sexta-feira, 31 de julho de 2015

Ec 7.29 O que aconteceu a raça humana?








(Ec 7.29)
“Eis o que tão somente achei, que Deus fez o homem reto,
mas ele se meteu em muitas astúcias”.

Introdução:

Você acha a vida complicada? As pessoas complicadas demais?
Uma das perguntas que sempre fazemos é como a raça humana chegou a este ponto? Chico Buarque chegou a afirmar: “Quem estava na direção deste continente quando ele capotou?”. Há na alma humana uma indagação sobre a vida em si mesmo. A vida é isto? Realmente nascemos para vier num universo desequilibrado e torto como este?
Francis Schaeffer tem este sentimento quando escreveu o livro: “O que aconteceu com a raça humana?”
A verdade é que vivemos num mundo caído.

Confusão social
De fato há algo errado com o nosso universo moral. Definitivamente, a vida que vivemos não é aquilo que Deus queria para nós. Apenas no Século XX, tivemos duas grandes guerras mundiais. Estima-se que 5 a 6 milhões de judeus foram exterminados num genocídio sem precedentes em termos de crueldade e barbaridade. Embora mais desconhecido, estima-se também que cerca de 18 a 25 milhões de jovens russos perderam sua vidas em batalhas, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Isto é, uma geração inteira de jovens de um país.
Estamos recordando (e não celebrando, porque não há o que comemorar), os 150 anos da Batalha do Riachuelo, quando os países aliados: Brasil, Argentina e Uruguai, massacraram o Paraguai, governado por Francisco Solano Lopes, um general megalomaníaco que queria dominar o Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul, anexando-o ao seu país. Ele invadiu primeiramente o Mato Grosso, e vendo que não houve resistência, resolveu ampliar seus domínios pelo Rio Grande do Sul, mas para isto tinha que passar pela Argentina, que pediu ajuda ao Brasil, e com o Uruguai formaram a tríplice aliança (1864). A Batalha do Riachuelo foi em 1865, quando aconteceu também praticamente o fim da guerra. A carnificina e o massacre foram tão grandes, que 60% da população do Paraguai foi exterminada em 6 anos. Quando o General Lopes viu que iria perder a batalha, porque não tinha mais soldados, resolveu colocar crianças de 10-12 anos no fronte, que foram exterminadas completamente. A arrogância deste militar, associada à atitude dos países aliados de queriam extirpar o mal pela raiz, deixou um rastro de sangue e dores inimagináveis. Até hoje o Paraguai não se recuperou desta atitude insana de seu general e da reação sanguinolenta de seus países vizinhos.
Estas histórias mostram um pouco o nível de desequilíbrio e disfuncionalidade presentes na raça humana. E ficamos realmente com a pergunta: “O que aconteceu à raça humana?” Este mundo foi criado para ser um campo de batalhas?

Confusão nas famílias
A história das famílias demonstra bem a tragédia humana.
São traições, desenganos, ódios, abusos de toda espécie, fatos inenarráveis. Felizmente não existe um big brother para tornar público a caminhada de mentiras, farsas e dores. Toda história familiar é permeada de abusos, absurdos e contradições. Família é uma fonte de contradição. Felizmente preferimos contar histórias de pessoas bem sucedidas e não dos descompassos que nossa etiologia familiar construiu.

Confusão no coração
Outro aspecto a ser considerado é o nosso coração
O mesmo acontece quando olharmos para dentro de nós mesmos: Confusão, medo, depressão, infidelidade, fantasias não confessadas, doenças variadas e estranhas. Vivemos atormentados pelos fantasmas da alma. Eventualmente eu e minha esposa conversamos sobre uma pessoa ou outra e comentamos sobre quão complicada é a sua alma, e a Sara Maria sempre retorna com um jargão: “E quem não é?”

Quando olhamos para fora, para as pessoas, nos tornamos cínicos, vemos o desespero, ansiedade, ganância, manipulação, controle, luta pelo poder, falta de fé, desânimo. Quando Jesus olhou as multidões, a Bíblia diz que ele se compadeceu das pessoas porque eram “como ovelhas sem pastor”. Sabe o que é uma ovelha sem pastor? Não tem segurança, não tem norte, não tem alimento, é presa fácil de lobos vorazes. Este é o retrato da raça humana caída e longe de Deus.

Se olhamos para fora nos tornamos cínicos
Se olhamos para dentro, ficamos desanimados
O que aconteceu com a raça humana?

Como chegamos a este ponto?
Em Ec 7.29 lemos:
“Eis o que tão somente achei: Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.
O que o texto mostra é que a raça humana não foi feita, originalmente, para ser o que é. No design da criação não era este o projeto de Deus. O homem não foi feito errado, mas ele se complicou. Ele perdeu o propósito para o qual foi designado. A raça humana se perdeu na sua trajetória. O homem foi feito reto, mas ele enfiou os seus pés em laços e armadilhas, e se tornou presa de si mesmo, suas decisões e atitudes equivocadas.
Larry Coy parece ter esta mesma percepção quando afirma: “A vida é essencialmente simples, mas nós a complicamos com os nossos pecados”. A vida não é complicada, a vida é simples, mas o fato é que nós falhamos. Aliás, a palavra grega para pecado é hamartia, que significa, errar o alvo. O ser humano desviou-se do projeto original, resolveu construir sua história fora da vontade de Deus. Paulo diz que “...tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1.21). Construíram uma vida fora de Deus, esqueceram-se de Deus e fizeram suas rotas confusas. Erraram o alvo.
Gostei muito de uma afirmação de C. S. Lewis quando falava sobre a possível existência de vida fora da terra, e faz um comentário capcioso : “Rezemos para que a raça humana jamais escape da terra para que não espalhe sua iniquidade em outros lugares”.

