verbo encarnado fez referência ao Pai, Ele disse: “Eu e o Pai somos um” ( Jo 10:30 ), ou seja, mesmo quando Cristo estava em carne, a unidade com o Pai não se desfez.

Jesus também anunciou que os seus seguidores seriam inclusos nesta unidade, para que fossem um do mesmo modo que o Pai e o Filho ‘são’ um “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um” ( Jo 17:22 ).

Quando o apóstolo Paulo descreveu que todos os homens pecaram e foram destituídos da glória de Deus, ele enfatizou que o pecado fez com que o homem deixasse de estar unido a Deus ( Rm 3:23 ). Neste mesmo diapasão, Jesus orou dizendo que, ao dar aos seus seguidores a glória que lhe foi conferida pelo Pai, todos os seus seguidores igualmente passariam a ser um com o Pai e o Filho.

Através da análise anterior verifica-se que a glória de Deus concedida aos homens é o que os tornam unidos a Deus, e o fato de o homem ter sido destituído da glória de Deus, por causa da desobediência de Adão, ocasionou a separação entre Deus e os homens ( Is 59:2 ).

Como Deus não pode alienar-se da sua glória, pois a Ele pertence, segue-se que Deus jamais será sujeito do pecado. Através desta pequena análise conclui-se que o pecado é o mesmo que separação, alienação, destituição da glória de Deus.

Portanto, quando lemos que Deus é vida, qualquer ser que não esteja unido a Deus está morto; quando lemos que Deus é Luz, qualquer ser que não esteja unido a Deus está em trevas; quando lemos que Deus é paz, qualquer ser que não é participante da glória de Deus está em inimizade com Ele; como lemos que Deus é bom, qualquer ser que não está em comunhão com Deus é mau.

Deus é bom, e o diabo, por não estar unido a Deus, é mau. Deus é bom, e todos os anjos que foram destituídos da glória de Deus são maus. Deus é bom, e todos os homens gerados de Adão são maus porque foram destituídos da glória de Deus. Do mesmo modo que ser ‘bom’ é um atributo intrínseco à natureza de Deus, o ‘mau’ vincula-se a natureza destituída da glória de Deus, ou seja, o mau designa e é pertinente à natureza separada de Deus.

Quando a Bíblia diz que Deus é bom, ela apresenta o atributo ‘bom’ em pé de igualdade com o atributo ‘vida’. Do mesmo modo que Deus é ‘vida’, ‘paz’ e ‘luz’, Ele é ‘bom’. Portanto, temos que considerar o atributo ‘bom’ do mesmo modo que consideramos que Deus é ‘vida’. Como? Ora, não podemos considerar que o atributo ‘bom’ é algo pertinente a Sua ‘personalidade’, ou a um ‘caráter’ ou que Deus tenha uma ‘moral’, antes refere-se a natureza de Deus. O atributo ‘bom’ vincula-se diretamente à natureza de Deus, ou seja, por natureza Deus é bom do mesmo modo que Ele é luz, vida, santo, etc.

Deus é bom e retribuirá todos os homens segundo as suas obras. Não é porque Deus retribuirá os seus adversários com ira que Ele deixará de ser bom. A bondade é um atributo da divindade que não impede que Ele retribua os homens separados d’Ele (maus) com ignomínia, e os participantes da sua glória (bons) com alegria eterna “Jubilai, ó nações, o seu povo, porque ele vingará o sangue dos seus servos, e sobre os seus adversários retribuirá a vingança, e terá misericórdia da sua terra e do seu povo” ( Dt 32:43 ).

Há muitos estudiosos que questiona a bondade de Deus por permitir que pessoas sofram com guerras, catástrofes, pestes, etc. Neste diapasão temos uma resposta dada pelo apóstolo Paulo aos que questionam a justiça de Deus do mesmo modo que muitos fazem questionando a bondade de Deus. Paulo reproduz a pergunta que faziam e demonstra que a questão está envolta em conceitos humanos de justiça “E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós? (Falo como homem.)” ( Rm 3:4 ). Analisando do ponto de vista dos homens: se a injustiça dos homens dá ocasião à justiça Deus, será Ele injusto trazendo a recompensa merecida (ira) sobre os injustos? ( Rm 3:5 ). A resposta é clara e precisa: “De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?” ( Rm 3:6 ).

Ora, sabemos que a justiça dos homens é como trapo de imundícies diante de Deus, e que a justiça de Deus se estabelece em Cristo. A Bíblia nos informa que todo homem é mentiroso por causa de Adão, e que somente em Cristo o homem é verdadeiro ( Rm 3:4 ). Em Adão estabeleceu-se a injustiça, e em Cristo a justiça. Em Adão deu-se as trevas, em Cristo há luz. Em Adão todo homem é mentiroso, injusto, trevas e mau, em Cristo o homem é justo, verdadeiro, luz e bom.

Deus é injusto quando traz ira sobre os homens? O Apóstolo Paulo demonstra que não! Deus permanece fiel ante da incredulidade dos homens ( Rm 3:3 ). Do mesmo modo, Deus é bom quando permite ou retribui com o mal os homens, pois este é o modo justo de Deus tratar com os homens “De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?” ( Rm 3:6 ). A maldade dos homens aniquila a bondade de Deus quando Ele retribui com ira os maus? De maneira nenhuma! Deus é justo e bondoso, mesmo quando retribui com ira e mal os homens maus.

O homem foi criado à imagem e semelhança do Criador, e uma das semelhanças conferida pelo Criador à criatura foi a impossibilidade de alterar a sua natureza. Deus é Deus porque é bom, luz, vida, imutável, longanimidade, etc. Sabemos que Deus é único, em quem não há mudança e nem sombra de variação “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” ( Tg 1:17 ). Diferente de todas as suas criaturas, que muitas vezes querem mudar a própria natureza. Exemplo: O querubim da guarda ungido desejou a semelhança do Altíssimo, porém, ao levar a efeito o seu intento, não guardou o seu principado e foi precipitado ( Is 14:14 ).