O texto de Eclesiastes afirma que o homem se meteu em muitas astúcias. A situação atual da raça humana decorre de escolhas morais erradas.

No Princípio

A Bíblia afirma que ao criar o homem, o fez para ser sua imagem e semelhança. No projeto original vemos o homem interagindo com o seu criador. A Bíblia afirma que Deus vinha na viração do dia para conversar com Adão. Não havia confusão em seu coração, vivia uma vida de simplicidade. Ele e a mulher viviam no paraíso, e ali experimentaram a paz que o ser humano desfruta ao viver ao lado de Deus.
No entanto, as sugestões da serpente os atraíram. Seduzidos pelas tentadores propostas doa diabo, homem e mulher cedem aos seus argumentos, e agora, outros elementos assustadores interpenetram seus corações. Conheceram o mal, tocaram no mal, seus olhos foram abertos apenas para compreender que havia algo errado em si mesmos, mas não podiam mais escapar desta realidade. Medo de Deus, culpa, acusação, defesa, fazem parte agora de suas vidas. O orgulho, a vaidade, a soberba, a ambição, a desobediência trouxeram uma completa desarmonia na existência humana.
A situação ficou tão confusa que o profeta Jeremias posteriormente analisa assim a condição da raça humana: “Enganoso é o coração mais que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jr 9.27). Paulo também argumenta: “Não há quem entenda, quem busque a Deus.todos se extraviaram e a uma se fizeram inúteis” (Rm 3.9-12). A Bíblia afirma que mesmo as boas intenções redundam no maior fracasso: “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço”(Rm 7.20). “Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará o corpo desta morte?” (Rm 7.24). A alma, contraditória e ambígua, vive dilemas sem fim. Há uma batalha civil dentro de nós. Descobrimos o inimigo e ele é um de nós.
“Eis o que tão somente achei,
que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.

O Segredo da vida

O problema da humanidade é sua a incapacidade de escolher o bem. As intenções não são suficientes. “O bem que eu quero fazer, não faço.. o mal reside em mim”. A fonte do ser está contaminada, é um problema na raiz humana, as motivações estão contaminadas. Podemos fazer as coisas mais espirituais com a motivação mais carnal. “O bem que eu quero fazer não faço, mas o mal que não quero, este eu pratico”.
Jesus afirma para Nicodemos que o ser humano precisa de algo que vai além de sua capacidade interior. Ele precisa de um Novo nascimento, uma obra do Espírito na sua vida, caso contrário, vai continuar fazendo escolhas erradas. Deus fez o homem reto, mas ele se complicou. Esta tem sido a historia da raça humana. Suas escolhas equivocadas. Seu desejo de ser igual a Deus, sua autonomia. Jesus afirma: “Se alguém não nascer de novo, não pode entrar no reino de Deus”. Precisamos de um poder e capacitação, que apenas o Espírito de Deus é capaz de dar.
Jesus tenta explicar isto para Nicodemos, citando um evento enigmático do Antigo Testamento:“Porque assim como Moisés levantou a serpente no deserto, importa que o Filho do homem seja levantado” (Jo 3.14-15).
Vamos lembrar o que aconteceu neste evento.
O povo de Israel havia pecado contra Deus. Serpentes abrasadoras e venenosas vinham do deserto e picavam as pessoas. O veneno era letal. Milhares de pessoas estavam sendo infectadas e não havia remédio para uma peçonha de tal magnitude, não havia soro antiofídico que resolvesse. Deus então ordena que Moisés faça uma serpente de bronze e a coloque num mastro, e todos que fitassem aquela serpente, seriam curados.
Relato estranho, não é mesmo? O que este texto quer dizer? Porque Jesus o menciona?
Este acontecimento no deserto, simboliza, tipifica, aponta para outro evento igualmente marcante que se daria na história muitos anos depois. O Filho de Deus é colocado numa cruz, e naquela cruz, todos os que o contemplam, podem ser curados. O sangue de Jesus, o Filho de Deus, tem poder para extirpar o dano que a serpente causaria em nossas vidas. Ao olharmos e contemplarmos Jesus, somos curados.
Satanás inoculou na raça humana um veneno letal. Precisamos de antídotos que quebrem a eficácia deste veneno que passa pelas nossas veias, mas nada parece solucionar. As motivações, intenções, moral, comportamento, tudo o que fazemos é insuficiente. À semelhança do filmematrix, estamos com um vírus mortal, o corpo não consegue criar reagentes suficientemente fortes para combater esta peçonha. Precisamos de um reagente, um remédio eficaz, para quebrar o poder do veneno, e somente a cruz pode ser a solução e providenciar esta cura.
Somente a obra de Cristo pode pode realizar isto em nós.
Estamos presos nas próprias artimanhas e astúcias que criamos. Precisamos olhar para a cruz, esta é a única opção. Só o sangue de Cristo pode nos restaurar. Estamos letalmente contaminados e feridos, apenas a obra de Jesus pode nos fazer voltar ao propósito original para o qual fomos feitos.