Os homens desejam voar como os pássaros, serem invencíveis, serem como os seres angelicais, porém, por mais que desejem, não podem alcançar. O Criador, perfeito em todos os seus caminhos, nem de longe cogitaria em deixar de ser o que é: Deus. Por quê? Porque ser bom, vida, paz, luz, onisciente, em suma: ser Deus é algo pertinente à sua natureza imutável.

Equívocos quanto a asserção: ‘Deus é bom’, geralmente ocorrem porque muitos não consideram a etimologia da palavra grega ‘aghatos’ (bom), que deve ser tomada, não no sentido moral, antes no sentido próprio à época, ou seja, ‘bom’ estava relacionado ao ‘nobre’, condição proveniente da aristocracia, que contrapõe o vil, a ralé, o de classe baixa com aquele que é nobre, bem nascido, o bom.

 

Deus e o Mau

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” ( Is 45:7 )

Sabemos que Deus é bom e que todos quantos não compartilham da glória de Deus são maus. Sabemos que Deus é bom porque Ele é o que é, ou seja, a bondade de Deus está atrelada a sua natureza. Qualquer que não compartilha da vida que há em Deus, também não é participante da sua bondade, e, portanto, é mau.

Perceba que o ‘mau’ é pertinente à natureza do homem caído, e não à sua moral, comportamento ou caráter ( Mt 16:4 ). É na geração que se determina quem é bom ou mau. Como? Quando se lê que os homens sendo maus sabem dar boas dádivas, temos que o ‘mau’ vincula-se a natureza herdada de Adão. Ora, o mau vinculado à natureza proveniente de Adão não submete a vontade do homem com relação a dar boas dádivas aos seus semelhantes, tanto que Jesus notificou os seus ouvintes da capacidade do homem fazer boas ações aos seus semelhantes.

Mesmo não tendo feito bem ou mal o homem é concebido e gerado em pecado ( Sl 51:5 ). Por causa da condenação estabelecida em Adão todos os homens desviaram-se e juntamente tornaram-se escusáveis diante de Deus. Ora, este mau que atingiu a humanidade não é proveniente de questões morais, comportamentais ou de caráter como muitos entendem.

Quando Miqueias anunciou que pereceu da terra o homem piedoso e que não havia um homem se quer entre os filhos dos homens que fosse reto, ele estava fazendo alusão à queda de Adão, onde pereceu da terra o homem piedoso e todos deixaram de ser retos perante Deus ( Mq 7:2 ).

Sabemos que o mau refere-se a natureza de todas as criaturas alienadas de Deus, e que Deus é bom em essência, ou seja, jamais Deus será mau, visto que Ele jamais vai alienar-se de si mesmo, segue-se que o mau é condição própria as criaturas de Deus que estão alienadas d’Ele.

Porém, há algumas perguntas que surgem da leitura de alguns versículos, principalmente daqueles versos que não são analisados dentro do seu contexto. Dentre eles destacamos o que Deus anunciou por intermédio de Isaías: “Eu faço a paz, e crio o mal”.

Para algumas pessoas este verso é utilizado como pretexto para dizer que o Deus do Antigo Testamento é moralmente maldoso e perverso se comparado a Cristo, o Deus bondoso do Novo Testamento. Para outros sistemas religiosos Deus é um ser equilibrado, bom e mau (dualismo); composto por forças opostas, o ‘yin-yang’.

Porém, quando lemos a mensagem transmitida por Deus por intermédio de Isaías na totalidade, a ideia que nos sobressalta é maravilhosa, e totalmente diversa do pensamento de alguns homens maus.

No capítulo 43 de Isaías Deus anuncia que é o único salvador de Israel, faz uma promessa maravilhosa aos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó ( Is 43:1 – 6), anuncia que criou o povo de Israel para a sua própria glória “…aos quais formei e fiz” (v. 7); anuncia que estabeleceu Israel por testemunho, porém, eles eram um povo cego e mudo (v. 8 e 10); e reitera que, por causa da transgressão de Adão e pela desídia dos interpretes, Israel seria destruído (v. 28).

No capítulo 44 Ele reitera a condição de Israel: escolhidos ( Is 44:1 ), e aponta os Seus atributos como garantia de redenção (v. 6). Porém, os Israelitas estavam confiados em seus ídolos (v. 11- 20), e a repreensão divina persiste.

No capítulo 45 Deus anuncia que Ciro haveria de reinar sobre os reis da terra ( Is 45:1 ), e reedificar a cidade de Jerusalém, que havia sido entregue por Deus para ser destruída ( Is 43:28 ).

Dentro deste contexto é anunciado que Deus forma maravilhosamente a luz e as trevas, ou seja, Deus aponta o seu poder criativo ( Is 43:19 ; Is 45:7 ); Do mesmo modo que o poder de Deus fez os céus e a terra, o dia e a noite, Ele detém o poder de fazer nova todas as coisas. Ele reitera que através de Ciro seria restabelecida a paz sobre Israel ( Is 44:28 ), do mesmo modo que anteriormente Ele havia estabelecido o mal sobre Jerusalém ( Is 43:28 ). Deste contexto vem a fala: “eu faço a paz, e crio o mal”.

Quando o texto diz: “eu (Deus) crio o mal”, está mostrando que Deus trouxe punição à transgressão dos interpretes de Israel, ou seja, Deus faz justiça. O texto não está dizendo que Deus cria a malignidade dentro de suas criaturas. Deus cria o “mal”, o que é diferente de criar o “mau”. Deus jamais cria o mau, porém, o mau surgiu após algumas de suas criaturas distanciarem-se d’Ele.