Encontrando o Segredo para uma vida de liberdade:

Como um pássaro preso pelo laço dos passarinheiros, assim os laços de iniquidade, de escolhas morais erradas, da vida que tentamos viver sem considerar Deus, nos complica cada vez mais. Muitos imaginam que ser cristão é aderir a determinados comportamentos e fazer determinadas afirmações do credo, ter convicções, códigos e rituais religiosos, mas a Bíblia nos ensina que apenas um relacionamento vital de Jesus conosco, pode nos resgatar. Precisamos comer de sua carne, e beber do seu sangue. Sua vida em nossa vida. A vida de Jesus em nós.
Gosto muito de uma afirmação recorrente no Antigo Testamento. Deus dizia constantemente ao povo: “Eu sou o Deus que vos santifica”. No Novo Testamento, Jesus afirma que ele nos daria o seu Espírito, que não nos deixaria órfão, e este Espírito nos guiaria a toda verdade, geraria emulações interiores na alma, nos inclinaria a Deus. Este Espírito Santo gera santidade, desejos de Deus. Jesus nos lava, nos purifica, nos torna novas criaturas. Muda nosso DNA. Conversão é a esta maravilhosa obra da cruz sendo aplicada ao ser humano, que se meteu em muitas astúcias, que perdeu a referência de Deus, e está perdido nos seus delitos.
Certo jovem, de vida atrapalhada e confusa, cometeu uma série de equívocos, e sua vida virou uma desordem, como geralmente a raça humana faz. Vendo-se perdido, procurou a Deus e as pessoas da igreja. Ao entrar no discipulado bíblico, foi desafiado a se render a Cristo. Ele disse que iria consertar sua vida, antes de vir a Jesus. A pessoa que estudava a Bíblia com ela disse o seguinte: “Você vai consertar sua vida para depois vir a Jesus? Até hoje você tem tentado e não tem conseguido. Deixa Jesus dirigir sua vida”.
Entendendo esta grande verdade espiritual, os Puritanos afirmavam “Cada vez que você olhar para dentro de você, olhe dez vezes para a cruz!”

Somente a cruz tem o remédio para reparar o estrago do mal que fizemos. Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.

Rev Samuel Vieira.

Jr 1.1-12 O Chamado Profético









Introdução:


Poucos profetas exemplificam melhor a vida de um homem de Deus que Jeremias. Ele viveu dias de grande frieza espiritual, apostasia, alternância de poder. Viu reis morrendo em guerra, conspiração e tomada de poder, ele mesmo foi algumas vezes acusado de conspiração, ameaçado de morte, preso e espancado, mas a convicção do chamado de Deus nunca se perdeu na sua vida.
Nestes primeiros versículos deste livro profético, observamos aspectos valiosos sobre o chamado para a obra profética.


1. O chamado profético faz parte do projeto soberano e eterno de Deus – “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci... e te consagrei” (Jr 1.5).
Antes de mais nada, não tem a ver com capacitação intelectual, nem qualificações pessoais, carisma, poder de persuasão ou temperamento atraente, mas com o propósito de chama de Deus. “Deus não chama os capacitados, mas capacita os chamados”. Quando ele chama alguém, ele dá condições para o chamado, mesmo quando seus escolhidos se pareçam escória humana aos sábios e poderosos.


2. O chamado profético gera temor – “Então, lhe disse eu: ah! Senhor Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança.” (Jr 1.6).
Não é o primeiro e nem será o último a ter um sentimento de medo, diante da compreensão do chamado. Jeremias se sente enfraquecido e assustado. Ele olha para seu tamanho e o compara com o tamanho do chamado. Percebe que sua mensagem é muito maior que o mensageiro, e a tarefa maior que a do obreiro. E treme!
Talvez Jeremias tivesse um pouco de timidez, ou dificuldade para se expressar em público. Ele se sente uma criança assustada diante de pessoas grandes (Jr 1.6). Sabe que não é um projeto de adrenalina. Muitos profetas foram impopulares e não poucos tiveram suas cabeças decepadas.


3. O chamado profético tem um duplo desafio – “Mas o Senhor me disse: Não digas: não passo de uma criança; porque a todos a quem eu te enviar irás; e tudo quanto eu te mandar falarás”.” (Jr 1.7).


O desafio é duplo:
a. Ir, a quem Deus enviar;
b. Falar, a quem Deus mandar.