A separação que surgiu entre Deus e algumas criaturas não foi criada por Deus, portanto, Deus não criou e nem estabeleceu o mau.

Deus trouxe calamidade, punição (mal) sobre Israel por causa da transgressão de Adão e pela falha dos interpretes de Israel ( Is 43:27 – 28).

Portanto, segue-se que Deus é Deus porque Ele é bom, vida, paz, amor, longânime, justo, reto, santo, etc. Jamais Deus será mau, visto que, somente o que está desvinculado, separado ou alienado de Deus é mau. Como é impossível Deus estar aparte d’Ele mesmo, segue-se que Ele jamais será mau, mesmo quando Ele cria o mal (punição).

 

 

Deus e o Conhecimento do Bem e do Mal

“Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?” ( Mt 20:15 )

Até este ponto estávamos falando da natureza de Deus e dos seus atributos. Deus é bom, e todos os seres (angelicais e humanos) que existem à parte d’Ele são maus. Deus é bom, e todos os seres (angelicais e humanos) que conhecem a Deus são bons. Agora analisaremos como é possível Deus sendo bom conhecer o bem e o mal “Então disse o Senhor Deus: O homem agora se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal ( Gn 3:22 ).

Sabemos que o homem sem Deus é mau e conhecedor do bem e do mal, e que Deus é bom e conhecedor do bem e do mal. Quando o homem aceita a verdade do evangelho, ele passa a compartilhar da natureza divina, sendo bom em essência. Ora, na regeneração o homem torna-se livre do mau herdado de Adão, porém permanece conhecedor do bem e do mal.

A Bíblia aponta dois tipos de ‘conhecimento’:

a) “estar unido a”, ou;

b) “saber acerca de”.

Quando o homem conhece a Deus, ou antes, é conhecido D’Ele, a palavra ‘conhecer’ indica união intima com o criador ( Gl 4:9 ). Agora, ‘conhecer’ o bem e o mal vincular-se ao saber, ter ciência de algo, o que difere de união íntima, comunhão.

Como vimos anteriormente, é impossível Deus ‘conhecer’ (estar unido a) o mau, pois é impossível Deus pecar. Temos dois motivos:

a) Deus é imutável, e;

b) não pode estar a parte de si mesmo.

Porém, Ele nos informa que é conhecedor do bem e do mal, assim como os homens tornaram-se conhecedores do bem e do mal por causa do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal ( Gn 3:22 ).

Como Deus não pode estar unido (conhecer) ao mau, por exclusão, temos que Deus sabe acerca (conhece) do bem e do mal. No que consiste o conhecimento de Deus do bem e do mal? No que resulta tal conhecimento?

Novamente precisamos analisar os atributos de Deus. Por natureza Deus é bom, reto, santo, justo, imutável, onipresente, onisciente, onipotente, etc. Estes atributos são nomeados naturais.

Sabemos que Deus imutável relaciona-se com suas criaturas, e que o seu relacionamento com as suas criaturas não depõe contra a sua imutabilidade. Também sabemos que Deus é justo, e que ele relaciona-se com suas criaturas, sejam elas justas (participante da sua natureza) ou não.

Como bem sabemos, os homens sem Deus são injustos por não compartilharem da natureza divina, por causa da desobediência de Adão. Em Adão Deus exerceu juízo sobre os homens e todos foram destituídos de sua glória “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” ( Rm 5:18 ).

Cristo é a justiça de Deus concedida aos homens para que possam voltar a compartilhar da glória de Deus. Ou seja, em Adão estabeleceu-se a injustiça e em Cristo a justiça de Deus, porém, haverá também um julgamento com relação às obras de todos os homens. É neste julgamento e nas relações com as suas criaturas que o conhecimento de Deus do bem e do mal se aplica.

Observe: “Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” ( Rm 2:5 – 11).

Destes versículos temos:

  • Para Deus não há acepção de pessoas, ou seja, Deus não tem nenhuma das suas criaturas em preferência;
  • Ele recompensará todas as suas criaturas conforme as suas obras: tanto justos quanto injustos;
  • Serão dois tipos de recompensa, a saber: 1) tribulação e angustia para os desobedientes à verdade do evangelho, e; 2) glória, honra e paz para quem herdar a vida eterna;
  • Qualquer que procurar glória, honra e incorrupção herdará a vida, ou seja, só é possível herdar a vida eterna aqueles que nascerem de semente incorruptível, a palavra de Deus; por ser uma planta plantada pelo Pai, será como a árvore plantada junto a ribeiros, produzirá o bem segundo a sua espécie. Qualquer contencioso e desobediente à verdade do evangelho herdará indignação e ira, e, por serem más as suas obras, terá também tribulação e angustia;
  • Haverá dois tribunais, a saber: tribunal de Cristo, onde os salvos serão julgados quanto ao que houver feito por meio do corpo (obras), bem ou mal ( 2Co 5:10 ); Grande Trono Branco, onde os perdidos serão submetidos ao julgamento das obras, e elas não lhes aproveitarão, pois não foram feitas em Deus ( Ap 20:13 ; Jo 3:21 ).

Como vimos anteriormente, Deus não é injusto por trazer ira sobre os descrentes, do mesmo modo que Ele não é mau por retribuir os homens com bem e mal. As injustiças dos homens não torna Deus injusto ao trazer a sua ira e nem a sua bondade é aniquilada por ele trazer glória, honra e incorrupção sobre os bons e ira e indignação sobre os maus.

A pergunta do apóstolo Paulo persiste: “Doutro modo, como julgará Deus o mundo?” ( Rm 3:6 ). Doutro modo, como é possível Deus bom retribuir a cada um segundo as suas obras, se for mau conceder a uns bem e a outros o mal? ( Pv 13:21 ).

O homem natural, por não compreender as coisas de Deus, questiona a justiça de Deus do mesmo modo que os trabalhadores questionaram o pai de família que contratou trabalhadores para sua vinha ( Mt 20:1 – 16 ).

A parábola dos trabalhadores na vinha demonstra que:

  • O Pai de família ao contratar trabalhadores para sua vinha fixou o valor de um dia de trabalho em um denário ( Mt 20:2 );
  • Porém, durante o dia de trabalho contratou mais trabalhadores sem fixar valores, e disse que pagaria o que fosse justo ( Mt 20:4 );
  • Os trabalhadores que foram contratados e trabalharam desde a madrugada fizeram mal juízo do pai de família por pensarem que receberiam mais que os seus companheiros ( Mt 20:10 );
  • Para os trabalhadores, o pai de família estava sendo injusto por dar o mesmo valor a todos os que trabalharam em sua vinha;
  • Por sua vez o pai de família contra argumentou que:
    • Não era injusto, visto que estava pagando o combinado ( Mt 20:13 );
    • Ele estava agindo conforme a sua vontade e não conforme a vontade dos trabalhadores ( Mt 20:14 );
    • Ele agiu conforme a sua vontade porque tinha direito de fazer o que bem entendesse do que lhe pertencia, e por último, o problema não estava no pai de família, que é bom, antes, no olho do trabalhador, que era mau ( Mt 20:15 ).

Como compreender a última declaração do pai de família?

No Sermão do Monte Jesus demonstrou que, se o olho do homem é mau, todo o corpo estará em trevas ( Mt 6:22 ; Lc 11:34 ). Este é um princípio que remete a uma conclusão: “Portanto, se a luz que em ti há são trevas, quão grandes são essas trevas” ( Mt 6:23 ).

Ora, todos os descendentes de Adão são maus por natureza, pois não são participantes da natureza divina. Qualquer que não é nascido de Deus anda em trevas, pois tenta orientar-se através dos seus olhos maus.

Daí advém a necessidade do novo nascimento (nascer da água e do Espírito), pois só após o novo nascimento o homem passará a andar na luz, pois lhe é iluminado os olhos do entendimento ( Ef 1:18 ).

Ora, o fato de o pai de família ser bom não impede que ele faça o que quiser com o que lhe pertence. O fato de o pai de família dar um mesmo salário a todos os trabalhadores não depõe contra a sua bondade e justiça. O olho de quem observa a maneira de agir do pai de família é que é mau, o que não permite o observador compreender as leis pertinentes ao reino dos céus ( Mt 20:1 ).

Do ponto de vista do homem natural Deus é mau (falo como homem) por estabelecer o inferno como destino final aos pecadores, porém, Deus é bom mesmo estabelecendo o inferno para o diabo, seus anjos e todas as gentes que se esquecem d’Ele.

A pergunta persiste: – ‘É mau o teu olho porque Deus é bom’? Ora, aos homens maus é mau que Deus dê a cada um conforme as suas obras, porém, Deus é bom e justo ao contemplar a cada um conforme as suas obras.

Do que foi exposto e analisado conclui-se que Deus é bom e conhecedor do bem e do mal, visto que jamais a sua bondade será conspurcada enquanto Ele discerne o bem e o mal. Através do conhecimento do bem e do mal Deus discerne os seus anjos e neles acha loucura ( Jó 4:18 ).

A concepção dualística não corresponde a verdade, visto que Deus é bom (agathos), e o mau, por sua vez, não é co-eterno. Na eternidade o mau nunca existiu, visto que nada pode existir à parte de Deus. O mau só passou a existir quando Deus criou as suas criaturas, e elas de moto próprio se lançaram da presença do Criador, tornando-se más. Lembrando que o mau nesta abordagem refere-se a ausência de Deus, ou seja, o não compartilhar da natureza do Criador.

Na eternidade o mal era só um ‘conhecimento’, um conhecimento no qual o mal é intrínseco ao bem e vice versa. Deus declara no Gênesis que é conhecedor do bem e do mal: “Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal” ( Gn 3:22 ). Como Deus é eterno e imutável, isto significa que na eternidade Deus bom é conhecedor do bem e do mal, elementos intrínsecos ao fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Não há como desvincular o conhecimento do bem e do mal que há em Deus, assim como não há como desvincular o sabor agridoce de uma laranja.

Deste modo temos que o mau não é eterno e nem co-existe com Deus, como apostam os dualistas. O que os dualista pensam equivocadamente refere-se ao conhecimento do bem  do mal, e não um mal que se oponha a Deus. Porém, como sabemos que as criaturas de Deus são imortais, segue-se que Deus não quer e não eliminará aqueles que existem à parte da sua natureza (o mau). Tais criaturas existirão para sempre num lugar estipulado por Deus ( Sl 9:16 ; Mt 25:41 ; Ap 12:9 ).

O fato de existir locais distintos para justos e ímpios não depõe contra a bondade de Deus, visto que nem a impiedade aniquilará a justiça de Deus e nem o mau aniquilará a bondade de Deus.

Apesar dos evangélicos e protestantes serem contrários ao pensamento dualista de que o bem e o mau co-existem em Deus, acabam por apregoar que a dualidade do bem e o mal é uma realidade intrínseca a cada ser humano. Tremendo engano, visto que, ou o homem é bom por ser nascido de Deus, ou é mau, por ser descendente de Adão.

Jesus foi claro quanto a este posicionamento: “Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom, ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore” ( Mt 12:33 ). Não há como fazer a árvore com duas naturezas: boa e má, ou seja, ou o homem é mau ou é bom.

Para defenderem o posicionamento da dualidade do bem e do mal no homem, muitos teólogos lançam mão até de pensamentos rabinos, que por sua vez pensavam que Deus teria dado a Adão dois desejos em conflito, exigindo que ele se apegasse a um e rejeitasse o outro.