Ir a quem Deus enviar
Profeta não escolhe seu público, nem determina seu campo, mas é designado para onde Deus quer que ele vá. Um dos princípios da missiologia é que Deus antecede o missionário no campo. É bom saber isto, e é isto que sustenta a tarefa do obreiro. Ele precisa ter consciência de que Deus o enviou para aquele campo, e isto é bastante.
Determinados campos são duros, árduos e inóspitos. O desafio é muito grande. São centros urbanos marcados pela violência, oposição, ameaça; são regiões distantes onde há pouco recurso, difícil acesso. A verdade é que existem muitos campos sem obreiros e muitos obreiros sem campo. Mas Jesus disse que deveríamos rogar ao Pai que enviasse obreiros para a seara. Ele não falou que havia falta de campos, mas falta de obreiros.
Aquele que tem senso da vocação profética, deveria perguntar se está disposto a ir onde o Senhor da seara enviar.
O profeta Jonas é um exemplo negativo do que estamos falando.
Ele não tinha crise de vocação profética, mas tinha crise etnocêntrica. Seu problema é que ele não queria ir a qualquer lugar, ele possuía uma geografia definida no coração. Antes de ser enviado a Ninive, já havia recebido outras mensagens de Deus e fora fiel na sua tarefa, no entanto, ao ser designado para pastorear a primeira igreja presbiteriana de Ninive, ele se assustou com a tarefa, recuou, e preferiu desobedecer. Seu problema não foi a mensagem (conteúdo), mas a tarefa para missionar em campos fora de sua predileção.
Deus diz a Jeremias que ele deveria estar pronto a ir “a todos a quem eu te enviar” (Jr 1.7). Será que estamos prontos para tal tarefa?


Falar, o que Deus mandar
Este é outro aspecto que faz parte do duplo desafio profético. Falar o que Deus mandar.
Profeta eram chamados no Antigo Testamento de “bocas de Deus”. Eles eram o arauto das notícias dos céus. E nem sempre tais notícias eram agradáveis.
Dois riscos devem ser evitados: falar o que eu gosto de falar e falar o que as pessoas gostam de ouvir.
No primeiro, é necessário reconhecer que há temas pesados. O próprio jesus ouviu a reclamação de alguns de seus discípulos que lhe disseram: “Duro é este discurso, quem o pode ouvir?” (Jo 6.60), e por isto o abandonaram.
Lembro-me que resolvi pregar expositivamente todo o livro de Romanos, mas me esqueci da complexidade do capitulo 9, dos decretus horribilis. Ele é composto de uma mensagem forte sobre predestinação, tema pesado para um domingo a noite. Confesso que hesitei, mas tive o seguinte pensamento: eu não posso deixar de pregar aquilo que Deus queria comunicar aos homens. E assim preguei o texto bíblico, mostrando a seriedade e a benção de sermos chamados por Deus.
Ultimamente tenho dito à igreja que eu não me preocupo quando tenho que dizer coisas duras, porque eu trabalho no ministério de comunicação, que fica no primeiro andar. Deus está no segundo andar, o ministério da justiça, mas eu foi comissionado para o andar de baixo. Portanto, minha tarefa é apenas comunicar o que o alto comando ordena. Afinal, “O que se espera do despenseiro, e]é que ele seja achado fiel” (1 Co 4.2).
Despenseiro é aquele que tem a responsabilidade do almoxarifado, ele tem acesso aos depósitos do rei. Ele deve distribuir as provisões com fidelidade. É isto que seu senhor espera dele. Por isto Paulo afirma aos presbíteros de Éfeso: “Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20.27).
No segundo, não devemos falar apenas o que as pessoas querem ouvir, mas sim o que Deus mandar.
Temos tido pregadores falando de temas politicamente corretos, e por isto se tornando ambíguos na comunicação da mensagem. Isto o faz ser inseguro e tímido, ter medo de declarar: “Assim diz o Senhor!”, porque fala com insegurança. Muitos temas exigem um veredito e devemos nos preocupar em honrar a Deus, mesmo que venhamos a desagradar as pessoas.
Na exortação de Paulo a Timóteo, Paulo afirma: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não; corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina. Pois haverá empo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2 Tm 4.2-4).
Deus afirma a Jeremias: “A todos a quem eu te enviar, irás; e tudo quanto eu te mandar, falarás”. O chamado profético inclui estes dois elementos: disposição para ir onde e a quem o Senhor enviar; e a disposição para falar tudo quanto Deus mandar.
4. O chamado profético está firmado na unção profética – “Depois, estendeu o Senhor a mão, tocou-me na boca e o Senhor me disse: Eis que ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr 1.9).
Para o exercício da vocação é necessário chamado e unção. O chamado é esta impulsão profunda de Deus no coração; a unção é a graça especial para realização deste chamado. Um aspecto está ligado ao outro.
Deus toca a boca de Jeremias. De sua boca deveria sair a palavra, repleta de esperança e denuncia, proclamação e juízo. Ela deveria estar interpenetrada da unção, para sua efetividade. Não se tratava de mero conteúdo, mas palavra acompanhada como fogo. É fácil falar e pregar, mas apenas o toque de Deus no lábio do mensageiro seria capaz de efetuar os propósitos divinos de sua palavra para a história.
Esta unção é necessária porque a palavra tem dois objetivos: um negativo e outro positivo. A palavra tem um efeito dialético: Arrancar e derrubar; destruir e arruinar; edificar e plantar.


A mensagem não age em apenas uma direção: ela constrói e destrói. Assim como o sol que derrete a cera e endurece o barro. A palavra vai atingir pessoas desanimadas, e trazer animo e alento; vai penetrar em corações desesperançados e trazer graça e segurança, mas ao mesmo tempo vai atingir aqueles que estão se sentindo seguro, tendo falsa impressão de bem estar, e desestruturá-los. Ela segue na direção dos soberbos e denuncia. A Palavra tem poder de arrancar e derrubar; destruir e arruinar; edificar e plantar.
Paulo afirma que o Evangelho traz o aroma de vida para vida e cheiro de morte para morte (2 Co 2.15-16). O que significam tais palavras? Quando pregamos fielmente a Palavra, muitos serão salvos por a aceitarem, e serão libertos da opressão do diabo e resgatados do inferno e da condenação, enquanto outros, ao ouvirem a mensagem, resistirão à mesma, se oporão, e não darão crédito à verdade para salvação. Então, ao rejeitarem a verdade, tornam-se ainda mais culpados, porque tendo a oportunidade de acatarem a salvação, eles a recusam, trazendo sobre si mesmo, mais condenação.
Apesar do desejo de Deus de que todos se convertam e sejam salvos, muitas vezes a Palavra se torna denúncia. No dia do juízo final, aqueles que rejeitaram a palavra da salvação serão julgados por desprezarem e rejeitarem esta grande salvação (Hb 2.3).
Então, a mensagem arranca ou edifica, destrói ou constrói. Traz aroma de vida para vida, e cheiro de morte para a morte.


Conclusão


Quando Deus conclui o chamado profético de Jeremias, ele lhe dá a visão da vara de amendoeira. Esta árvore é bem conhecida na Galiléia, porque é a primeira a dar sinal da primavera, é a primeira a brotar. É um anúncio de que a primavera está chegando. Ela é fiel no seu anúncio, e as pessoas se alegravam porque o inverno estava acabando.


Deus está afirma: “Viste bem, porque eu velo sobre a minha palavra para a cumprir” (Jr 1.12).


Esta era a garantia que Jeremias precisava.
Nenhuma palavra de Deus vai se perder, nenhuma vai cair no esquecimento. “Se ele prometeu, ele há de cumprir, e se ele falou, é certo que fará”. “Passarão os céus e a terra, mas a minha Palavra não há de passar”. O que Deus falou, isto se dará. Se não acontecer, é porque não foi Deus quem falou.
Tal é a natureza da mensagem que anunciamos. A ciência muda, um alimento que hoje causa males amanhã será um santo remédio; uma determinada receita de hoje pode ser uma droga amanhã. Os homens mudam conceitos e valores. Mas a palavra de Deus não muda.
Antes de iniciar sua tarefa profética, Jeremias precisava saber que Deus vela sobre sua palavra. Talvez poucas coisas hoje sejam tão necessárias para os pregadores, que a convicção de que a Palavra de Deus não voltará vazia, e que não cairá nem um i, nem um til, sem que tudo se cumpra. Vivemos dias de insegurança, instabilidade e questionamentos. Não podemos deixar de ter esta santa convicção de que estamos lidando com coisas profundas e sérias.

Aleluia!

Rev. Samuel Vieira

terça-feira, 14 de julho de 2015

Porque o Mundo Não O Pode Receber


por
A. W. Tozer

"O Espírito da Verdade que o mundo não pode receber" (João 14:17)