Mas, o que diz as escrituras? Que a carne e o Espírito militam um contra o outro. Ou seja, carne e Espírito referem-se a dois reinos espirituais distintos e antagônicos, e não como interpretam alguns, de que o espírito e a carne dos homens estão em conflito constante.

Não há conflito algum entre o corpo (carne) e o espírito do homem. O conflito que existe, ocorre entre a carne ‘versus’ o Espírito de Deus.

A tradução literal do texto grego demonstra que um deseja contra o outro: carne x Espírito. Não diz do crente dividido entre duas tendências, antes diz do Espírito de Deus que é contrário à carne, como bem demonstra o apóstolo Paulo: “A inclinação da carne é morte, mas a inclinação do Espírito é vida e paz” ( Rm 8:6 ). A inclinação, a luta, o desejo, o conflito se estabelece entre a Vida e a morte, o Espírito e a carne, o pecado e a justiça.

Como co-existir a velha e a nova natureza no homem se só é possível a existência do novo homem quando o velho é crucificado e sepultado com Cristo?

 

O Bem e o Mal

O jugo do pecado é proveniente da desobediência de Adão, porém, além de ter sido destituído da glória de Deus, ou seja, tornar-se mau, o homem passou a ter conhecimento do bem e do mal, visto que o fruto da árvore proporcionou tal conhecimento “Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás, pois no dia em que dela comeres, certamente morrerás” ( Gn 2:16 – 17).

A morte (destituição da glória de Deus, mau) foi a penalidade imposta à desobediência de Adão, porém, o homem adquiriu algo que antes não possuía ao tornar-se participante (comer) da árvore do conhecimento do bem e do mal. Sabemos que a desobediência de Adão sujeitou a humanidade ao jugo do pecado (mau), porém, além do mau (morte) estabelecido na ofensa, o homem comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal.

Não podemos confundir a origem do mau com a origem do conhecimento do bem e do mal.

  • O conhecimento do bem e do mal foi proporcionado ao homem quando comeu do fruto da árvore, o que tornou o homem igual a Deus, conhecedor do bem e do mal ( Gn 3:22 );
  • O mau estabeleceu-se sobre o homem em decorrência da penalidade pela desobediência de Adão.

A desobediência de Adão sujeitou o homem a morte, ou seja, fez com que o homem fosse destituído da vida que há em Deus. O homem deixou de ser bom e passou a ser mau diante de Deus. Porém, além do mau que é pertinente a natureza do homem sem Deus, ele passou a ter conhecimento do bem e do mal, sendo como Deus.

De que modo o conhecimento do bem e do mal influenciou e continua a influenciar o homem?

É impossível ao homem por si só livrar-se do jugo do pecado, ou seja, da sua condição de mau. Sem a intervenção divina toda a humanidade estaria perdida pela eternidade, visto que, para ser salvo é preciso o homem nascer de novo, obra que só Deus pode realizar por meio da sua palavra.

Ou seja, o mau a quem o homem se sujeitou assumiu a condição de senhor. O homem é pecador, não porque comete pecado, antes é pecador porque é servo do pecado ( Jo 8: 34 ). A desobediência de Adão levou toda a humanidade a esta condição.

Podemos inferir das Escrituras que os efeitos dos frutos das duas árvores que Deus fez brotar da terra (árvore da vida e árvore do conhecimento do bem e do mal) e que estavam no meio do jardim do Éden eram permanentes, visto que, após a queda, foi vetado ao homem o acesso a árvore da vida ( Gn 2:9 e Gn 3:22 ), para que o homem não vivesse eternamente.

O homem foi feito conforme a imagem e semelhança Deus ( Gn 1:26 – 27), porém, após a queda (desobediência) o homem foi:

  • Destituído da glória de Deus, e;
  • Tornou-se conhecedor do bem e do mal, ou seja, como Deus ( Gn 3:22 ).

No que implica ser conhecedor do bem e do mal? Qual a diferença entre ser pecador (mau) e ter o conhecimento do ‘bem e do mal’ proveniente da árvore?

Para compreendermos faz-se necessário analisarmos todos os eventos antes, durante e após a queda de Adão.

  • A tentação estabeleceu a desconfiança – “Então a serpente disse a mulher: certamente não morrereis” ( Gn 3:4 ) – O pecado se estabeleceu sobre o homem por causa da falta de confiança. A falta de fé fez com que o homem deixasse de guiar-se pela palavra de Deus, passando a guiar-se pelos seus próprios instintos. Por não confiar em Deus o homem deixou de ser participante da vida que há em Deus;
  • Antes da queda a concupiscência já existia – “Vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento…” ( Gn 3:6 ) – Há uma grande diferença entre desejar e o pecado, conforme aponta o apóstolo Tiago “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” ( Tg 1:14 – 15);
  • Após a queda – “Então disse o Senhor Deus: O homem agora se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal…” ( Gn 3:22 ) – Além de ser destituído da glória de Deus (pecado), o homem passou a ser conhecedor do bem e do mal, algo que vai além da pena imposta pela desobediência de Adão. O homem preferiu o conhecimento do bem e do mal à ter vida eterna ( Gn 2:9 );
  • Apesar da condição de (em) pecado, o homem passou a ser como Deus – “O homem agora se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal…” ( Gn 3:22 ); Satanás era conhecedor do que haveria de acontecer com o homem, caso pecasse ( Gn 3:5 ), porém, o ‘pai da mentira’ fez o que lhe é próprio ao dizer que o homem não haveria de morrer, antes seria como Deus ( Gn 3:4 ); O Querubim da guarda ungido era participante da natureza divina, e após ‘querer’ lançar mão da ‘semelhança’ do Altíssimo, foi destituído da glória de Deus e perdeu o seu principado. Satanás foi destituído da vida que é proveniente de Deus (pecado), porém, não deixou de existir. Satanás continuou sendo anjo e de posse do conhecimento que possuía antes da queda, porém, sem compartilhar da vida que é proveniente de Deus (pecado);
  • Conhecimento do bem e do mal – O Conhecimento (saber) do bem e do mal é que torna o homem como Deus (um de nós). A Bíblia aponta dois tipos de conhecimento: “estar unido a” ou “saber acerca de”. Quando o homem conhece a Deus, ou antes, é conhecido D’Ele, a palavra conhecer indica união intima com o criador ( Gl 4:9 ). Agora, ‘conhecer’ o bem e o mal vincular-se ao saber, ter ciência de algo, o que difere de união;
  • O mau e o conhecimento do bem e do mal – após desobedecer ao Criador, Adão passou a ser mau diante de Deus, sem qualquer alusão as suas ações. O homem destituído de Deus sabe fazer boas ações e más ações, porém, não são as suas ações que estabelecem se ele é mau ou bom diante de Deus, antes a sua geração.

Após a queda, ‘conheceu’ (união intima, um só corpo) Adão a sua mulher, e Eva teve filhos: Caim e Abel. Ora, Caim e Abel, por serem descendentes de Adão eram pecadores, maus diante de Deus. Tal condição os atingiu, não porque fizeram algo de certo ou errado, antes, eram pecadores por serem descendentes de Adão. Já foram concebidos e gerados em pecado ( Sl 51:5 ).

Num determinado dia, Caim trouxe dos frutos da terra uma oferta a Deus ( Gn 4:3 ). Abel agiu de igual modo, e trouxe uma de suas ovelhas e ofertou ao Senhor ( Gn 4:4 ), porém, Deus atentou para Abel e não foi favorável a Caim, e este, por sua vez, ficou triste.

Em seguida veio o alerta divino para Caim “Então disse o Senhor: Por que te iraste? E por que descaiu o seu semblante? Se procederes bem, não serás aceito? E se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar” ( Gn 4:6 – 7).

Analisando os versículos acima, temos que Deus fez duas perguntas: Qual o motivo da ira e da tristeza de Caim. Porém, as frases seguintes precisam de uma análise mais apurada, visto que, há discrepâncias entre a tradução do texto com a ideia que o Novo Testamento nos apresenta.

Observe:

1) Basta ao homem proceder bem (bom comportamento) que será aceito por Deus?
2) Deus aceita o homem pela fé ou pelas obras?
3) Quando Deus disse que o pecado jaz à porta, o que foi dito:

a) Que o pecado jaz (está morto)?
b) Que o pecado ainda não ocorreu, mas que estava prestes a ocorrer?
c) Ou, que o pecado exerce domínio sobre o homem (estar à porta = local onde se exerce domínio)? ( Jó 29:7 )

4) É possível o homem exercer domínio sobre o pecado (… mas sobre ele deves dominar.)?
5) O desejo do pecado será sobre o homem (… sobre ti será o seu desejo…)?
6) Mesmo sob domínio do pecado é possível o homem proceder bem e mal ( Se procederes bem, não serás aceito? E se não procederes bem…)?

Quantas perguntas retiradas de um pequeno trecho bíblico, porém, sem respondê-las é impossível progredir em nossa empreitada. Antes de prosseguir, devemos considerar as seguintes verdades bíblicas:

  • Quando Deus falou com Caim a humanidade já estava sob o jugo do pecado, pois por Adão o pecado entrou no mundo, e por ele a morte ( Rm 5:12 ), ou seja, Caim já havia sido julgado, condenado e apenado com a morte, destituído da vida que há em Deus ( Rm 5:18 );
  • A obediência e o pecado são senhores que exercem domínio sobre os homens ( Rm 6:16 ). Observa-se através deste versículo que é impossível aos homens exercerem domínio sobre o pecado ou sobre a justiça.

 

Respostas:

  • Sabemos que não basta ao homem proceder, ou comportar-se bem ou de modo honesto, que será aceito diante de Deus. Todos os homens precisam nascer de novo ( Jo 3:3 ), ou conforme a linguagem do Antigo Testamento, é necessário circuncidar o coração, obtendo um novo coração e um novo espírito ( Sl 51:10 ; Ez 36:26 ), para que possam serem aceitos por Deus;
  • Todos que se aproximam de Deus precisam crer que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam ( Hb 11:6 ). Abel foi aceito por Deus por meio da fé ( Hb 11:4 ), e não por obras, sacrifícios ou pela oferta. Caim foi rejeitado e sua oferta também, por outro lado Abel foi aceito e a sua oferta aceita. A ordem não pode ser invertida: Deus aceita o ofertante que se aproximar dele pela fé (evangelho) e por fé (descansar na esperança proposta). Não é a oferta que torna o homem agradável a Deus;
  • Sabemos que o mundo jaz no maligno, ou seja, o mundo está morto no maligno. O mesmo não podemos dizer do pecado, pois através de Adão ele continua a exercer o seu domínio sobre os homens. Também sabemos que quando Deus conversou com Caim, o pecado não estava por acontecer (as portas, prestes a), antes já havia subjugado o homem, inclusive o próprio Caim. Sabemos também que, caso o homem proceda bem ou não, continuará sob a égide do pecado, e Caim e Abel estavam vinculados a este fato;
  • Sabemos que é impossível o homem exercer domínio sobre o pecado ou sobre a injustiça – Com base nesta verdade, como seria possível Deus orientar Caim a subjugar o pecado? ( Rm 6:16 );
  • Se a vontade do pecado na condição de senhor submete o homem, como seria possível o homem na condição de escravo subjugar o seu senhor (pecado)? ( Rm 6:18 );
  • Caim já era escravo do pecado, porém Deus o orientou a ‘proceder bem’, ou seja, quanto ao procedimento o homem tem autonomia para decidir entre o bem e o mal, porém, tais decisões não livram o homem (escravo) do seu senhor (pecado);
  • A desobediência de Adão trouxe conseqüências funestas para toda a sua descendência (morte), porém, além da separação que se estabeleceu entre Deus e os homens, o homem passou a ser como Deus, conhecendo o bem e o mal ( Gn 3:22 ).