A fé cristã, baseada no Novo Testamento, ensina o completo contraste entre a igreja e o mundo.
Não é mais do que um lugar comum religioso dizer que o problema conosco hoje é que procuramos construir uma ponte sobre o abismo que há entre duas coisas opostas, o mundo e a igreja, e realizamos um casamento ilícito para o qual não há autorização bíblica. Na verdade, nenhuma união real entre o mundo e a igreja é possível. Quando a igreja se junta com o mundo, já não é mais a igreja verdadeira, mas apenas um detestável produto misturado, um objeto de gozação e desprezo para o mundo, e uma abominação para o Senhor.
A obscuridade em que muitos (ou deveríamos dizer a maioria dos?) crentes andam hoje não é causada por falta de clareza da parte da Bíblia. Nada poderia ser mais claro do que os pronunciamentos das Escrituras sobre a relação do cristão com o mundo. A confusão que campeia nessa matéria resulta da falta de disposição de cristãos professos para levar a sério a Palavra do Senhor. O cristianismo está tão emaranhado no mundo que milhões nunca percebem quão radicalmente abandonaram o padrão do Novo Testamento. A transigência está por toda parte. O mundo está suficientemente caiado, encobrindo as suas faltas, para passar no exame feito por cegos que posam como crentes; e esses mesmos crentes estão eternamente procurando obter aceitação da parte do mundo. Mediante mútuas concessões, homens que a si mesmos se denominam cristãos manobram para ficar bem como homens que para as coisas de Deus nada têm, senão mudo desprezo.
Toda esta questão é espiritual, em sua essência. O cristão é o que não é por manipulação eclesiástica, mas pelo novo nascimento. É cristão por causa de um Espírito que nele habita. Só o que é nascido do Espírito é espírito. A carne nunca pode converter-se em espírito, não importa quantos homens considerados dignos da igreja nela trabalhem. A confirmação, o batismo, a santa comunhão, a profissão de fé - nenhum destes, nem todos estes juntos, podem transformar a carne em espírito, e tampouco podem fazer de um filho de Adão um filho de Deus. "E, porque vós sois filhos", escreveu Paulo aos gálatas, "enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.". E aos coríntios, ele escreveu: "Examinai-vos a vós mesmos, se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados". E aos romanos: "Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vós. E se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele".
A terrível zona de confusão tão evidente em toda a vida da comunidade cristã, poderia ficar esclarecida num só dia, se os seguidores de Cristo começassem a seguir a Cristo em vez de uns aos outros. Pois o nosso Senhor foi muito claro em Seu ensino sobre o cristão e o mundo.
Numa ocasião, depois de receber não solicitado e carnal conselho de irmãos sinceros, mas não esclarecidos, o nosso Senhor respondeu: "O meu tempo ainda não chegou, mas o vosso sempre está presente. Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más". Ele identificou os Seus irmãos na carne com o mundo e disse que Ele e eles eram de dois espíritos diferentes. O mundo O odiava, mas não podia odiá-los porque não podia odiar-se a si próprio. Uma casa dividida contra si mesma não subsiste. A casa de Adão tem que permanecer leal a si própria, ou se romperá. Conquanto os filhos da carne possam brigar entre si, no fundo estão unidos uns aos outros. É quando o Espírito de Deus entra, que entra um elemento estrangeiro. "Se o mundo vos odeia", disse o Senhor aos Seus discípulos, "sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia.". Paulo explicou aos gálatas a diferença entre o filho escravo e o livre: "Como, porém outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora" (Gálatas 4:29).
Assim, através do Novo Testamento inteiro, é traçada uma aguda linha entre a igreja e o mundo. Não há meio termo. O Senhor não reconhece nenhum bonzinho "concordar para discordar" para que os seguidores do Cordeiro adotem os procedimentos do mundo e andem pelo caminho do mundo. O abismo que há entre o cristão e o mundo é tão grande como o que separou o rico de Lázaro. E, além disso, é o mesmo abismo, isto é, é o abismo que separa o mundo, dos resgatados do mundo; do mundo, dos que continuam caídos.
Bem sei, e o sinto profundamente quão ofensivo esse ensino deve ser para aquele bando de mundanos que mói e remói o rebanho tradicional. Não posso alimentar a esperança de escapar da acusação de fanatismo e intolerância que, sem dúvida, lançarão contra mim os confusos religionistas que procuram fazer-se ovelhas por associação. Mas bem podemos encarar a dura verdade de que os homens não se tornam cristãos associando-se com gente de igreja, nem por contato religioso, nem por educação religiosa; tornam-se cristãos somente por uma invasão da sua natureza, invasão feita pelo Espírito de Deus por ocasião do novo nascimento. E quanto se tornam cristãos assim, imediatamente passam a ser membros de uma nova geração, uma "raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus ... que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia" (I Pedro 2:9,10).
Com os versículos citados, não houve desejo de os citar fora do contexto, nem de focalizar a atenção num lado da verdade para desviá-lo de outro. O ensino desta passagem forma completa unidade com toda a verdade do Novo Testamento. É como se tirássemos um copo de água do mar. O que tiraríamos não seria toda a água do oceano, mas seria uma amostra real e em perfeito acordo como o restante.
A dificuldade que nós cristãos contemporâneos enfrentamos não é a de entender mal a Bíblia, mas a de persuadir os nossos indóceis corações a aceitarem as suas claras instruções. O nosso problema é conseguir o consentimento das nossas mentes amantes do mundo para termos Jesus como Senhor de fato, bem como de palavra. Pois uma coisa é dizer, "Senhor, Senhor", e outra completamente diferente é obedecer aos mandamentos do Senhor. Podemos cantar, "Coroai-O Senhor de todos", e regozijar-nos com os agudos e sonoros tons do órgão e com a profunda melodia de vozes harmoniosas, mas ainda não teremos feito nada enquanto não abandonarmos o mundo e não fizermos os nosso rostos na direção da cidade de Deus na dura realidade prática. Quando a fé se torna obediência, aí é de fato fé verdadeira.
O espírito do mundo é forte, e gruda em nós tão entranhadamente como cheiro de fumaça em nossa roupa. Ele pode mudar de rosto para adaptar-se a qualquer circunstância e assim enganar muito cristão simples, cujos sentidos não são exercitados para discernir o bem e o mal. Ele pode brincar de religião com todas as aparências de sinceridade. Ele pode ter acessos de sensibilidade de consciência , e até pode confessar os seus maus caminhos pela imprensa pública. Ele louvará a religião e bajulará a igreja por seus fins. Ele contribuirá para as causas de caridade e promoverá campanha para distribuir roupas aos pobres. Basta que Cristo guarde distância e que nunca afirme o Seu senhorio sobre ele. Positivamente isso não durará. E para com o verdadeiro Espírito de Cristo, só mostrará antagonismo. A imprensa do mundo (que é seu real porta-voz) raramente dará tratamento justo a um filho de Deus. Se os fatos a compelem a uma reportagem favorável, o tom tende a ser condescendente e irônico. Ressoa nela a nota de desdém.
Tanto os filhos deste mundo como os filhos de Deus foram batizados num espírito, mas o espírito do mundo e o Espírito que habita nos corações dos homens nascidos duas vezes, acham-se tão distanciados um do outro com o céu do inferno. Não somente são o completo oposto um do outro, mas também estão em extremo combate um contra o outro, e em agudo antagonismo um contra o outro. Para um filho da terra as coisas do Espírito são, ou ridículas, caso em que ele se diverte, ou sem sentido, caso em que ele se aborrece. "Ora, o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente."