Problemas de traduções e interpretações à parte, qualquer entendimento do texto em questão deve-se levar em conta o que analisamos anteriormente, porém, não me atrevo a apresentar aqui uma proposta de emenda à tradução em tela.

Logo após a ofensa que trouxe o juízo de Deus sobre todos os homens ( Rm 5:18 ), Adão conheceu (tomou ciência) que estava nu. Ora, na ofensa ele conheceu o pecado, ou seja, passou a estar unido ao pecado, e tomou ciência (conheceu) que estava nu.

Ora, após a queda Deus não estabeleceu nenhuma lei, porém, Adão de pronto reconheceu o seu estado e recriminou-se. De pronto procuraram um modo de cobrir a nudez, e só após serem interpelados por Deus esconderam-se.

Deste evento podemos destacar que:

  • O pecado sempre foi e será pecado, e se a nudez de ‘per si’ fosse pecado, o que separaria o homem de Deus, antes mesmo da queda a nudez teria sido recriminado por Deus;
  • Se a nudez fosse o ‘pecado’ que estava separando o homem de Deus, logo teria sido proibido por Deus o homem andar nu no Éden e fora do Éden, o que não ocorreu;
  • A desobediência estabeleceu o juízo de Deus (separação entre Deus e os homens), e o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal proporcionou conhecimento, entendimento, e o homem passou a se esconder de Deus; não por causa da desobediência (ofensa), antes, escondeu-se por ver, entender que estava nu ( Gn 3:10 ).

A ofensa do homem estava na desobediência, porém, após comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, o homem passou a guiar-se pelo entendimento adquirido. Deus não havia proibido a nudez de Adão e Eva, porém, para eles, a gravidade residia no fato de estarem nus, e não na desobediência.

Ora, após o homem crer em Cristo é criado um novo homem em verdadeira justiça e santidade, porém, mesmo após estar livre da condenação estabelecida em Adão, o crente ainda permanecerá conhecedor do bem e do mal. Quando o homem aceita a verdade do evangelho deixa de compartilhar do mau herdado da natureza de Adão, e passa a compartilhar da Luz, da Paz, do Bem, porém, jamais deixará de ser conhecedor do bem e do mal, visto que tal conhecimento é que o torna como Deus ( Gn 3:22 ).

Sobre este mister destacou o apóstolo aos Hebreus: “Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” ( Hb 5:14 ). O que é o mantimento sólido? A figura ‘alimento sólido’ equivale a verdade do evangelho em profundidade ( Ef 3:18 ), contrastando com os rudimentos (princípios) do evangelho.

Os perfeitos, neste caso específico, referem-se aos cristãos que possuem uma compreensão apurada do evangelho de Cristo. Após o cristão adquirir conhecimento maior que os ensinos elementares da doutrina de Cristo, tem em si a capacidade de discernir tanto o bem como o mal, porque os seus sentidos estão e são exercitados continuamente.

Percebe-se através da exposição do escritor aos Hebreus que:

  • O conhecimento do bem e do mal está atrelado aos sentidos dos homens;
  • Os sentidos podem e devem ser exercitados;
  • O exercício dos sentidos, discernimento, é individual;
  • O exercício dos sentidos tem por parâmetro o conhecimento do bem e do mal.

A capacidade de discernir tanto o bem como o mal equivale a conhecer o bem e o mal. O conhecimento adquirido quando o homem tornou-se participante da árvore do conhecimento do bem e do mal é o que lhe concede discernimento para identificar tanto o bem como o mal.

Ora, surge a pergunta: Tanto o justo quanto o injusto possuem esta capacidade? Sim! Esta capacidade, este discernimento é pertinente aos filhos de Adão e aos filhos de Deus, visto que a humanidade passou a ser como Deus, conhecedora do bem e do mal.

Cristo é um exemplo claro desta verdade! Observe esta profecia: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel. Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem. Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis” ( Is 7:14 – 16). O Cristo haveria de ser concebido de uma virgem – concepção virginal. Ela traria ao mundo um filho (homem) e seria nomeado Emanuel, ou seja, ‘Deus Conosco’, o mesmo que, ‘Deus com os homens’.

A profecia destacada contrasta a dieta do Emanuel com a dieta de seu precursor, João Batista. Quando o menino souber (saber, conhecimento) rejeitar o mal e escolher o bem, a sua dieta será de manteiga (gordura) e mel (o melhor da terra), contrastando com o seu precursor, que comeu gafanhotos e mel silvestre ( Mt 11:19 ).

Diferente dos filhos de Adão, Cristo veio ao mundo participante da natureza divina – O Filho de Deus encarnado. O Emanuel, o Verbo de Deus, a Luz verdadeira, Santo, Verdadeiro, Bom, etc. Em Cristo não houve trevas nenhuma! Em resumo, Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente: Bom!

Mesmo sendo Bom, sem nunca ter se conspurcado com o mau, Cristo teve que escolher o bem e rejeitar o mal. Para tanto, o Bom menino Jesus cresceu e soube (conhecimento) rejeitar o mal e escolher o bem.

Há que se ter tal conhecimento, se não, não haveria o alerta solene: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem chamam mal, que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!” ( Is 5:20 ).

O fato de Jesus ter escolhido o bem e rejeitado o mal não é o que O tornou ‘Bom’, antes, o Cristo é Bom porque foi gerado de Deus.

É por estes motivos que o apóstolo Paulo faz o alerta solene: “Quanto à vossa obediência, é ela conhecida de todos. Comprazo-me, pois, em vós; e quero que sejais sábios no bem, mas simples no mal” ( Rm 16:19 ). A obediência dos cristãos, da qual o apóstolo faz referência, diz da obediência à verdade do evangelho, que é a fé anunciada a todo o mundo ( Rm 1:8 ). Ora, através da obediência à verdade do evangelho o homem torna-se agradável a Deus, perfeito para toda a boa obra, visto que, após crer em Cristo, as obras do cristão são feitas em Deus ( Jo 3:21 ).

Com relação à verdade do evangelho o apóstolo tinha satisfação em ver os cristãos, porém, Paulo desejava ardentemente que eles fossem perfeitos, capacitados, exercitados para saberem rejeitar o mal e escolher o bem, ou seja, sábios no bem e simples no mal.

Todos que creem em Cristo tornam-se perfeitos, visto que foram novamente criados em verdadeira justiça e santidade ( Ef 4:24 ; Cl 2:10; 2Co 2:6 ), porém, aos gerados de novo falta-lhes alcançar a medida da estatura completa de Cristo ( Ef 4:13 ; 2Co 13:11 ).

Por que o cristão deve ser simples com relação ao mal e sábio quanto ao bem? Temos dois motivos:

  • Para que deixassem de serem meninos, aptos para alimento sólido e não fossem levados por ventos de doutrinas – “E EU, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo” ( 1Co 3:1 ).
  • O fato de haver entre os cristãos contendas e porfias depunha claramente contra eles, demonstrando que eram neófitos na fé. Por não crescerem na graça e conhecimento de Cristo, Paulo ainda não podia exortá-los como espirituais, antes como se eles ainda fossem carnais, o mesmo que meninos em Cristo.

Qual o problema em ser menino em Cristo? Estar sujeito a ser levados por ventos de doutrinas ( Ef 4:14 ). Na igreja de Corinto havia contendas e dissensões porque os cristãos ainda não eram exercitados em rejeitar o mal. Embora perfeitos em Cristo, não eram perfeitos para saber rejeitar o mal e promover o bem.

Paulo ensinou aos Cristãos em Roma como procederem quando ao discernimento do bem e do mal ( Rm 12:9 e Rm 12:21 ). É de bom alvitre os cristãos não tornar mal por mal, antes deve ater-se as coisas honestas, perante todos os homens ( Rm 12:17 ).

Se for possível, o cristão deve estar em paz com todos os homens, porém, deve desviar-se daqueles que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina do evangelho ( Rm 16:17 ).

Porque todos comparecerão ante o Tribunal de Cristo para serem recompensados quanto as suas ações: boas ou más – “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” ( 2Co 5:10 ).

Quando escreveu aos cristãos de Corintos, Paulo expressa a sua esperança em Deus, certo de que haveria de deixar este mundo para habitar eternamente com Deus ( 2Co 5:8 ). Com relação à salvação em Cristo, a obra perfeita do evangelho (fé), ela é atribuída a Deus ( 2Co 5:5 ), porém, além da salvação, Paulo buscava ser agradável aos cristãos, visto que, tal renúncia haveria de ser retribuída no Tribunal de Cristo ( 2Co 5:10 ).

Por que ser agradável a todos e principalmente quanto aos irmãos? Porque todos comparecerão ante o mesmo Tribunal! Para que cada um receba o que houver feito por meio do corpo, ou seja, receberá de acordo com o bem e o mal que fizeram ( Rm 12:20 ).

 

O Pecado e o Conhecimento do Bem e do Mal

O homem desobedeceu e comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal rejeitando o alerta divino e passou à condição de pecado (mau). Porém, além de pecar (destituído da glória de Deus por causa da desobediência), não podemos esquecer que Adão comeu do fruto da árvore que lhe concedeu o conhecimento do bem e do mal, algo diferente de pecado.

O conhecimento do bem e do mal não se vincula ao pecado, antes ao fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. O pecado adveio da desobediência de Adão e o conhecimento do bem e do mal adveio do fruto da árvore que foi posta no meio do jardim do Éden.

Não podemos confundir a origem do pecado com a origem do conhecimento do bem e do mal, visto que, Deus é conhecedor do bem e do mal, algo que não deriva do pecado (mau). O Filho do Homem aprendeu rejeitar o mal e escolher o bem, porém, sem pecado.

O conhecimento do bem e mal são provenientes do mesmo fruto e capacita o homem a discernir tanto o bem quanto o mal, porém, tal discernimento não capacita o homem para distinguir o que é bom e o que é mau. Porém, a Bíblia nos informa que Deus é bom e se for necessário conhecer quem é bom ou mau, basta verificar o fruto que os homens produzem.

Jesus liberta o homem do pecado (condição oriunda da desobediência de Adão), porém, ele não ‘liberta’ o homem do conhecimento do bem e do mal, visto que o homem após tornar-se participante do fruto da árvore que estava no meio do jardim do Éden tornou-se como Deus. O efeito do fruto é permanente sobre o homem do mesmo modo que seria se ele houvesse comido do fruto da árvore da vida.

O conhecimento do bem e do mal é algo proveniente do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e o pecado é proveniente da desobediência. Embora estivesse relacionado ao fruto, o pecado (mau) é totalmente distinto do conhecimento do bem e do mal.

Enquanto o homem não consegue dominar o pecado (antes é sujeito do pecado na condição de escravo), o conhecimento do bem e do mal está na alçada do homem dominar.

Ora, por mais que alguém se aplique a fazer o bem, dar boas dádivas, não estará livre do pecado. Não é porque alguém faz o mal contra o próximo que está condenado, antes é rejeitado por Deus por causa da desobediência de Adão. Só é aceito perante Deus aqueles que nascerem de novo. Perceba que os cristãos receberão no Tribunal de Cristo conforme as suas ações, boas ou más e os descrentes semelhantemente receberão conforme as suas ações boas ou más quando do Grande Tribunal do Trono Branco.

RETIRADO: https://estudobiblico.org/

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...