Na Primeira Epístola de João duas palavras são empregadas uma e outra vez, as palavras eles e vós, e elas designam dois mundos totalmente diversos; vós refere-se aos escolhidos, que deixaram tudo para seguir a Cristo. O apóstolo não se põe genuflexo, de joelhos, ante o deusote Tolerância (cujo culto se tornou na América uma espécie de religião de segunda capa); João é grosseiramente intolerante. Ele sabe que a tolerância pode ser simplesmente outro nome para a indiferença. Exige-se vigorosa fé para aceitar o ensino do experimentado João. É muito mais fácil apagar as linhas de separação e, assim, não ofender ninguém. Generalidades piedosas e o emprego de nós para significar tanto cristãos como descrentes, é muito mais seguro. A paternidade de Deus pode ser ampliada para incluir toda gente, desde Jack, o Estripador, até Daniel, o Profeta. Assim, ninguém fica ofendido e todos se sentem banhados e prontos para o céu. Mas o homem que se reclinara sobre o peito de Jesus não foi enganado assim tão facilmente. Ele traçou uma linha para dividir em dois campos a raça humana, para separar dos salvos os perdidos, dos que se afundarão no desespero final os que subirão para a recompensa eterna. De um lado estão eles — aqueles que não conhecem a Deus; de outro, vós (ou, com uma mudança de pessoa, nós), e entre ambos está um abismo moral largo demais para qualquer homem atravessar.
Eis aqui o modo como João o declara: "Filhinhos, vós sois de Deus, e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo. Eles procedem do mundo; por essa razão falam da parte do mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro". Uma linguagem como esta é clara demais para confundir qualquer pessoa que honestamente queira conhecer a verdade. Nosso problema não é de entendimento, repito, mas de fé e obediência. A questão não é teológica: Que é que isto ensina?
É moral: Estou disposto a aceitar isto e arcar com as conseqüências? Posso agüentar o olhar frio? Tenho coragem de enfrentar os acerbos ataques movidos pelos modernistas? Ouso provocar o ódio dos homens que se sentirão apontados por minha atitude? Tenho suficiente independência mental para desafiar as opiniões da religião popular e de acompanhar um apóstolo? Ou, em resumo, posso persuadir-me a tomar a cruz com o seu sangue e com o seu opróbrio?
O cristão é chamado para ficar separado do mundo, mas precisamos ter certeza de que sabemos o que queremos dizer (ou, mais importante, o que Deus quer dizer) com o mundo. É provável que o façamos significar alguma coisa externa apenas, perdendo, assim, o seu significado real. Teatro, cartas, bebidas, jogos — estas coisas não são o mundo; são simples manifestações externas do mundo. A nossa luta não é apenas contra os procedimentos do mundo, mas contra o espírito do mundo. Porquanto o homem, salvo ou perdido, essencialmente é espírito. O mundo, no sentido neotestamentário do termo, é simplesmente a natureza humana não regenerada onde quer que esta se encontre, quer no bar, quer na igreja. O que quer que brote da natureza decaída, ou seja edificado sobre ela ou dela receba apoio, é o mundo, seja moralmente vil ou moralmente respeitável. Os antigos fariseus, a despeito da sua zelosa dedicação à religião, eram da própria essência do mundo. Os princípios espirituais sobre os quais eles construíram o seu sistema foram retirados, não do alto, mas de baixo. Eles empregaram contra Jesus as táticas dos homens. Subornavam os homens para dizerem mentiras em defesa da verdade. Para defender Deus, agiam como demônios. Para proteger a Bíblia, desafiavam os ensinamentos da bíblia. Eles sabotavam a religião para salvá-la. Davam rédeas soltas ao ódio cego em nome da religião do amor. Vemos aí o mundo com todo o seu cruel desafio a Deus. Tão feroz foi esse espírito, que não descansou enquanto não levou à morte o próprio Filho de Deus. O espírito dos fariseus era ativa e maliciosamente hostil ao Espírito de Jesus, pois cada qual era uma espécie de destilação de ambos os respectivos mundos dos quais provinham.
Os mestres atuais que situam o Sermão do Monte nalguma outra dispensação que não esta e, assim, liberam a igreja do seu ensino, mal percebem o mal que fazem. Pois o Sermão do Monte dá em resumo as características do Reino dos homens regenerados. Os bem-aventurados pobres que choram seus pecados e têm sede de justiça são verdadeiros filhos do Reino. Com mansidão mostram misericórdia para com os seus inimigos; com sincera simplicidade contemplam a Deus; rodeados de perseguidores, abençoam, e não amaldiçoam. Com modéstia escondem as suas boas obras e com paciência aguardam a visível recompensa de Deus. Livremente renunciam aos seus bens terrenos, em vez de usar a violência para protegê-los. Eles acumulam os seus tesouros no céu. Evitam os elogios e esperam o dia da prestação final de contas para saber quem é maior no Reino do céu.
Se esta é uma visão bem precisa das coisas, que podemos dizer quando cristãos disputam entre si lugar e posição? Que podemos responder quando os vemos famintamente procurando homenagens e louvor? Como podemos desculpar a paixão por publicidade, tão claramente evidente entre os líderes cristãos? Que dizer da ambição política nos círculos cristãos? E das febris mãos estendidas para mais e maiores "oferendas de amor"? Que dizer do desavergonhado egoísmo entre os cristãos? Como explicar o grosseiro culto do homem que habitualmente infla um ou outro líder popular dando-lhe somas endinheiradas, beijo dado por aqueles que se propõe como fiéis pregadores do Evangelho?
Há só uma resposta a essas perguntas, é simplesmente que nessas manifestações vemos o mundo, e nada senão o mundo. Nenhuma apaixonada declaração de "amor" às "almas" pode transformar o mal em bem. Estes são os mesmos pecados que crucificaram Jesus.
Também é verdade que as mais grosseiras manifestações da natureza humana decaída fazem parte do reino deste mundo. Diversões organizadas com ênfase em prazeres frívolos, os grandes impérios edificados em hábitos viciosos e inaturais, o irrestrito abuso dos apetites normais, o mundo artificial denominado "alta sociedade" - todas estas coisas são do mundo. Todas fazem parte daquilo de que a carne consiste, daquilo que se edifica sobre a carne e que há de perecer com a carne. E dessas coisas o cristão deve fugir. Todas essas coisas ele tem que pôr para trás e nelas não deve tomar parte. Contra elas deve pôr-se serena, mas firmemente, sem transigência e sem temor.
Portanto, que o mundo se apresente em seus aspectos mais feios, quer em suas formas mais sutis e refinadas, devemos reconhecê-lo pelo que ele é, e repudiá-lo categoricamente. Precisamos fazer isso, se é que desejamos andar com Deus em nossa geração como Enoque o fez na sua. Um rompimento puro e simples com o mundo é imperativo. "Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus" (Tiago 4:4). "Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo" (I João 2:15,16). Estas palavras de Deus não estão diante de nós para nossa consideração; estão aí para nossa obediência, e não temos direito de nos entitular-mos cristãos se não as seguimos.
Quanto a mim, temo qualquer tipo de movimento religioso entre os cristãos que não leve ao arrependimento, resultando numa aguda separação do crente e o mundo. Suspeito de todo e qualquer esforço de avivamento organizado, que seja forçado a reduzir os duros termos do Reino. Não importa quão atraente pareça o movimento, se não se baseia na retidão e não é cuidado com humildade, não é de Deus. Se explora a carne, é uma fraude religiosa e não deve receber apoio de nenhum cristão temente a Deus. Só é de Deus aquele que honra o Espírito e prospera às expensas do ego humano. "Como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor".

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Quando não parece haver mais saída...

Conta uma antiga lenda que na Idade Média um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor era pessoa influente do reino e por isso, desde o primeiro momento procurou um bode expiatório para acobertar o verdadeiro assassino. O homem foi levado a julgamento, já temendo o resultado: a forca.
Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo desta história. O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado que provasse sua inocência.
Disse o juiz:
- Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do senhor. Vou escrever em um pedaço de papel apalavra INOCENTE e noutro pedaço a palavra CULPADO. Você sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto. O senhor decidirá seu destino. Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO, de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance do acusado se livrar da forca. Não havia saída. Não havia alternativas para o pobre homem. O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e, pressentindo a "armação", aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu.
Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem.
- Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber qual seu veredicto?
- É muito fácil, respondeu o homem. Basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o seu oposto.
Imediatamente o homem foi libertado.

MORAL DA HISTÓRIA:
Por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar até o último momento.
Outra MORAL:
Mesmo que, aparentemente, seu destino esteja sendo "direcionado", não deixe de usar o raciocínio.


Biscoitos



Certo dia uma moça estava à espera de seu vôo na sala de embarque de um aeroporto. Como ela deveria esperar por muitas horas resolveu comprar um livro para matar o tempo. Também comprou um pacote de biscoitos.Então ela achou uma poltrona numa parte reservada do aeroporto para que pudesse descansar e ler em paz, e ao seu lado sentou-se um homem.Quando ela pegou o primeiro biscoito, o homem também pegou um. Ela se sentiu indignada, mas não disse nada.Ela pensou para si: Mas que "cara de pau". Se eu estivesse mais disposta, lhe daria um soco no olho para que ele nunca mais esquecesse.A cada biscoito que ela pegava, o homem também pegava um. Aquilo a deixava tão indignada que ela não conseguia reagir.Restava apenas um biscoito e ela pensou: O que será que o "abusado" vai fazer agora?Então o homem dividiu o biscoito ao meio, deixando a outra metade para ela. Aquilo a deixou irada e bufando de raiva. Ela pegou o seu livro e as suas coisas e dirigiu-se ao embarque. Quando sentou confortavelmente em seu assento, para surpresa dela o seu pacote de biscoito estava ainda intacto, dentro de sua bolsa.Ela sentiu muita vergonha, pois quem estava errada era ela, e já não havia mais tempo para pedir desculpas. O homem dividira os seus biscoitos sem se sentir indignado, enquanto que ela tinha ficado muito transtornada.

CORONEL JOÃO DOURADO (1854-1927)

Alderi Souza de Matos João da Silva Dourado nasceu em Caetité, sul da Bahia, no dia 7 de janeiro de 1854. Era filho de João José da Silva Do...